Um dos maiores sucessos da história da TV brasileira chegava ao fim há exatamente 43 anos. Nesta data, no longínquo ano de 1978, terminava a saga de O Astro, novela de Janete Clair dirigida por Daniel Filho, dupla responsável por muitos êxitos televisivos daquele tempo.

A trama, você deve conhecer, já que a novela ganhou um reboot em 2011, com boa repercussão. Francisco Cuoco, que ainda ostentava uma aura de galã televisivo, vivia um vidente-quiromancista-tarólogo-astrólogo de araque chamado Herculano Quintanilha – ah os bons nomes que só Janete e Dias Gomes sabiam dar a seus personagens!

Este Herculano era um tipo bem dúbio, carreirista, que se infiltrava em um império empresarial como “conselheiro”, algo muito próximo de Rasputin, líder espiritual dos últimos czares da Rússia, e de El Brujo, como ficou conhecido José López Rega, que foi ministro do Bem-Estar Social da Argentina com forte influência sobre os presidentes Juan e Isabelita Perón.

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Além disso, havia toda uma inspiração em Hamlet, já que o patriarca era assassinado e o único filho – um atormentado Tony Ramos novinho – desconfiava do tio e da própria mãe. A única diferença é que o tio e a mãe, na novela, já tinham seus próprios interesses amorosos, mas, mesmo assim, se uniam para garantir o domínio do “império” empresarial do clã.

Na novela, o filho, correspondente a Hamlet, é Márcio Hayalla, interpretado por Tony. Gertrudes, mãe de Hamlet, foi rebatizada na novela de Clô, papel de Tereza Rachel. O tio Claudio, irmão do Rei, chamava-se Samir Hayalla, na pele de Rubens de Falco. Havia ainda Jose – Silvia Salgado -, apaixonada por Márcio, fazendo as vezes de Ofélia, que morre de amor por Hamlet, literalmente. Já o Rei da Dinamarca era vivido por Dionísio Azevedo, como Salomão Hayalla.

Quem matou Salomão Hayala?

Esse nome, você já ouviu falar. “Quem matou Salomão Hayalla?” é uma indagação que perdura décadas no inconsciente coletivo brasileiro. Faz parte de nossa cultura pop tanto quanto o “Quem matou Odete Roitman?“. O último capítulo de O Astro foi aguardado com ansiedade por milhões de brasileiros. O país parou na noite do dia 8 de julho de 1978 para finalmente descobrir quem havia matado o Rei da Dinamarca tupiniquim.

Em sua reta final, a trama de Janete Clair conquistou uma audiência extraordinária, com números superiores aos das transmissões dos jogos da seleção brasileira na Copa da Argentina: 80% em média. Após o término da novela, o poeta Carlos Drummond de Andrade destacou em sua coluna de jornal: “Agora que O Astro acabou, vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando!” Foi ele quem apelidou Janete Clair de Usineira de Sonhos.

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Segredo de Estado

Daniel Filho conta em seu livro “Antes que me Esqueçam” que foi a partir do assassinato de Salomão Hayalla (no capítulo 42) que a novela deslanchou. O mistério sobre o crime de ficção mobilizou a sociedade e a opinião pública. Em uma recepção em Brasília, o então presidente da República, o general Ernesto Geisel, perguntou a Daniel quem era o assassino, no que ele respondeu “É segredo de Estado, e disso eu sei que vocês entendem!“.

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Nem Márcio, nem Samir, Clô ou mesmo Herculano. Para o desfecho do mistério, Janete Clair largou Hamlet e inspirou-se nas páginas dos jornais brasileiros. Na época, a mídia cobria o assassinato real da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, morta por um toxicômano com quem estava envolvida e seu amigo cabeleireiro, o cúmplice.

Quem matou Salomão Hayalla foi o jovem amante de Clô, Felipe Cerqueira (Edwin Luisi), um playboy inconsequente que Salomão – sabendo do caso do rapaz com sua mulher – havia descoberto que estava “metido com drogas” e portanto o ameaçava. Felipe era viciado e um amigo cabeleireiro, Henry (José Luiz Rodi), era seu cúmplice.

Na verdade, a revelação de que havia sido Felipe o assassino frustrou os telespectadores. Além de ele ser o suspeito mais óbvio, o Jornal do Brasil já havia dado o furo três dias antes do último capítulo. Isso apesar dos cinco finais diferentes gravados.

AQUI tem tudo sobre O Astro: trama, elenco, personagens, trilha sonora e muitas curiosidades de bastidores.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor