Nesta semana acontece no Expo Center Norte, em São Paulo, a Brasil Game Show 2017, a mais importante feira de games do país. Anualmente, diversos fabricantes de consoles e desenvolvedores de jogos eletrônicos apresentam seus principais lançamentos para a temporada no evento. A feira existe desde 2009 e nos últimos anos vem ganhando cada vez mais importância e força por aqui. Por um lado, pelos blogs e sites especializados que sempre estão presentes; por outro, pela cobertura televisiva que vem crescendo a cada edição.

E se hoje podemos nos informar sobre as novidades do mercado de games por meio da TV, em um passado não tão distante não era assim. Na década de 80 e meados dos anos 90 apenas as revistas do segmento publicavam esse tipo de informação para seus leitores. As emissoras de televisão ainda tentavam entender o fenômeno dos games e a influência que eles poderiam ter, principalmente, nas crianças. O tema era foco de matérias jornalísticas que visavam alertar os pais, não para entreter os filhos.
Mas o que nem todo mundo sabe é que os primeiros programas da TV brasileira sobre games foram realizados pela Tectoy, representante da Sega no Brasil. A empresa de eletrônicos que completa 30 anos em 2017 apostou em parcerias com as maiores emissoras do país para divulgar seus produtos e se aproximar dos jogadores.

No fim dos anos 80, a Nintendo dominava o mercado de jogos eletrônicos pelo mundo a fora. Com o NES, conhecido por aqui como “Nintendinho”, dominando os principais mercados do mundo, o jeito foi a Sega buscar consumidores em regiões alternativas. É neste cenário que a Sega chega ao Brasil por meio de uma parceria com a Tectoy. Para que o domínio de mercado da Nintendo não ocorresse por aqui, a empresa brasileira investiu em ideias ousadas que garantissem uma maior proximidade com o usuário.

Primeiro, a Tectoy criou no país o Master Clube, um clube de assinatura que dava direito a uma carteirinha e um newsletter mensal com dicas e novidades sobre os jogos do Master System. Logo depois, a empresa começa a adaptar alguns jogos de sucesso da Sega para o público brasileiro, traduzindo os games para a língua portuguesa e apostando em personagens bem conhecidos por aqui. Assim nasceram Mônica no Castelo do Dragão, versão do game Wonder Boy e TV Colosso, adaptação de Asterix, entre muitos outros títulos. Na sequência, implantou no Brasil uma linha telefônica exclusiva para fornecer dicas de games para seus jogadores, algo caríssimo para a época.

As estratégias deram muito certo, mas a estrutura era precária e custava demais para a empresa, principalmente, a Hot Line para esclarecer dúvidas. Logo, a Tectoy começou a considerar a ideia de investir em um ambiente que ainda não era explorado pelas empresas de games: a televisão. Apostando na TV, a Tectoy reduziria os custos da linha telefônica, atingiria um público muito mais amplo e ainda poderia tirar dúvidas dos jogadores e promover os novos jogos.

Então, a Tectoy procurou a Globo para negociar a compra de sessenta segundos diários no break comercial que antecipava a Sessão Aventura, programa popular entre os jovens e que posteriormente cedeu o horário para Malhação. A negociação não foi fácil, mas a emissora e a produtora chegaram a um acordo. Foi assim que surgiu o Master Dicas, uma espécie de programete da Tectoy que dava dicas de títulos exclusivos do Master System aos jogadores.

A ideia de se aproximar dos consumidores e estimula-los por meio da TV foi um grande sucesso. Com o faturamento em alta por conta do console da Sega, a empresa passa a anunciar cada vez mais na televisão, desta vez, também divulgando comerciais de jogos e consoles novos.

Em 1991, a Tectoy lança por aqui o Mega Drive, um console com ótima jogabilidade e maior qualidade de som e imagem em relação ao anterior. Para promover o novo console e ainda manter o Master System em alta, a empresa ousa mais uma vez e lança o Vídeo Game Show, uma versão do consagrado Vídeo Show, apresentado por Miguel Falabella, apenas sobre os games da Sega.

Veiculado uma vez por semana, o formato evoluía em relação ao primeiro projeto da Sega. Além de dar dicas de jogos, o Vídeo Game Show apresentava novos títulos para os consoles da Tectoy, tirava as dúvidas dos jogadores e ainda promovia sorteios de jogos e acessórios dos consoles da Sega.

A venda de consoles da Sega crescia muito no Brasil e a Tectoy não parava de faturar. Com tantas ações criativas em prática para divulgar seus produtos, a empresa brasileira queria interagir ainda mais com o usuário e resolveram ousar, de novo! A ideia era colocar o jogador dentro dos games de sucesso da empresa. Foi assim que em 1993 surgiu o Play Game, desta vez, fruto de uma parceria com o apresentador Gugu Liberato e o SBT.

Por meio do bom e velho chroma-key, o jogador era transportado para dentro de games como Alex Kidd in Miracle World, Sonic The Hedgehog e Streets of Rage. O programa era um game show, onde os participantes respondiam perguntas sobre os games e ainda passavam pelos estágios dos jogos mais populares da época. O programa durou pouco, menos de um ano no ar, mas marcou uma geração de crianças e adolescentes que eram fãs de games.

Novos videogames foram surgindo e a Sega foi se tornando apenas uma produtora de jogos e não mais uma desenvolvedora de consoles, o que fez com que a Tectoy fosse perdendo o protagonismo que possuía no mercado nacional e os investimentos em TV foram desaparecendo.

Ao mesmo tempo, novos programas sobre videogames foram surgindo em várias emissoras diferentes, tanto de TV aberta como de TV por assinatura, como Game TV e Hugo Game, na TV Gazeta; Stargame, no Multishow; Garganta e Torcicolo, na MTV Brasil; e G4 Brasil, na Band e Play TV. Hoje são inúmeros programas na TV sobre games – que se profissionalizaram com o passar do tempo e se tornaram até esporte. Mas é preciso reconhecer que tudo isso começou com a ousadia de uma das empresas mais inovadoras dos anos 90, que abriu caminho para essa enorme variedade de atrações sobre jogos eletrônicos na TV, a Tectoy.


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