“Tudo é incerto, menos o amor de mãe”. A frase, adaptada do romancista e poeta James Joyce (1882/1941) —- “Tudo é incerto neste mundo hediondo, mas não o amor de uma mãe” é a frase original —-, foi a premissa da nova novela das nove da Globo, que marcou a estreia de Manuela Dias como autora solo. E, por conta dessa afirmação, ficou bem claro que o enredo abordaria uma visão mais romanceada da maternidade. Com a dura missão de manter os elevados índices do grande sucesso “A Dona do Pedaço”, a trama, dirigida por José Luiz Villamarim e fotografia de Walter Carvalho, estreou há exatamente um ano, em 25 de novembro de 2019, com um emocionante primeiro capítulo, que marcou 35,4 pontos no Ibope.

Regina Casé, Taís Araújo e Adriana Esteves vivem Lurdes, Vitória e Thelma, mulheres que exercem a maternidade em sua plenitude, cada uma à sua maneira. Apesar de viverem em realidades diferentes, com trajetórias distintas, a vida das três se entrelaça ao longo do enredo. Uma proposta parecida com “Justiça”, da mesma autora —- quatro pessoas eram presas por crimes que cometeram em momentos de fúria e ao longo da história tinham suas vidas cruzadas. O trio protagonista foi bem apresentado na estreia através de breves flashbacks e dramas no presente.

Lurdes é babá e mãe de cinco filhos, sendo que um deles não foi criado ao seu lado. Ela busca um novo emprego e consegue uma entrevista na casa de Vitória, uma advogada bem-sucedida que, com a iminência da chegada do filho que pretende adotar, precisa de uma babá. Vitória perdeu um bebê aos seis meses de gestação e não conseguiu superar o trauma.

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Foi durante a conversa com Vitória que Lurdes lembra de seu passado em Malaquias, cidade fictícia do Rio Grande do Norte, onde o marido Jandir (Daniel Ribeiro) vendeu o filho Domênico quando ela estava no hospital dando a luz à filha caçula. Foi por isso que a mulher veio para o Rio de Janeiro e acabou ficando —- criando os filhos Magno (Juliano Cazarré), Ryan (Thiago Martins), Érica (Nana Costa) e Camila (Jéssica Ellen).

O primeiro capítulo usou a entrevista de emprego para apresentar o trauma de Lurdes e ligá-la no presente com Vitória e Thelma. A forma como tudo foi feito primou pela engenhosidade dramatúrgica. Lucy Alves emocionou na pele de Lurdes mais jovem e a cena em que a personagem matou o marido acidentalmente, logo depois que o marido confessou a venda do filho e tentou estuprá-la, impactou.

E Regina Casé estava impecável vivendo a batalhadora mulher. Após o elo estabelecido com Vitória na entrevista — incluindo uma conversa sobre filhos, que fez a advogada lembrar da perda de seu bebê em um traumático julgamento —-, Lurdes se desesperou ao ver Thelma passando mal na rua e a ajudou. As duas foram a um hospital e lá descobriram que Thelma tem um aneurisma cerebral inoperável. A triste notícia acabou criando um vínculo entre ambas.

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O enlace das três protagonistas foi concluído quando Vitória tenta convencer Thelma a vender seu restaurante para Álvaro (Irandhir Santos), seu cliente milionário, e acaba transformando a dona em sua inimiga quando usa o aneurisma como argumento para o negócio. Lurdes ficou em uma saia justa, pois gosta de ambas.

Mas, voltando ao primeiro capítulo, a direção de José Luiz Villamarim logo sobressaiu em um plano sequência ótimo envolvendo Magno (Juliano Cazarré) andando no meio de um trânsito caótico. O filho mais velho de Lurdes chegou a dar uma informação a Vitória. O seu drama com a esposa em coma e a filha doente (Arieta Correa e Clara Galinari, respectivamente) também foi brevemente exposto em uma cena com a enfermeira Betina, vivida por Isis Valverde.

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E a cena mais emocionante da estreia foi protagonizada por Regina Casé e Jéssica Ellen, quando Camila homenageou sua mãe em um lindo discurso da sua formatura como professora de História. A personagem enalteceu os professores, a educação no país e reconheceu o esforço que Lurdes fez para criá-la — a menina foi encontrada abandonada e logo adotada.

Já a abertura da novela é simples, mas bonita, ao som do clássico “É”, de Gonzaguinha, de 1988. “O Que É Que Há?”, de Fábio Jr.; “Minha Mãe”, de Gal Costa e Maria Bethânia; “Onde Estará o Meu Amor?”, de Maria Bethânia; e “Todo Homem”, de Caetano Veloso e filhos, são alguns outros clássicos da trilha.

“Amor de Mãe” teve uma estreia com forte carga dramática e protagonistas que prometeram arrancar muitas lágrimas dos telespectadores. Manuela Dias utilizou a fórmula da bem-sucedida “Justiça” para o desenvolvimento da premissa de sua primeira novela e esse início provocou a melhor das impressões. Infelizmente, a novela foi interrompida por conta da pandemia do novo coronavírus, mas terá a chance de ser concluída dignamente no início de 2021.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor