Segundo Sol: o que esperar da próxima novela das nove?
08/05/2018 às 10h00
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A missão de substituir um sucesso de audiência é tão complicada quanto entrar no lugar de um fracasso. Essa questão já foi levantada várias vezes aqui. Walcyr Carrasco foi a última pessoa a enfrentar esse desafio, lançando O Outro Lado do Paraíso depois de A Força do Querer, a melhor novela de Glória Perez e responsável por elevar a média do horário nobre da Globo em nove pontos, após uma crise de anos. Mas o autor não só conseguiu atingir o objetivo, como emplacou mais um fenômeno em sua carreira, superando a trama antecessora e marcando a melhor média desde Avenida Brasil. Um feito e tanto. Agora a responsabilidade é de João Emanuel Carneiro, ironicamente responsável pelo último folhetim citado.
O autor dos imensos sucessos Da Cor do Pecado (2004) e Cobras & Lagartos (2006), além das ousadas e excelentes A Favorita (2008) e a série A Cura (2010), tem como tarefa fazer jus a essas produções aclamadas pelo público, incluindo, claro, seu maior êxito da carreira: Avenida Brasil (2012). Isso porque João não alcançou o resultado esperado com A Regra do Jogo (2015), seu pior trabalho até então, que teve sérios problemas de desenvolvimento e uma audiência nada satisfatória. Seu último folhetim contou com um aparentemente audacioso enredo em torno de uma facção criminosa, mas falhou ao desmembrá-lo, afastando o telespectador.
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Na época, cogitou-se a rejeição do público em roteiros mais realistas, em virtude do trágico cenário nacional, com telejornais anunciando corrupção e violência a todo instante. Mas a verdade é que a trama pecou em vários aspectos e o sucesso de A Força do Querer, apenas dois anos depois, acabou reforçando isso. Afinal, a história de Glória tinha o tráfico de drogas como um dos alicerces do enredo, incluindo a presença de marginais, onde dois deles eram principais (Rubinho e Sabiá). Agora, após esse “trauma” com A Regra do Jogo, João Emanuel deixará de lado esse clima mais sombrio e apostará em uma novela solar e mais leve (nas palavras dele), tendo a Bahia como pano de fundo.
Ambientada entre Salvador e a fictícia Boiporã, a história – cujo ótimo clipe pode ser conferido aqui – traz duas fases separadas por 18 anos. A primeira se passa entre 1999, 2000 e 2001. Beto Falcão (Emílio Dantas) estourou com o sucesso “Axé Pelô” em 1994, mas enfrenta a decadência no final dos anos 90 e constata a diminuição constante de seu cachê. Seus shows não lotam mais. O auge passou. Para pagar parte das dívidas de sua família, aceita fazer uma pequena participação em Aracaju. Numa maré de azar – que salvará sua vida -, o cantor perde o voo e a apresentação. O avião que ele pegaria cai e o protagonista é dado como morto.
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A comoção é nacional. Do fracasso, Beto reencontra a fama e acaba virando um mito. Em segredo, vê sua imagem ser ovacionada e os problemas financeiros da família se solucionarem. Isso porque o rapaz não conta a verdade, passando a viver como um fugitivo. Convencido por Karola (Deborah Secco), namorada cujo romance não anda bem, e pelo irmão interesseiro Remy (Vladimir Brichta), de que se manter “morto” é a melhor opção para todos, o cantor deixa a cidade e se refugia na ilha de Boiporã. Lá ele assume uma nova identidade (passa a se chamar Miguel) e encontra o amor de sua vida: a humilde Luzia (Giovanna Antonelli), marisqueira que cuida sozinha do casal de filhos Ícaro (Thales Miranda/Chay Suede) e Manuela (Rafaela Brasil/Luisa Arraes). Beto aluga a casa da irmã de Luzia, a simpática Cacau (Fabíula Nascimento), e não demora para iniciar um romance com seu novo amor.
A felicidade do casal, claro, não dura. Karola vai até o local para destruir essa relação, seguindo ordens de Laureta (Adriana Esteves), cafetina que tem uma relacionamento ambíguo com sua parceira. As duas serão as vilãs do enredo e prometem uma boa parceria. A ex-noiva de Beto diz que está grávida dele, elaborando ainda outros planos idealizados pela sua comparsa, e Luzia acaba fugindo do Brasil com o amigo Groa (André Dias), abandonando seus filhos. Em 2018, quase 20 anos depois, a mocinha voltará como a famosa DJ Ariella, disposta a reunir sua família e reescrever sua história. Já Beto segue sem saber do verdadeiro caráter de Karola e de seu irmão, cuidando dos filhos e infeliz com os rumos que sua vida tomou.
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Há também um conflito envolvendo o núcleo protagonizado por Fabrício Boliveira (Roberval), Odilon Wagner (Severo), Cássia Kiss (Claudine), Caco Ciocler (Edgar) e Karen (Maria Luisa Mendonça). Roberval trabalha na casa do milionário Severo há anos e descobre que é filho do patrão somente quando Claudine (com uma doença em estágio terminal) faz a revelação. Ele ainda se envolve com Cacau, que começa a trabalhar como empregada da casa. Toda essa situação provoca uma reviravolta em sua vida. Um clichê presente em inúmeras novelas.
O elenco ainda conta com Arlete Salles, José de Abreu (intérpretes de Naná e Dodô, pais de Beto e Reny), Francisco Cuoco, Letícia Colin, Giovanna Lancellotti, Roberta Rodrigues, Bruno Garcia, Nanda Costa, Chico Diaz, Armando Babaioff, Danilo Ferreira, Luis Lobianco, Claudia di Moura, Roberto Bonfim, Antonio Pitanga, Thalita Carauta, entre outros. Vale ressaltar que a novela nem estreou e já sofre duras críticas pela ausência de negros em papéis principais em uma trama que se passa na Bahia. As críticas são pertinentes e resta aguardar como essa questão será explorada no enredo – é preciso lembrar, ainda, que Carol Castro chegou a ser escalada, mas foi substituída por Roberta Rodrigues justamente por conta das possíveis críticas.
Segundo Sol tem a direção de Dennis Carvalho e Maria de Médicis, beneficiando João Emanuel Carneiro, que não teve uma boa experiência com Amora Mautner em A Regra do Jogo (a tal “Caixa Cênica” amplamente divulgada por ela, inclusive, não serviu para nada). A nova novela das nove tem uma premissa que explora todos os clichês da teledramaturgia e optar pelo arroz com feijão bem feito pode ser uma ótima ideia, após o imenso sucesso de O Outro Lado do Paraíso, que fez exatamente o mesmo. Que venha!