André Santana

Fuzuê e Elas por Elas já podem ser consideradas exceções na Globo. Isso porque novelas urbanas que exploram os cartões postais do Rio de Janeiro estão ficando cada vez mais raras na programação da emissora. A ordem da vez é apostar fundo em histórias rurais e interioranas.

Marcos Palmeira como José Leôncio em Pantanal
Marcos Palmeira como José Leôncio em Pantanal (reprodução/Globo)

Terra e Paixão, cuja trama se passa no interior do Mato Grosso do Sul, é o exemplo da vez. Mas não o único. Renascer, que acontece na Bahia, e a novela que substituirá Elas por Elas – chamada internamente de Mar do Sertão 2 – reforçam a atual tendência iniciada em Pantanal (2022), estrelada por Marcos Palmeira.

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Brasil profundo

Mar do Sertão - Renato Góes e Sergio Guizé
Renato Góes e Sergio Guizé em Mar do Sertão (Reprodução / Globo)

A gestão de José Luiz Villamarim à frente da teledramaturgia da Globo vem criando uma identidade muito própria. Cada vez mais, a emissora tem priorizado tramas que se passam longe do eixo Rio-São Paulo, um cenário que costuma dominar as novelas do canal.

O sucesso do remake de Pantanal abriu caminho para essa nova era. Mar do Sertão, de Mário Teixeira, também foi considerada uma novela muito bem-sucedida. Por isso mesmo, a ordem é continuar investindo no filão.

Isso explica a decisão de cancelar O País de Alice, que originalmente substituiria Elas por Elas na faixa das seis da Globo. A trama seria assinada por Lícia Manzo, conhecida por conceber histórias urbanas calcadas em conflitos psicológicos. Em seu lugar, entra Mário Teixeira, com uma comédia interiorana e popular, aos moldes de Mar do Sertão.

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No Rancho Fundo

Vai na Fé - Bella Campos
Bella Campos como Jenifer em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

De acordo com o portal Notícias da TV, a novela das seis que substituirá Elas por Elas pode se chamar No Rancho Fundo. Internamente, ela é tratada na Globo como Mar do Sertão 2, mas a novela não será uma continuação da saga de Candoca (Isadora Cruz). Porém, ela deve seguir o mesmo estilo.

Ou seja, a produção será um romance interiorano bastante carregado no humor, fórmula que explica o sucesso de Mar do Sertão. A trama que antecedeu Amor Perfeito ficou marcada por explorar as paisagens do interior do Nordeste, ao se passar numa cidadezinha repleta de tipos clássicos e carismáticos.

Personagens como Timbó (Enrique Diaz) e Sabá Bodó (Welder Rodrigues) caíram nas graças do público e garantiram o sucesso da novela. Mar do Sertão também registrou audiência satisfatória e repercutiu bem na web, além de ter sido elogiada por abrir espaço a atores nordestinos.

Por isso, No Rancho Fundo repetirá a fórmula. A direção artística também será a mesma de Mar do Serão, a cargo de Allan Fiterman. Bella Campos já está confirmada como a protagonista.

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Interior na tela

Guerreiros do Sol
Guerreiros do Sol (Divulgação / Globo)

Em suma: a troca de O País de Alice por No Rancho Fundo revela muito dos atuais planos da Globo para sua teledramaturgia. Mais do que tramas populares, o canal vem buscando histórias que promovam uma variação de cenários e sotaques.

Tanto que, além das já citadas Terra e Paixão e Renascer, a emissora também já tem engatilhada Guerreiros do Sol, novela que está sendo produzida para o Globoplay, e que tem o cangaço como pano de fundo.

Com isso, a gestão de José Luiz Villamarim deve deixar duas marcas: é a era das tramas interioranas e, também, a era dos remakes. É um novo tempo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor