Sem prejudicar obra do avô, neto de Benedito explica melhor a trama de Pantanal

03/04/2022 às 12h23

Por: Nilson Xavier
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Nilson Xavier

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Quando escreveu Pantanal para a TV Manchete, em 1990, Benedito Ruy Barbosa já era um autor experiente e tinha em mãos uma história com grande potencial. Isso é perceptível já na primeira semana do remake da Globo – texto, agora, atualizado por seu neto Bruno Luperi.

Logicamente, essa é uma conclusão muito fria, porque – basta consultar a memória ou a Internet – já conhecemos a trama, onde vai dar, o que vai acontecer. Em 1990, o público não tinha esse parâmetro.

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Pantanal

Posto isto, como parte do público sabe o que está por vir, faz-se necessário aparar algumas arestas na reescrita, para não deixar fios soltos adiante.

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Tome como exemplo o personagem de Irandhir Santos, Joventino Leôncio. Diferente de 1990, a essência mística do personagem ficou escancarada na primeira semana do remake, o que o tornou mais rico e complexo. Assim, o público ganha mais ferramentas para aceitá-lo lá na frente.

A história da família Marruá também está melhor explicada, com o drama dos personagens mais claros.

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Acabamento apurado

Pantanal

Bruno Luperi (e quando o cito, cito também Benedito, que provavelmente participa das decisões do neto) pode agora dar um acabamento mais apurado à trama de seu avô.

A reescrita não pode ser ipsis litteris já que o tempo da Pantanal da Globo é diferente do da Manchete. Não me refiro apenas ao tempo cronológico, mas ao tempo da narrativa, que também precisa ser atualizado.

Não se trata de desenhar a história didaticamente, mas de oferecer ao público recursos para o melhor entendimento. Quem está acostumado a receber tudo mastigado, sem precisar ligar lé com cré, necessitará de mais paciência.

Pantanal não é assim, didática. Nem nenhuma outra história de Benedito Ruy Barbosa foi, simplesmente porque este não é o estilo do autor, esta não é sua escrita.

Bruno Luperi honra o texto do avô, respeitando seu estilo e sua escrita, inclusive usando as mesmas construções das frases nos diálogos, tão características de Benedito: “Ara! O senhor me diga então!” (exemplo hipotético).

Passada de bastão

Pantanal

– Em meu texto sobre a estreia da novela, me ative à interpretação de Irandhir Santos, em minha opinião, o grande destaque do primeiro capítulo. E deixei escapar a homenagem de Bruno Luperi a Benedito por meio do personagem Ceci, vivido por Paulo Gorgulho, que participou da primeira versão – o que engrandece ainda mais a referência.

Na trama, o Velho Ceci “passa o bastão” a Joventino – como o avô passa ao neto, como a novela original dá a vez para o remake.

A abertura

– Acima, me referi aos “tempos” da nova Pantanal, que precisam ser outros, atualizados, com propostas renovadas, mais condizentes à atualidade.

Sai o tom épico-místico da abertura da TV Manchete, cantada pelo Sagrado Coração da Terra, banda de rock progressivo de Marcus Viana, com mulher (Nani Venâncio) virando onça nas imagens, e entra o intimismo da interpretação de Maria Bethânia, com takes variados do Pantanal mesclando belezas naturais com criação de gado (temática explorada na novela).

São aberturas diferentes, com propostas diferentes, de acordo com as diferenças estéticas e narrativas de cada obra, dentro de seus tempos (1990 e 2022).

Núcleo Marruá

Pantanal

– A trama da família Marruá emociona. O sofrimento de Maria e Gil, casal vivido por Juliana Paes e Enrique Diaz (excelentes, à altura dos personagens) é pungente.

O capítulo da morte do filho, Chico (ótima participação do ator Túlio Starling), foi forte, intenso, bem dirigido escrito e representado. Sem dúvida, o ponto alto da semana.

Pantanal

No enfrentamento de Maria com a onça, em que ela impede que o animal ataque Gil, quase fomos levados a acreditar que aquele seria o momento da concepção de Juma. Ledo engano. Aconteceu capítulos depois, ao mesmo tempo em que Zé Leôncio e Madeleine concebem Jove.

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Tempos de humor

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– Se tivemos um capítulo intenso, com assassinatos, o do dia seguinte teve um tom completamente diferente, saboroso, mostrando a chegada de Zé Leôncio (Renato Góes) ao Rio de Janeiro com leveza e pitadas de comicidade.

Aqui vale destacar os “tempos de humor”, embasados mais nas situações do que no personagem – considerando que Zé Leôncio não é um personagem cômico, mas que torna-se cômico ao deparar-se com o universo urbano da cidade grande. Um Crocodilo Dundee em Nova York (guardadas as devidas proporções).

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O cravo e a rosa

– O autor preferiu trabalhar mais a paixão que explode entre Zé Leôncio (Renato Góes) e Madeleine (Bruna Linzmeyer) do que o casamento dos personagens, que aconteceu de forma muito rápida.

As cenas envolvendo o idílio amoroso do casal (ao som de “Não Me Negue Ternura“, com Zé Manoel e Luedji Luna) foram lindas, envolventes. Zé Leôncio é aquele galã de filme de faroeste, mas brasileiro. Quase um João Coragem. Madeleine é a maluquete adorável, ardida como pimenta. O cravo e a rosa.

Porém, o enlace matrimonial aconteceu muito rapidamente, sem ao menos o povo de Zé Leôncio, no Pantanal, ficar sabendo. Ok, há o fator surpresa, de voltar para sua terra com uma esposa a tiracolo. É um bom gancho.

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Cenas do próximo capítulo

Pantanal

– A direção preferiu um uso diferente e muito competente para um antigo recurso da telenovela, que Pantanal trouxe de volta: as cenas do próximo capítulo.

O gancho ideal para o capítulo de segunda-feira seria Zé Leôncio, no Pantanal, apresentando Madeleine aos peões e a Filó (Letícia Salles), com close na reação da empregada.

Em vez de usar essa sequência como gancho, a direção a deixou para as cenas do próximo capítulo, que antigamente cumpriam exatamente essa função: alimentar no público o desejo de continuar a acompanhar aquela história – como a do gancho.

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