Em 2023, o SBT promete promover uma ampla reforma em sua programação. A estratégia da emissora é buscar uma grade mais qualificada, alinhada com o departamento comercial, na tentativa de elevar o faturamento em todas as faixas horárias.

Rambo
Reprodução / Divulgação

Neste planejamento, haverá bastante espaço para a nostalgia. Além do Programa Livre, que deve voltar ao ar este ano, o SBT também promoverá o retorno de mais um clássico de sua história: a sessão de filmes Cinema em Casa.

Mudanças

Um Maluco no Pedaço

O SBT programou o retorno do Cinema em Casa, que será sua nova arma na guerra de audiência das tardes de sábado. A sessão será retomada no dia 4 de março, a partir das 15h30, com o filme Vovó… Zona 3: Tal Pai, Tal Filho, longa de 2011 estrelado por Martin Lawrence, Brandon T. Jackson e Jessica Lucas.

Com a “novidade”, a grade da emissora terá mudanças significativas neste dia da semana. A faixa Sábado Série, que exibe sitcoms estadunidenses como Um Maluco no Pedaço e i-Carly será ampliada, ficando no ar entre 12h e 15h30. Novos títulos serão lançados no horário, como Brooklin 99.

Já o Programa Raul Gil ficará menor. A clássica atração de auditório ficará pouco mais de duas horas no ar, das 17h30 às 19h45.

Nostalgia

Querida, Encolhi as Crianças
Foto / Divulgação

A volta do Cinema em Casa deve pegar em cheio os nostálgicos de plantão. Afinal, o título nomeou uma clássica faixa de filmes vespertina do SBT, que exibiu longas que, até hoje, povoam o imaginário de quem cresceu diante da telinha, sobretudo nos anos 1990.

Apesar de ser lembrada como uma atração vespertina (seria o equivalente à Sessão da Tarde, da Globo), o Cinema em Casa estreou em 1988 como uma sessão noturna. Mas, na década de 1990, a atração passou a ir ao ar à tarde, na faixa das 13h30, onde se estabeleceu.

A faixa exibia vários filmes de temática familiar e infanto-juvenil, mas também mostrou alguns longas bastante impróprios para o horário. Filmes de terror como O Brinquedo Assassino e A Coisa eram reprisados à exaustão, assim como as comédias eróticas recheadas de seios e bumbuns de fora, como Picardias Estudantis e O Último Americano Virgem. Tais títulos conviviam com longas mais “fofos”, como Beethoven, Querida, Encolhi as Crianças (foto acima) e o inevitável A Lagoa Azul.

Cinema em Casa ficou no ar ininterruptamente até meados da década de 2000. Depois, a sessão teve idas e vindas na programação do SBT. Em sua última fase, ficou no ar entre dezembro de 2010 e maio de 2011, na faixa das 17h30.

Briga de longas

Roberto Buzzoni
Reprodução / Globo

A estreia do Cinema em Casa, em 1988, desencadeou uma briga inédita entre SBT e Globo. O filme Rambo: Programado para Matar foi o escolhido para o lançamento, que seria no dia 17 de agosto, às 21h30.

A Globo, numa ação inédita, resolveu reagir ao planejamento da rival e programou Rambo II – A Missão para ser exibido no mesmo dia. O fato chamou a atenção da imprensa na época, já que a líder de audiência não costumava “provocar” a concorrência.

Roberto Buzzoni, então diretor de programação da Globo, falou ao jornal O Globo sobre o assunto. Em matéria publicada no dia 17 de agosto de 1988, o executivo admitiu a provocação.

“Rambo II é mais forte e deu mais bilheteria. Por que não dar ao espectador oportunidade para escolher o melhor? Resolvemos lançar nosso produto para a exibição no mesmo horário do Rambo I e deixar que o público escolhesse qual assistir. O primeiro é um Rambo velho, da época em que o herói não era tão musculoso ou famoso. Eu nunca tive dúvidas de que o segundo filme da série é muito melhor que o primeiro”, declarou Buzzoni.

Com isso, o SBT acabou recuando e adiou a estreia do Cinema em Casa. No dia em que Rambo seria exibido, a emissora exibiu uma bem-humorada mensagem: “Quem procura acha o Rambo na Globo”. Tratava-se de uma brincadeira do canal com seu slogan, “Quem procura acha aqui”.

Guerrilha

Vale Tudo

Na semana seguinte, finalmente o SBT exibiu Rambo na estreia do Cinema em Casa. Porém, a Globo não deu trégua e tratou de esticar o capítulo do dia de Vale Tudo (foto acima), novela das oito da época. Mas o canal de Silvio Santos não se rendeu: por 50 minutos, exibiu na tela um slide com os dizeres:

“Não se preocupe. Quando terminar a novela da Globo, você vai ver Rambo”.

A manobra deu certo. O SBT abocanhou o primeiro lugar, vencendo a emissora carioca por 48% x 17% em São Paulo.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor