A Lei do Amor acaba em abril, ou seja, falta cerca de um mês para o seu fim. Mas a novela parece ter acabado desde a morte de Fausto (Tarcísio Meira). Depois que o patriarca da família Leitão se vingou de Magnólia (Vera Holtz), sofrendo um infarto fulminante pouco tempo depois, a história não demorou para se esgotar e perder o rumo completamente. Vale citar, claro, que as inúmeras mutilações no roteiro em busca de uma maior audiência contribuíram bastante para isso. Porém, ainda assim, o conjunto vem se mostrando bem frágil.

O único acontecimento relevante, exibido na semana passada, foi o flagra que Letícia (Isabella Santoni) deu em Tiago (Humberto Carrão) e Marina (Alice Wegmann), batendo no marido e na amante. A sequência mereceu elogios e, por sinal, foi a responsável pela maior audiência da novela, superando até a estreia, marcando 32 pontos. Esse irritante triângulo amoroso, inclusive, é só o que sobrou no enredo. Tirando isso não há mais nada a ser contado, evidenciando uma clara invenção de conflitos forçados para preencher o tempo dos capítulos, desfigurando até mesmo características de vários personagens.

O casal protagonista, por exemplo, foi destruído. Os mocinhos faziam parte da cota de acertos do folhetim, cuja química entre Reynaldo Gianecchini e Cláudia Abreu era incontestável. Entretanto, Pedro e Helô ficaram sem conflito e perderam o destaque que tinham.

Viraram meros coadjuvantes. Para culminar, os autores inventaram um drama raso e inverossímil para o par: um antigo amor do rapaz, que escondeu uma filha dele e voltou por causa de uma armação de Tião (José Mayer). A situação, além de ter se mostrado uma bobagem, serviu para aniquilar a personalidade dos papéis. Afinal, Helô virou uma mulher ciumenta e insegura do nada, enquanto Pedro se transformou em um sujeito capaz de trair o amor da sua vida com a ex. Essa situação, ao invés de trazer destaque para os mocinhos, serviu apenas para enfraquecer o par.

E a relação entre Tião e Magnólia se esgotou muito rapidamente. O embate entre vilão e vilã prometia, mas o contexto peca pela repetição e os dois parecem sem função depois que se juntaram. Os atores são ótimos e conseguem se destacar, porém, nada daquele contexto consegue mais ser aproveitado. Já cansou ver o canalha debochando de seu amor do passado, enquanto a matriarca dos Leitão aceita os insultos sem reagir. Aliás, a maior reação da vilã resultou em uma situação totalmente inverossímil: afinal, esfaqueá-lo na barriga e depois dizer para a polícia que ele caiu em cima da faca foi forçado demais.

A morte de Fausto provocou outro problema no enredo: a perda de função de todos os personagens da mansão, atingindo até mesmo a carismática Luciane (Grazi Massafera). A periguete sempre foi o maior êxito da novela e não por acaso roubou a cena, destacando o talento de Grazi. Ela, inclusive, protagonizava cenas hilárias ao lado de Tarcísio Meira. Mas, após o falecimento do patriarca, a personagem ficou solta no roteiro e o contexto em cima da sua ambição em ser primeira dama se mostra bem raso para o tamanho do papel. Nem mesmo a volta do senador Venturini (Otávio Augusto) – que não deveria ter sumido – melhorou o destaque de Luciane, infelizmente. Analu (Bianca Muller), o já citado Pedro, Hércules (Danilo Grangheia) e até Vitória (Camila Morgado) ficaram avulsos.

A irmã do mocinho, por sinal, agora protagoniza uma situação evidentemente inventada de última hora pelos autores. Vitória, depois de se vingar da mãe e do ex, Ciro (Thiago Lacerda) – que se regenerou, ficando também sem conflito, descobre que seu filho recém-nascido não é do ex e sim fruto de um estupro. O estuprador em questão é Leonardo (Eriberto Leão), que entrou na trama recentemente e se envolveu com Salete (Cláudia Raia) – mais uma personagem que ficou sem relevância, após seu insosso romance com Gustavo (Daniel Rocha) não ter agradado. Essa ‘descoberta’ da filha de Magnólia soa desnecessária, comprovando a criação de um conflito que nunca sequer foi cogitado na história. Uma solução nada convidativa.

Até mesmo o divertido casal formado por Antônio (Pierre Baitelli) e Ruty Raquel (Titina Medeiros) foi desfeito sem mais nem menos. Antes responsáveis por várias cenas hilárias, os dois foram perdendo destaque até ficarem em terceiro plano, sem maiores atrativos. A ideia de Maria Adelaide e Vincent foi simplesmente acabar com o par, juntando a massagista com Jáder (Érico Brás) – mais um sem função após a morte de Fausto – e o debochado rapaz com a atualmente irrelevante Jéssica (Marcela Ricca), que perdeu a importância depois que deixou de ser vilã. E Antônio ainda se envolverá com Letícia, que descobrirá a volta do seu câncer. Esse envolvimento, ao menos, servirá para destacá-lo novamente, pois ele sempre foi um dos melhores perfis do folhetim.

E o próprio mistério em torno da verdadeira identidade de Marina/Isabela já cansou, sem contar o machismo desnecessário que permeia o triângulo formado com Tiago e Letícia, onde ele é sempre a vítima indefesa, mesmo sendo um canalha. A enrolação dos autores está evidente e o mistério só será solucionado no último capítulo, com direito a três cenas gravadas secretamente. A questão é que pouco importa esse ‘grande enigma’. O contexto se esvaziou.

A Lei do Amor, lamentavelmente, ficou sem rumo e entra em seu último mês quase sem história para contar. Após tantas mudanças ao longo de sua exibição, a novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari acabou não resistindo e agora agoniza até o seu último capítulo. Resta saber se pelo menos na última semana os acontecimentos serão mais convidativos, pois é o mínimo que se espera.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor