Rubens Sabino Silva interpretou o traficante Neguinho no filme Cidade de Deus (2002), onde participou de uma das cenas mais lembradas da produção, ao lado de Leandro Firmino. O ator diz que, mesmo após o sucesso estrondoso do filme, foi parar na Cracolândia, nas ruas do Centro de São Paulo.

Em entrevista ao jornal Extra, Rubens também falou sobre o baixo cachê que ganhou na época.

“O filme é um dos mais vistos até hoje, foi indicado quatro vezes ao Oscar. Eu virei um morador de rua famoso, mas não rico, enquanto ‘Cidade de Deus’ arrecadou milhões. Na época, ganhei um cachê de R$ 5 mil. Com a nota do contador, passou pra R$ 4,5 mil”.

Cidade de Deus

Rubens contou como, aos 18 anos, integrou o elenco do longa-metragem. Ele andava pelas ruas da Lapa, no Centro do Rio, e viu que aconteceria um teste para Cidade de Deus na Fundição Progresso.

“Eu me inscrevi e consegui passar. Fiz laboratório com (os preparadores de elenco) Fátima Toledo e o Guti Fraga. Quem ia no ensaio ganhava vale-transporte e um lanche. (Antes,) Participei dos clipes da Deborah Blando (‘Unicamente’) e do Rappa (‘Minha alma’)”, relembrou.

Crime

O ator retornou à mídia em 2003 após roubar a bolsa de uma mulher em um ônibus na Avenida Niemeyer, Zona Sul do Rio. Na ocasião, Rubens estava sem comer há vários dias.

“Depois que eu fui preso, a produção de Cidade de Deus me embarcou para Belém do Pará e fiquei três anos internado num centro de recuperação. Como é que um ator assiste à premiação do Oscar de um filme de que ele é um dos principais dentro de uma clínica de reabilitação? Eu vi pela TV a festa acontecendo num hotel aqui do Rio, todos reunidos, e eu afastado”, enfatizou.

Documentário da Netflix

Rubens ainda participou do documentário Cidade de Deus: 10 anos depois, da Netflix.

“Fiquei muito exposto. Contei toda a minha história, me levaram na Central do Brasil, compraram uns quatro sacos de amendoim para eu revender e me deixaram na rodoviária. Fui ingênuo, continuei na mesma, pedindo esmola na rua. Não quero mais ser visto como coitadinho”, contou.

Apesar de não ter expectativas de que vá ser chamado para atuar novamente, Rubens disse que vontade não lhe falta.

“Outro dia, eu estava vendo um outdoor com as fotos de várias personalidades. Um professor, um médico, um garçom… E estava escrito assim: “Esse é o meu jeito de revidar”. O meu jeito de revidar seria fazer um monólogo ou um curta-metragem com a obra de Michel Foucault (filósofo francês). Li e me encantei por Microfísica do Poder. Todos os livros dele já são roteiros prontos, eu decorei alguns deles. Queria poder revidar tudo o que me aconteceu nessa vida com arte. Se um dia eu tiver essa força, eu vou fazer”.

“Eu ando por várias cidades do Rio, São Paulo, Minas, Sul do país. Vou pedindo esmola e que me paguem passagens. Às vezes, vou para lugares distantes, achando que ninguém vai me reconhecer. Eu não tenho casa, minha morada é o mundo. Ainda quero conhecer o Nordeste”, explicou, em entrevista ao jornal Extra.

Diretor jogou a toalha

O diretor de Cidade de Deus, Fernando Meirelles, já declarou em entrevistas que fez muito por Rubinho, dando-lhe trabalho, casa, emprego e escola, mas que o ator tem dificuldades para lidar com a dependência química. Dessa forma, ele jogou a toalha.

“Infelizmente eu esgotei os meus recursos emocionais”, declarou o diretor à Folha.

Em entrevista à Veja São Paulo, Meirelles foi além e falou sobre a dificuldade de ajudar alguém que não é da família.

“Perdemos o contato e a motivação para ajudá-lo. Se é complicado tirar um filho de uma situação desta, imagine alguém que não é tão próximo”, concluiu.

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