Em outubro de 2016, a veterana autora Maria Adelaide Amaral fez sua estreia no horário das 21h, ao lado do parceiro Vincent Villari (outrora colaborador) e respaldada pela boa recepção de novelas como Ti Ti Ti (2010-2011) e Sangue Bom (2013). A Lei do Amor chega ao fim nesta sexta-feira (31) de forma totalmente diferente do que prometia no começo: desgastada, sem história e com grande parte de seus núcleos e personagens destruídos e/ou alterados de forma inverossímil.
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Seu mote central previa que Helô (Isabelle Drummond/Cláudia Abreu), apaixonada por Pedro Leitão (Chay Suede/Reynaldo Gianecchini), se vingasse da família dele, pois Fausto (Tarcísio Meira), pai do mocinho, demitiu o pai dela, Jorge (Daniel Ribeiro), da tecelagem Costa Leitão, na fictícia cidade paulista de São Dimas. O casal rompe após Magnólia (Vera Holtz) contratar Suzana (Gabriela Duarte/Regina Duarte) para seduzir o herdeiro do empresário e se encontra após 20 anos. Ela está casada com o inescrupuloso Tião Bezerra (José Mayer) e tem dois filhos: Letícia (Isabella Santoni), que é filha de Pedro e sofre de leucemia, e Edu (Matheus Fagundes), com o vilão.
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Esta esperada vingança não aconteceu e foi simplesmente esquecida pelos autores. Sem este objetivo, Helô ficou sem função, desperdiçando o talento de Cláudia Abreu, que voltou à faixa das 21h. A química com Reynaldo Gianecchini foi outro acerto inicial. Ainda assim, o casal – que passou muito tempo sem conflitos – foi destruído por situações que não condiziam com o perfil dos personagens e repetições.
O retorno de Laura (Heloísa Jorge), uma ex-namorada de Pedro, em nada acrescentou, tornou Helô uma ciumenta possessiva e repetiu uma situação do começo: o mocinho tinha outra filha da qual não sabia da existência. Em função dos ciúmes, Pedro passou a conviver com Laura e chegou ao ponto de transar com ela, virando um sujeito machista, totalmente diferente da pessoa íntegra de outrora.
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O flagra da transa ainda relembrou o momento em que Helô o viu com Suzana – com a diferença de que, desta vez, Pedro traiu a mocinha com “naturalidade”, simbolizando o machismo dos autores ao colocá-lo como “vítima” do ciúme excessivo da protagonista, antes uma pessoa de mente aberta.
O machismo também esteve presente no malfeito triângulo entre Tiago (Humberto Carrão), Letícia (Isabella Santoni) e Isabela/Marina (Alice Wegmann) – este, um erro deste o começo da novela. Letícia era uma garota voluntariosa e irritante. Tiago, seu então noivo, passou a se envolver com a doce Isabela, sem desfazer o seu compromisso com a mulher – colocado como “vítima” da personalidade mimada dela.
Após um acidente, a garçonete volta como Marina, suposta irmã gêmea, para se vingar do rapaz e apresenta um temperamento totalmente diferente, mais sensual e misterioso. Ela começa um jogo de sedução que novamente faz Tiago trair Letícia, sendo outra vez posto como vítima da ardilosa Marina e da passividade da agora esposa, que se tornou mais amável.
O núcleo político de A Lei do Amor, que foi usado como justificativa para o seu adiamento e a entrada de Velho Chico no horário, não rendeu o que deveria. A campanha pela sucessão municipal de São Dimas se transformou em uma piada, contradizendo a alegação do diretor de teledramaturgia diária, Sílvio de Abreu, que alegou que o mote político poderia ser prejudicado com as eleições daquele ano.
Personagens importantes e/ou interessantes para a atrama sumiram sem quaisquer explicações, como foi o caso de Isabela. O desaparecimento da personagem de Alice Wegmann foi esticado para diminuir a rejeição de Letícia, o que até aconteceu, mas a redenção da garota, que deveria ocorrer de forma natural, foi rápida demais. Também sumiram a patricinha Camila (vivida por Bruna Hamú) – esta saiu da novela em virtude da gravidez da atriz; o médico Bruno (Armando Babaioff) – que deveria formar triângulo com Helô e Pedro; a vilã Aline (Arianne Botelho) – que retornou como prostitua de luxo; e o senador Venturini (Otávio Augusto).
Outra trama paralela que sofreu com a má condução foi a de Salete (Cláudia Raia), dona de um posto de gasolina, que se envolveria com os frentistas de seu estabelecimento. Estes foram retirados da trama e ela passou a se envolver com Gustavo (Daniel Rocha), bandido que participou do atentado que matou Suzana e deixou Fausto em coma. O romance nunca convenceu e os autores reeditaram um drama de Verdades Secretas (de Walcyr Carrasco), colocando o rapaz para sofrer com o uso de drogas. Não funcionou.
Vale lembrar que nos primeiros meses, com exceção do triângulo jovem, os núcleos fluíam normalmente, sem grandes sobressaltos. No entanto, a audiência não reagiu e foram feitos os chamados “grupos de discussão” com o público. Estes grupos, que deveriam orientar a condução da história, acabaram iniciando um processo de desgaste que afetaria a história de forma irreversível.
Várias revelações e entrechos foram antecipados, personagens promissores foram eliminados, outros tiveram suas personalidades alteradas sem motivo aparente e conflitos foram inseridos sem nada acrescentar. A entrada do autor Ricardo Linhares piorou a situação, uma vez que o autor vinha de “Babilônia”, maior fracasso do horário das nove, e, com isto, não teria sentido que ele “ajudasse” a melhorar outra novela.
O elenco, apesar de tudo, defendeu seus personagens com dignidade e tirou leite de pedra. Cláudia Abreu, Reynaldo Gianecchini, José Mayer, Vera Holtz, Cláudia Raia, Alice Wegmann, Grazi Massafera, Camila Morgado, Danilo Grangheia, Tarcísio Meira, Emanuelle Araújo, Arianne Botelho, Thiago Lacerda, Regina Braga, Heloísa Jorge e Marcella Rica, entre outros, merecem os elogios pelos seus ótimos desempenhos.
Deve-se lamentar o pouco aproveitamento das talentosas Ana Rosa, Bia Montez e Regiane Alves, cuja vilã Beth, ex-esposa de Augusto (Ricardo Tozzi), poderia render bons conflitos entre ele e Vitória (Morgado), mas morreu com apenas um mês de trama. Entre as menções negativas, a canastrice de Ricardo Tozzi e Eriberto Leão (que fez uma participação recente). Isabella Santoni, grande revelação da temporada Sonhos de Malhação (2014-2015), esforçou-se e convenceu em cenas decisivas, mas apresentou uma atuação aquém de sua personagem anterior. Humberto Carrão, também talentoso, pareceu apático em boa parte de suas cenas.
A Lei do Amor prometia ser uma boa história no horário das nove. Infelizmente, ficou apenas na promessa, em decorrência das alterações provocadas pelo grupo de discussão e, posteriormente, pela falta de enredo causada pela má condução dos desdobramentos, tornando-a totalmente desfigurada e sem razão de existir. As alterações não surtiram efeito na audiência, uma vez que está prevista para fechar com 27 pontos de média (dois a menos que Velho Chico). Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari são autores talentosos, porém, não se deram bem em sua estreia na faixa mais importante da emissora. Que tenham melhor sorte da próxima vez.