Uma das marcas de Manoel Carlos é, sem dúvida, a presença de uma personagem chamada Helena em suas obras. A primeira novela do autor, curiosamente, se chamava “Helena” (1952 – TV Paulista) e era baseada no romance homônimo de Machado de Assis. Mas ainda não tinha relação alguma com as nove mulheres que viriam a marcar presença em seus futuros folhetins.

A primeira Helena foi em “Baila Comigo” (1981). Vivida brilhantemente pela grande Lilian Lemmertz, a personagem deu à luz gêmeos (vividos por Tony Ramos), mas não pôde criá-los ao lado do pai (Joaquim Gama – Raul Cortez). Para ‘resolver’ a dura questão, entregou um deles a Joaquim e o outro criou com seu marido, Plínio Miranda (Fernando Torres). O forte enredo dramático proporcionou grandes cenas para todos os atores envolvidos, incluindo, claro, a saudosa Lilian. Não por acaso, o forte papel presenteou a atriz com inúmeros elogios à sua atuação.

Após este seu bem-sucedido trabalho, Maneco escreveu duas novelas que não contaram com uma Helena: a conturbada “Sol de Verão” (1982) e “Novo Amor” (1986 – Rede Manchete). Mas foi a partir de “Felicidade” que o autor passou a inserir a sua controversa protagonista em todas as suas histórias. No folhetim exibido em 1991, Maitê Proença foi a atriz escolhida para interpretá-la e convenceu na pele de uma mulher que amava um homem — Álvaro (Tony Ramos) — e era correspondida.

Porém, ela acabou se casando com Mário (Herson Capri), um engenheiro agrônomo. O casamento não dá certo e Helena engravida do seu grande amor, que por sua vez já está casado com uma mulher rica e problemática — Débora (Vivianne Pasmanter, estreando na televisão como vilã). Um drama típico da mais tradicional telenovela.

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Em 1995, em “História de Amor”, novela das seis, Manoel Carlos escalou a atriz que ficaria marcada como a eterna Helena: Regina Duarte. Na trama, ela interpretou a mãe da mimada Joyce (Carla Marins), que precisou enfrentar a gravidez prematura da filha — que engravidou de um sujeito mau-caráter (Caio – Angelo Paes Leme) — e lidar com todos os desdobramentos que a situação causou em sua vida, incluindo um amor: o endocrinologista César (José Mayer), que tem um relacionamento com a patricinha Paula (Carolina Ferraz) e é alvo da cobiça obsessiva de Sheyla (Lilia Cabral). Obviamente, todo o conjunto de problemas provoca uma imensa turbulência na vida daquela brava mulher, que ainda tem um ex-marido machista (Assunção – Nuno Leal Maia). Regina deu um show e a trama fez um merecido sucesso.

Já em 1997, o autor voltou para o horário nobre com a envolvente “Por Amor” e ficou de vez. Maneco havia gostado tanto da atuação de Regina que a escalou para viver outra Helena. E esta Helena foi uma das mais complexas. Afinal, ela simplesmente trocou seu filho vivo pelo filho morto de Maria Eduarda (Gabriela Duarte), sua única filha, que havia perdido a criança no parto e nunca mais poderia engravidar novamente. O gesto foi uma demonstração de amor doentia e sem pensar nas consequências, como tirar a alegria de seu companheiro Atílio (Antônio Fagundes) de ser pai. A cena da troca dos bebês até hoje é lembrada, assim como a atuação visceral de Regina, que novamente brilhou diante dos olhos do público.

No ano de 2000, Manoel Carlos presenteou o telespectador com outra grande obra e mais uma ótima Helena. Interpretada por Vera Fisher (em seu melhor momento na televisão), a personagem abria mão de seu amor (Cadu – Reynaldo Gianecchini) depois que sua filha Camila (Carolina Dieckmann) se apaixonava por ele. E, após Camila descobrir um câncer e ficar entre a vida e a morte, em mais um gesto de amor, Helena engravidou do primo Pedro (José Mayer), ex-namorado e pai de sua filha. O intuito era apostar na compatibilidade da medula da criança que viria a nascer com a de Camila. E deu certo. A história foi excepcional, assim como a protagonista, muito bem escrita e interpretada.

Porém, em 2002, o autor começou a perder a mão com as Helenas. “Mulheres Apaixonadas” foi a última grande novela do Maneco e a trama fez um merecido sucesso, entretanto, a Helena teve sua história (pouco atraente, diga-se) ofuscada pelos demais núcleos. Diretora de uma escola, Helena resolve ter um caso com um antigo amor (César – José Mayer) mesmo estando casada há 15 anos com Téo (Tony Ramos), um homem íntegro, mas que também tinha seus deslizes — como um envolvimento no passado com Fernanda (Vanessa Gerbelli). Embora interpretada muito bem por Christiane Torloni, a personagem não aconteceu. Suas inseguranças não envolviam e pouco acrescentaram ao enredo. Era bem mais interessante acompanhar os outros dramas do folhetim.

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Em 2006, Maneco optou pela volta ao passado. Resolveu apostar novamente em Regina Duarte para viver a terceira Helena da carreira da grande atriz. Ainda que a trama no geral tenha deixado a desejar, o autor acertou com a protagonista. Helena era uma ótima médica e após fazer um difícil parto (de Fernanda – Fernanda Vasconcellos) —– onde a mãe falece e dá à luz gêmeos, sendo que um dos bebês apresenta Síndrome de Down —–, se choca com a avó dos netos (Marta) que se nega a ficar com a criança doente —– “Eu passo!” foi uma das marcantes frases ditas pela grande personagem vivida por Lilia Cabral —- e resolve adotar a bebê. A trama foi emocionante e envolveu o público, principalmente quando, anos depois, o pai de Clara (Joana Mocarzel) resolveu reivindicar a guarda da menina. Regina fez bonito. Pela terceira vez.

Mas em 2009, Manoel Carlos criou sua pior Helena em “Viver a Vida”: uma top model bem-sucedida. Escolhida para interpretá-la, Taís Araújo não convenceu e ficou apática durante da novela. E a atriz ainda ganhou uma personagem com dramas cansativos. O ‘grande conflito’, por exemplo, era a modelo ter abandonado sua carreira de sucesso para se casar com um homem 20 anos mais velho (Marcos – José Mayer). Taís (embora este tenha sido seu único equívoco como atriz) foi massacrada pela crítica e sua Helena virou coadjuvante, diante dos conflitos dramáticos e amorosos de Luciana (Alinne Moraes, que brilhou absoluta), modelo que fica paraplégica depois de um grave acidente, e dos gêmeos Miguel e Jorge (muito bem interpretados por Mateus Solano). Definitivamente, aquela novela não era da Helena.

Em sua última novela, Maneco escolheu a grande Júlia Lemmertz para encerrar o ciclo iniciado por sua saudosa mãe. O autor tinha tudo para finalizar esta ‘saga’ de forma grandiosa, mas lamentavelmente se equivocou de novo. A Helena de “Em Família” passou grande parte do tempo sendo uma mera coadjuvante e sua trama não foi bem construída. Seu drama era uma repetição de um tema já explorado pelo autor: mãe e filha que se envolvem com um mesmo homem, no caso Laerte (Gabriel Braga Nunes).

A personagem —- que foi interpretada por Júlia Delavia na primeira fase e Bruna Marquezine na segunda —- só cresceu quando ficou bêbada e seduziu Virgílio (Humberto Martins). A partir desta inusitada situação, Helena parece que ganhou vida e ficou mais interessante de se acompanhar. Pena que Manoel tenha demorado tanto para tomar uma atitude. Mas apesar dos pesares, Júlia foi impecável no papel e mereceu inúmeros elogios.

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Se Manoel Carlos cumprir o que declarou várias vezes, o ciclo das suas Helenas se fechou. E, como pôde ser constatado, o saldo geral sobre esta personagem tão humana, controversa e que marcou presença em suas principais novelas, é positivo.

Embora tenha errado em algumas, o autor acertou em várias outras e muitas delas já são inesquecíveis. Sem dúvida, uma personagem que marcou a teledramaturgia, onde um simples nome acabou virando uma referência de protagonista.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor