No final de 2021, a Globo passou a apostar na faixa Edição Especial para reapresentar novelas após o Jornal Hoje. O “novo” Vale a Pena Ver de Novo foi aberto com o repeteco de O Cravo e a Rosa (2000), seguido de Chocolate com Pimenta (2003). A escolha das tramas fez com que a faixa fosse apelidada de “Sessão Walcyr Carrasco”.

Marcos Frota e Gloria Pires em Mulheres de Areia
Marcos Frota e Gloria Pires em Mulheres de Areia (divulgação/Globo)

Sendo assim, causou surpresa a escolha por Mulheres de Areia (1993) para dar sequência ao horário. O clássico de Ivani Ribeiro, até o momento, não conseguiu manter os bons números de suas antecessoras. Sendo assim, não teria sido melhor escolher outra trama de Carrasco, como Alma Gêmea (2005), para garantir melhores números?

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Em baixa

Chocolate com Pimenta - Mariana Ximenes e Murilo Benício
Murilo Benício e Mariana Ximenes em Chocolate com Pimenta (Gianne Carvalho / Globo)

Na primeira semana da reprise, Mulheres de Areia dividiu a faixa das 14h40 com os capítulos finais de Chocolate com Pimenta. A dobradinha garantiu bons índices à trama de estreia, embora tenha ficado abaixo da estreia da novela anterior.

Segundo dados do Kantar Ibope Media divulgados pelo portal Notícias da TV, a estreia de Mulheres de Areia cravou 12,8 pontos na Grande São Paulo. Não é um número ruim, mas ficou abaixo da estreia de Chocolate com Pimenta, que alcançou significativos 16 pontos.

Para piorar, a história de Ruth e Raquel (ambas, Gloria Pires) não se segurou sozinha no horário. Na quarta-feira (5), a trama anotou 11,1 pontos, recorde negativo desde os 10,8 alcançados por Chocolate com Pimenta no dia 16 de março. Até o momento, segundo o NTV, a trama tem média de 13,8, abaixo de sua antecessora.

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Em busca da liderança

O Cravo e a Rosa - Adriana Esteves e Eduardo Moscovis
Eduardo Moscovis e Adriana Esteves como Petruchio e Catarina em O Cravo e a Rosa (Divulgação / Globo)

Abrir uma segunda faixa de reprises de novelas à tarde se revelou um acerto na Globo, ao menos no quesito audiência. Os repetecos de O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta devolveram a liderança isolada para a Globo num horário em que o canal estava se habituando a apanhar da Record.

A concorrente se fortaleceu no início da tarde com o quadro A Hora da Venenosa, exibido no Balanço Geral. As fofocas de Fabíola Reipert cresceram tanto que se tornaram uma dor de cabeça para a Globo, o que obrigou a “poderosa” a se mexer.

O sucesso da fofoqueira da Record fez com que a Globo reformulasse o Vídeo Show um sem-número de vezes. Depois, o canal desistiu do vespertino e lançou o Se Joga (2019), que se revelou um desastre. Apenas a Edição Especial de novelas conseguiu reverter a crise. Atualmente, A Hora da Venenosa passa longe de ameaçar a liderança da estação dos Marinho.

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Erro estratégico

Alma Gêmea
Eduardo Moscovis e Priscila Fantin em Alma Gêmea (reprodução/Globo)

Esse êxito se deu, sobretudo, em razão do forte apelo popular das novelas escolhidas para a reprise. O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta são dois clássicos atemporais, que dialogam bastante tanto com as donas de casa quanto o público infantil e juvenil, que formam a maior parte do público deste horário.

Por isso mesmo, especulava-se que outra novela de Walcyr Carrasco seria escolhida para o horário. Duas das mais cotadas eram Alma Gêmea e Caras & Bocas (2009), novelas que mantêm o clima das anteriores: casal central forte, tramas calcadas no humor pastelão, personagens carismáticos e bordões.

Mas o canal surpreendeu e escalou Mulheres de Areia, que também traz o irresistível plot das gêmeas de personalidade opostas que trocam de lugar. Porém, o tom é outro: sai o humor infantil e ingênuo, entra o drama com os pés mais fincados na realidade. Isso pode ter afugentado o público habituado ao clima mais romântico e pueril da obra de Carrasco.

Alma Gêmea, por exemplo, seria uma aposta à prova de erros. A trama é um fenômeno da faixa das seis e foi igualmente bem em todas as suas reprises. Será que, numa tentativa de diversificar, a Globo não acabou dando um tiro no próprio pé?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor