O público já está reclamando do marasmo de Renascer. Não por acaso, a Globo tenta salvar a novela na edição, antecipando acontecimentos para imprimir mais ritmo ao remake da obra de Benedito Ruy Barbosa.

Sophie Charlotte em Renascer
Sophie Charlotte em Renascer

Mas, para a tristeza da audiência, a pior parte de Renascer ainda nem começou. Se Bruno Luperi não modificar os rumos da novela criada pelo seu avô, o folhetim chegará em um momento onde nada significativo acontece e os capítulos são preenchidos por discursos vazios.

Sabendo disso, Luperi poderia criar novas tramas para driblar essa fase ruim. Mas, ao que tudo indica, isso não vai acontecer.

Novela barriguda

Em agosto de 1993, Renascer já estava havia cinco meses no ar e parecia não ter mais fôlego. Tanto que a Folha de S. Paulo, de 12 de agosto daquele ano, apontava a total falta de ação da trama da Globo.

“É uma pena ver tanto curso desperdiçado. Renascer se arrasta por falta de história — mesmo depois de alguns assassinatos indispensáveis. Sobram personagens e faltam papéis definidos. Fazer o que com essa turma do cacau? Sem solução melhor, a ação foi substituída pelos discursos educativos e políticos”, dizia a análise escrita por Julio Rodrigues.

Em 24 de outubro de 1993, o jornal O Dia também apontava a ausência de trama da novela de Benedito Ruy Barbosa. Ou seja, foram dois meses onde não aconteceu nada na história.

“Renascer já virou remorrer mil vezes e não acaba nunca. Parece aquelas estradas intermináveis que tem uma curva chata a mais e continua sempre. Sem mais qualquer história ou fiapo de coerência. Está mais irrelevante do que a campanha da fome”, disparou a jornalista Maria Helena Dutra.

Audiência se manteve

Marcos Palmeira e Antonio Fagundes na primeira versão de Renascer
Marcos Palmeira e Antonio Fagundes na primeira versão de Renascer

Mesmo com o tédio instalado em Renascer, a audiência da trama se manteve em alta em 1993. Tanto que, na época, o SBT tentou jogar parte do Aqui Agora na concorrência direta com a trama, mas a estratégia não vingou. Silvio Santos depois contra-atacou com o Programa Livre, também sem sucesso.

Em 12 de agosto de 1993, a Folha de S. Paulo informou que a novela mantinha a excelente média de 65 pontos no Ibope. Ou seja, na época, a Globo se aproveitava da falta de uma concorrência mais forte e conseguia manter a boa audiência da novela, mesmo no período em que nada acontecia.

Depois deste período modorrento, Renascer ainda mostrou o nascimento da filha de Sandra (Luciana Braga), o fim da farsa de Teca (Palomma Duarte), Ritinha (Isabel Fillardis) traindo Damião (Jackson Antunes) e o suicídio de Tião Galinha (Osmar Prado).

Problema deve permanecer

O autor Bruno Luperi é o responsável pela atualização do texto de Renascer. Sendo assim, está nas mãos do neto de Benedito Ruy Barbosa buscar soluções para que esta fase barriguda de Renascer seja eliminada no remake.

Mas, considerando o histórico do autor, é pouco provável que isso aconteça. Basta se lembrar do remake de Pantanal (2022), novela que também teve uma longa fase onde nada relevante acontecia. Luperi manteve intacta a trajetória da trama original, inclusive este período de barriga.

Há dois anos, a novela até perdeu fôlego na audiência em razão deste período monótono. Ao que tudo indica, o mesmo deve acontecer em Renascer.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor