Sem reagir, Travessia terá mesmo fim de outras novelas fracassadas
12/11/2024 às 8h11
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Já existe um movimento dentro da Globo para adiantar em um mês os trabalhos da próxima novela das nove, Terra Vermelha, de Walcyr Carrasco. Isso quer dizer que Travessia corre o risco de ser encurtada.
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A Globo, quando a lançou, sabia que a novela pegaria um período difícil: eleições, copa do mundo e fim de ano. Para tanto, a missão de Glória Perez era arregimentar o público com uma trama cativante. Tudo o que Travessia não é. A baixa audiência, as críticas por todos os lados e a péssima repercussão de seus bastidores sinalizaram que a novela não terá vida longa.
Novelas encurtadas por audiência aquém da esperada são muito comuns na história de nossa televisão.
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Relaciono 10 exemplos, de várias emissoras. Confira:
Ovelha Negra (Tupi, 1975)
A novela das oito da TV Tupi não fazia sucesso. Ao mesmo tempo, a Globo reprisava Selva de Pedra (por causa de censura de Roque Santeiro). A Tupi não teve dúvida: sacrificou Ovelha Negra para lançar uma nova novela, inédita: A Viagem, de Ivani Ribeiro.
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A campanha promocional de A Viagem contava com um slogan nos cartazes de rua que dizia: “Assista a uma novela inédita com capítulos inéditos”. Referia-se ao fato de Selva de Pedra, na emissora concorrente, ser uma reprise.
Terras do Sem Fim (Globo, 1981-1982)
O público rejeitou esta adaptação da obra de Jorge Amado, apesar da excelente produção e do elenco robusto. Diante da baixa audiência, e sem poder reproduzir no visado horário das 18 horas a sensualidade dos personagens do escritor baiano, a novela foi encurtada em dois meses.
Em seu lugar, para reconquistar o público perdido, a Globo criou alarde ao lançar a adaptação de um folhetim de Nelson Rodrigues: O Homem Proibido.
O Mapa da Mina (Globo, 1993)
A novela teve problemas de bastidores, com substituição de diretores. O estado de saúde do autor, Cassiano Gabus Mendes, agravou a crise e o seu final foi antecipado. Maria Adelaide Amaral, colaboradora de Cassiano, contou em depoimento ao livro “Gabus Mendes, Grandes Mestres do Rádio e Televisão” (de Elmo Francfort):
“Nesse período, o Cassiano não estava bem de saúde e isso se refletia no seu humor. O final da novela foi antecipado porque não era o sucesso que se esperava (…) Isso não deve tê-lo deixado muito feliz. Mas ele não andava feliz desde que O Mapa da Mina começou”.
Foi a última novela de Cassiano, que faleceu logo após o seu término.
As Filhas da Mãe (Globo, 2001-2002)
Apesar da proposta inovadora e do elenco estelar, a audiência foi baixa, o que fez a trama ser encurtada. A ideia era levá-la até depois do carnaval de 2002, mas a novela foi concluída em janeiro.
A emissora disse que foi uma estratégia para lançar a próxima atração das sete, já que não queria encavalar duas estreias, a das 18 horas (Coração de Estudante) e a das 19 horas (Desejos de Mulher). O autor Silvio de Abreu desabafou em entrevista ao TV Folha, em 20/01/2002:
“Foi uma maneira elegante de dizer que a novela ia sair antes porque não estava dando os índices de audiência esperados”.
Metamorphoses (Record, 2004)
Já em seu início, a audiência não passava dos 3 pontos no Ibope da Grande SP. A Record – que produzia a novela com a Casablanca – decidiu então dar um ponto final na trama. Metamorphoses terminou com 20 capítulos a menos do previsto e a maioria dos personagens não teve o desfecho apropriado.
A iniciativa de encurtar a trama partiu da emissora. De acordo com seu contrato com a Casablanca, a Record encomendou um produto que poderia ter até 144 capítulos, mas não obrigatoriamente todos eles. A novela se arrastou por 122 capítulos sem despertar o interesse do público.
Cristal (SBT, 2006)
No início da produção, a expectativa em torno da trama era tanta que foi cogitado levar ao ar um total de 203 capítulos, prevendo que a novela tivesse seu último capítulo exibido no final de janeiro de 2007.
Porém, o fraco desempenho na audiência fez com que a história se encerrasse no capítulo 125, ou seja, a novela foi encurtada em 78 capítulos.
Desejo Proibido (Globo, 2007-2008)
Apesar do elenco afiado, do capricho da produção e dos elogios da crítica especializada, a novela vinha registrando audiência baixa: 23 pontos de média na Grande SP, recorde negativo até então. A Globo decidiu encurtá-la em 30 capítulos, mais de um mês antes do previsto.
Assim, Desejo Proibido teve seu fim antecipado para que Ciranda de Pedra, sua sucessora, terminasse até outubro, a tempo de a substituta desta estrear antes ou no começo do próximo horário de verão.
Em Família (Globo, 2014)
A última novela de Manoel Carlos terminou com audiência em queda: média final de 30 pontos na Grande SP, a menor da história no horário até então. No geral, também repercutiu mal nas redes sociais.
A estreia ocorreu em fevereiro de 2014 e a previsão era exibi-la até o final de agosto. Porém, após dois encurtamentos e afastamento do autor por problemas de saúde, o último capítulo foi exibido em julho, na semana seguinte ao término da Copa do Mundo do Brasil.
Babilônia (Globo, 2015)
História conhecida: novela que sofreu forte rejeição do público e entrou para a história como um fracasso da Globo. Apesar das mudanças realizadas, a audiência continuou baixa e a trama foi encurtada em três semanas.
Babilônia foi pretensiosa ao provocar o público e chamar a atenção para temas pesados. Porém, isso a afastou do folhetim. Na volta, ao tatear pelo folhetim perdido na esperança de salvação, já era tarde demais.
Apocalipse (Record, 2017-2018)
Apesar de todo investimento e expectativa, a novela não passou de uma grande decepção para a Record. A emissora tinha pretensões de voltar a incomodar a Globo, como na época de Os Dez Mandamentos. Porém, Apocalipse terminou como a produção com o pior desempenho no Ibope desde que a emissora voltou a investir em tramas bíblicas (2010).
A novela terminou com média geral em torno dos 8 pontos, em terceiro lugar, perdendo para o SBT. Inicialmente pensada para durar por volta de 170 capítulos, acabou encurtada, totalizando 155.