Sem necessidade: saída de personagem só prejudica Terra e Paixão
10/07/2023 às 9h11
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Autor de Terra e Paixão, Walcyr Carrasco criou a cafetina Cândida para Fernanda Montenegro. Ciente de que a veterana não estaria disposta a fazer uma novela inteira, o novelista concebeu a personagem como uma importante participação especial em poucos capítulos.
Cauã Reymond (Caio) e Barbara Reis (Aline) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)Porém, Fernanda acabou deixando o elenco da produção, e Cândida passou às mãos de Susana Vieira. A personagem fez sucesso com a nova intérprete, mas, mesmo assim, Carrasco decidiu manter seu plano inicial e a dona do bar acabou morrendo.
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Capítulos depois, ficou claro que a morte de Cândida pouco influiu no andamento da novela. Ou seja, a cafetina poderia, perfeitamente, ter permanecido na trama. Sua ausência empobrece a narrativa da novela.
Dona dos segredos
Antiga moradora de Nova Primavera, município sul-mato-grossense onde se passa a trama de Terra e Paixão, Cândida conhecia bem todos os moradores e seus segredos. Ela sabia do passado dos La Selva, já que era amiga de Agatha (Bianca Bin) e teve Irene (Gloria Pires) como uma de suas prostitutas.
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Foi ela que ajudou Aline (Barbara Reis) a fugir da perseguição dos capangas de Antônio La Selva (Tony Ramos). Cândida também demonstrava um carinho todo especial por Caio (Cauã Reymond), a quem o tinha como filho.
Idosa, Cândida caiu doente ainda nas primeiras semanas da novela. Antes de morrer, ela entregou uma caixinha a Caio com os segredos de Irene. Foi assim que o rapaz ficou sabendo do passado da madrasta, e que Daniel (Johnny Massaro), na verdade, é filho de Ademir (Charles Fricks).
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Morte desnecessária
Cândida logo caiu no gosto dos espectadores. Susana Vieira surgiu em cena num tipo raro em sua carreira, e a personagem tinha um carisma todo especial. Além disso, ao contrário de Fernanda Montenegro, Susana se mostrava disposta a seguir na novela até o fim. A veterana, inclusive, reclamou publicamente da morte de sua personagem.
Na época da despedida de Cândida, surgiram rumores de que o autor até teria cogitado mantê-la na trama, mas mudou de ideia por considerar que sua morte era importante para a narrativa. Mas, capítulos depois, ficou bem claro que Carrasco poderia, sim, ter mantido a cafetina na história.
Sua grande função foi revelar a Caio o passado de Irene. Uma informação que se revela valiosa, já que a grande virada da trama acontece justamente quando este passado vêm à tona. Porém, que diferença faz se Cândida está viva ou morta? Ela não poderia ter revelado o segredo a Caio por simples gratidão? Ou, então, por acreditar que pudesse morrer, mas, depois, sobreviveria?
Com a morte de Cândida, entrou em cena Berenice (Thati Lopes), que, com humor, mantém a função da falecida no bar da cidade. Ou seja, o bar permanece sem grandes alterações. Assim, Cândida poderia perfeitamente ainda estar lá. Berenice poderia ter sido introduzida na história de outro jeito.
Empobrecimento
Ao decidir matar Cândida, Walcyr Carrasco tirou de cena uma das personagens mais bem-recebidas pelo público. Numa novela repleta de tipos pouco carismáticos, a cafetina fez – e continua fazendo – muita falta.
Sem ela, o núcleo do bar ficou reduzido a um humor ligeiro. Sua presença no cenário dava um ar mais denso ao local. E, claro, Susana Vieira faz comédia muito bem. Cândida poderia ter enveredado mais para o humor. Ela e Berenice poderiam ter feito uma dupla e tanto! Sua ausência, então, deixou Terra e Paixão mais pobre.
Vale lembrar que Walcyr Carrasco já apostou numa cafetina idosa em O Outro Lado do Paraíso (2017), que, a princípio, também seria uma participação especial. Caetana (Laura Cardoso) ficaria na história até vender seu bordel a Beth (Gloria Pires). Porém, a personagem deu tão certo que seguiu na trama, ao lado da nova dona do local.
Ou seja, não havia um forte motivo para que Cândida deixasse Terra e Paixão. Se quisesse, Walcyr Carrasco poderia, sim, ter dado um jeito de manter Susana Vieira na história.