André Santana

Criador de mocinhas de sucesso, como Catarina (Adriana Esteves), de O Cravo e a Rosa (2000), e Clara (Bianca Bin), de O Outro Lado do Paraíso (2017), Walcyr Carrasco não foi feliz na concepção de Aline, a heroína de Terra e Paixão. A atriz Barbara Reis é ótima, mas sua personagem não tem força suficiente para empolgar o público.

Barbara Reis e Agatha Moreira em Terra e Paixão
Aline (Barbara Reis) e Graça (Agatha Moreira) em Terra e Paixão (Divulgação / Globo)

Foram vários os erros do autor que minaram qualquer possibilidade de Aline cair nas graças da audiência. A trajetória irregular da personagem faz com que os espectadores não se identifiquem e nem torçam por ela.

A seguir, confira quatro falhas na construção da personagem que colaboraram para o fiasco da mocinha de Terra e Paixão junto à plateia da novela das nove da Globo.

[anuncio_1]

Amores voláteis

Terra e Paixão - Barbara Reis, Cauã Reymond e Johnny Massaro
Cauã Reymond, Barbara Reis e Johnny Massaro em Terra e Paixão (João Miguel Júnior / Globo)

O primeiro grande erro na construção de Aline foi o fato de a personagem mostrar pouco apreço pelo marido, Samuel (Ítalo Martins). O agricultor mal esquentou a tumba e sua viúva fez questão de deixar claro que nunca foi apaixonada por ele.

Depois disso, veio a paixão inexplicável por Daniel (Johnny Massaro). O casal nunca convenceu, já que eles simplesmente não combinavam. Enquanto o rapaz era fraco e dependente da mãe, a jovem mostrava ser corajosa, pois enfrentava Antônio La Selva (Tony Ramos) sem baixar a cabeça.

Além disso, Aline aceitou namorar o rapaz mesmo sabendo que ele era noivo de Graça (Agatha Moreira). Mas bastou ele morrer no desastre de carro que Aline o esqueceu num piscar de olhos, o que, mais uma vez, fez com que ela fosse vista como uma mulher pouco apegada aos seus amores.

 

[anuncio_2]

Falta de rivalidade

Irene (Gloria Pires) e Aline (Barbara Reis) em Terra e Paixão
Irene (Gloria Pires) e Aline (Barbara Reis) em Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Terra e Paixão começou com o embate entre Antônio e Aline. No entanto, a luta da professora não empolgou, muito pelo fato de ela mostrar pouco sangue nos olhos. Ela enfrentava o vilão, sim, mas não tomava atitudes para barrá-lo. Apenas desviava dos ataques.

O embate com Graça na disputa por Daniel e, depois, por Caio, também não aconteceu. Houve até uma tentativa de tornar Irene (Gloria Pires) sua grande rival, já que a vilã a culpava pela morte de Daniel. Mas nem isso foi desenvolvido. Sem uma antagonista forte, uma protagonista não brilha.

[anuncio_3]

Pouca inteligência

Bárbara Reis em Terra e Paixão
Bárbara Reis como Aline em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Aline também não foi perdoada pelo público ao tomar atitudes questionáveis. O fato de ela ter caído na conversa de Vinícius (Paulo Rocha) e assinado a procuração sem saber do que se tratava pesou muito contra ela. O pior é que Aline desconfiou do papel, mas Caio (Cauã Reymond) a convenceu a assinar e… ela assinou!

Nos mais recentes capítulos, Aline fez um belo discurso contra armas quando Gentil (Flavio Bauraqui) a presenteou com um revólver. Porém, ela não se fez de rogada e apontou a arma para Antônio na primeira oportunidade. Coerência?

Sem história

Barbara Reis e Cauã Reymond
Barbara Reis (Aline) e Cauã Reymond (Caio) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Foram tantas as mudanças em Terra e Paixão que a história de Aline acabou esvaziada. A mocinha apenas anda em círculos, sem ter a sua trama desenvolvida adequadamente.

Do início da novela pra cá, ela já escapou de um sem-número de atentados. Ela também já foi e voltou de sua cobiçada “terra vermelha” diversas vezes. E também já terminou e voltou com Caio outras tantas, a maioria das vezes sem um motivo convincente. A personagem não tem uma trajetória de evolução, o que explica o pouco apreço do público por ela.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor