Quando entrou no ar, em junho de 2008, A Favorita instigou o público com uma dúvida cruel. A trama de João Emanuel Carneiro trazia duas protagonistas, mas não revelava, de cara, quem era a mocinha e quem era vilã. Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) se acusavam mutuamente: uma insistia que a outra era uma assassina. Quem estava falando a verdade?

A Favorita

Na trama, Flora passou 20 anos na prisão acusada de matar Marcelo (Flavio Tolezani), seu amante e marido de Donatela. Ao cumprir a pena, ela sai da cadeia disposta a provar sua inocência. Flora insiste que Donatela é a culpada, e que manipulou seu julgamento para se safar. Já Donatela faz de tudo para manter Flora longe, sobretudo de Lara (Mariana Ximenes), filha de Flora que foi criada por ela.

O enigma foi tão bem implantado que o público até considerou a hipótese de que as duas eram inocentes, e que havia uma terceira pessoa que as manipulava.

Além disso, a trama de A Favorita brincava com esta dualidade. Flora parecia inocente, mas, ao mesmo tempo, tomava atitudes que não condiziam com esta inocência. Por outro lado, Donatela parecia vilã, graças ao seu jeito brusco e a maneira como tentava afastar Flora.

A Favorita

A dúvida ficou na cabeça da audiência até o capítulo 56, quando Flora e Donatela ficam frente a frente. No reencontro, as duas passam sua relação a limpo, e Flora diz em alto e bom som que é uma assassina. Já Donatela se torna vítima da vilã. Numa armação muito bem arquitetada, Flora faz todos acreditarem que Donatela é uma assassina, obrigando-a a se tornar uma fugitiva da polícia.

Sem segredos

A Favorita

Na reprise, este segredo não terá a mesma força, claro! Em 2008, assim que Flora assume ser a assassina, a personagem de Patrícia Pillar se torna uma vilã clássica, daquelas que o público ama odiar. Terrível e, ao mesmo tempo, sarcástica, a megera é alçada ao seleto grupo de grandes vilãs da teledramaturgia brasileira.

Ou seja, a “fama” de Flora malvada chega intacta aos dias de hoje. Portanto, a volta de A Favorita no Vale a Pena Ver de Novo dá uma nova perspectiva à trama de João Emanuel Carneiro. Como o público enxergará a trama já sabendo que Flora mente o tempo todo?

A Favorita

O interessante será observar o quanto as atitudes suspeitas de Flora e Donatela se tornam compreensíveis quando já se sabe quem é quem. Flora se mostra fria e calculista todo o tempo e, portanto, é muito convincente quando faz cara de inocente.

Já Donatela realmente toma atitudes que não condizem com uma mocinha, mas ela o faz com uma razão muito clara: ela sabe quem é Flora e tenta, a todo custo, mantê-la longe de Lara. É seu amor pela filha adotiva que a faz tomar atitudes questionáveis todo o tempo.

Retorno

Os Mutantes

A Favorita estreia no Vale a Pena Ver de Novo na próxima segunda-feira (16). A reprise, então, já virá com uma nova proposta, já que o segredo inicial da trama já não é uma novidade. O público será convidado a ingressar nesta saga já sabendo quem é quem.

Em sua primeira exibição, A Favorita demorou a engrenar. Nesta primeira etapa, quando não se sabia quem era a vilã, a trama acabou despertando alguma estranheza no público, que não se envolveu de cara. Além disso, a Record vinha forte com Os Mutantes – Caminhos do Coração, que se tornou um fenômeno e era exibida no mesmo horário.

A Favorita

No entanto, aos poucos, A Favorita foi conquistando a audiência. Conforme as maldades de Flora e o sofrimento de Donatela aumentam, a trama vai angariando mais e mais fãs. Além disso, os anos que se passaram tornaram A Favorita uma novela “cult”, com fãs ardorosos. Não por acaso, foi a escolhida para abrir o projeto de resgate de novelas clássicas no Globoplay.

A Favorita foi também o “embrião” de Avenida Brasil, obra mais festejada de João Emanuel Carneiro. O autor revelou que foi a partir de Flora que surgiu a ideia de criar uma mocinha que tomava atitudes de vilã para se vingar de uma inimiga ainda mais cruel, criando a rivalidade entre Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves). E o resto é história!

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor