Eu não posso te dar um mínimo de confiança que você já se aproveita para tentar me comover com essa sua carinha de boa moça. Você é muito manipuladora garota!“.

Essa frase foi dita por Helena (Flavia Alessandra) a Fiona (Juliana Paiva) no capítulo dessa segunda-feira (5) de Salve-se Quem Puder. Porém, caberia como uma luva se direcionada ao autor da novela.

Daniel Ortiz vem há quase 100 capítulos cozinhando o público com a trama da mãe bondosa que foi enganada no passado, afastada de marido e filha pequena, e a reencontra adulta sob outra identidade, sem saber que trata-se da criança que julgava morta. Como em toda boa trama melodramática, Ortiz manipula o público com os sentimentos e emoções mais básicos, usando com competência todos os artifícios que fazem a festa dos amantes de novelas mexicanas.

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E isso não é uma crítica. Para escrever uma boa novela mexicana é preciso muita habilidade. A proposta de Salve-se Quem Puder é explícita, tanto que uma das ambientações foi o México e a mocinha Luna, além da origem mexicana, é bondosa, sofredora, cheia de boas intenções e ainda por cima religiosa, devota fervorosa de Nossa Senhora de Guadalupe, santa padroeira do México. Existe apelo maior? Não. É piegas? Demais!

Piegas também é a heroína saber que Helena é sua mãe e ficar calada por quase cem capítulos sofrendo hostilidade e caindo em uma série de “armadilhas do destino“. Piegas, mas irresistível! A cartilha de todo bom folhetim ensina que as emoções do público precisam ser manipuladas de tal forma que quanto mais esgarçado for o sofrimento da mocinha, maior será a catarse.

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A catarse veio no capítulo de segunda-feira. O público foi às lágrimas com a ansiada revelação a Helena de que Fiona é Luna. O cenário não poderia ser mais propício senão na igreja, diante do altar a Nossa Senhora de Guadalupe. Não suportando mais as alfinetas de Helena, Fiona-Luna deu a deixa para que a mãe reconhecesse nela a filha de quem foi obrigada a separar-se no passado.

A sequência foi toda excelente, da direção à ambientação, trilha sonora, texto e interpretação das atrizes, Flávia Alessandra e Juliana Paiva. Alguns enxergaram exagero, mas o exagero é um ingrediente da receita folhetinesca. As emoções são elevadas à máxima potência, mas o tom precisa ser dosado, para não cair na caricatura, e as atrizes precisam segurar bem. Flávia e Juliana entregaram tudo com o que o público vinha há meses ansiando.

A única novela inédita da Globo peca pelo excesso de personagens e situações infantiloides, caricatos e bobinhos. Alguns irritantes (meu sonho é ver aquela galinha em uma panela). Atende uma boa parcela do público, já que a audiência é boa (vem se mantendo em torno de 27 pontos no Ibope da Grande São Paulo). Contudo, a mais mexicana das tramas paralelas é o que vem fazendo Salve-se Quem Puder valer a espiada. É a melhor pior novela do momento.

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Capítulo recorde

O capítulo de segunda foi recorde de audiência e de participação. A novela registrou 35 pontos e 50% de participação no Rio de Janeiro. Em São Paulo, marcou 28 pontos e 42% de participação igualando o recorde anterior. A #Salve-seQuemPuder, além dos nomes de Flávia Alessandra e Juliana Paiva, permaneceram nos TTs Brasil na noite de ontem.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor