A equipe de Império passou por um momento tenso na primeira semana de dezembro de 2014. O terror de todo novelista aconteceu com Aguinaldo Silva: uma de suas principais atrizes precisou se afastar da novela por problemas de saúde. A grande Drica Moraes, que já havia desmaiado algumas semanas antes nas gravações, precisou ser afastada após apresentar um quadro de labirintite e quando voltou a trabalhar estava afônica, sem poder gravar. O médico, então, recomendou o seu afastamento e todos, obviamente, concordaram. Mas, para evitar um desastre na novela, o autor resolveu rapidamente o problema trazendo Marjorie Estiano de volta.

A intérprete da Cora na primeira fase de Império foi chamada às pressas pela produção e topou na hora. Só pediu para enviarem os capítulos. O resultado de todo este imbróglio foi a gravação de uma cena em tempo recorde, onde a atriz conseguiu decorar o texto em menos de 24 horas e ainda incorporou a vilã com todos os trejeitos de Drica Moraes. Marjorie conseguiu o que parecia impossível: apagar completamente a personagem que viveu nos primeiros capítulos da trama e imprimir um novo tom interpretativo, muito mais condizente com o que a sua parceira estava fazendo até se afastar das gravações.

O resultado ficou impecável e a cena onde Cora se humilha pelo amor de José Alfredo (Alexandre Nero) foi brilhantemente defendida pela atriz. Suas expressões faciais e corporais, tanto na hora que Cora tira o véu que cobria seu rosto, quanto no momento que bebe e se insinua para o Comendador, foram precisas e evidenciaram o imenso talento desta profissional, que foi elogiada por Aguinaldo e Rogério Gomes. O diretor, aliás, declarou que ela deveria ser considerada a ‘funcionária do ano’ pelo o que fez. E é verdade.

Naquela época, este foi o maior desafio que Marjorie Estiano teve na carreira. Não é nada fácil, até mesmo para uma atriz veterana, entrar em uma novela em andamento às pressas e ainda substituir uma colega que precisou sair por questões de saúde. Mas ela conseguiu com louvor e, mais uma vez, expôs sua competência para o público. Sua atitude, inclusive, jamais será esquecida pela produção de Império, afinal, caso houvesse uma recusa (o que seria compreensível, diga-se), corria o risco de jogar uma grande quantidade de capítulos no lixo.

Entretanto, a solução de Aguinaldo Silva, apesar de corajosa, deixou todo o contexto no mínimo bizarro. Se o folhetim fosse baseado no realismo fantástico – gênero que o autor domina, vide Pedra sobre Pedra, citando apenas um exemplo, a ideia seria ótima. Mas em uma obra realista fica estranho uma personagem voltar rejuvenescida tendo como única explicação: coisas estranhas acontecem.

Inicialmente, uma ‘plástica’ seria usada como desculpa, mas resolveram deixar de lado. Matar a vilã seria algo óbvio, mas colocar Marjorie vivendo uma impostora a mando da víbora seria bem mais interessante dramaturgicamente.

É preciso ressaltar que, independente da forma como ocorreu, a melhor substituta era mesmo Marjorie Estiano. Não havia outra atriz melhor para colocar no lugar, ainda mais porque foi ela quem viveu a vilã na primeira fase. E esta não foi a primeira vez que um ator/atriz foi substituído por outro(a). Um dos exemplos mais lembrados foi, sem dúvida, o de Brega & Chique (1987), quando Jorge Dória foi substituído por Raul Cortez. Mas, ignorando um pouco esta polêmica, não há como ignorar o equívoco no desenvolvimento de Cora.

Troca de atrizes à parte, a vilã foi uma promessa não cumprida. Na primeira fase, a personagem honrou o posto de peste e Marjorie Estiano se destacou em todos os quatro capítulos. Já na segunda fase, quando Drica entrou, o papel teve sua força aniquilada. Acabou virando um tipo mais voltado para a comicidade, com direito até a cenas onde cheirava cuecas e soltava gases. A grande vilã prometida nas chamadas se contentava apenas em fazer futricas. Mas, após muitas reclamações, o autor colocou Cora para matar: ela empurrou Fernando (Erom Cordeiro) da escada e armou para se livrar dele. A atriz pôde finalmente brilhar.

Porém, não foi o bastante para ‘reavivar’ a personagem. Aguinaldo Silva declarou nos últimos dias que não podia escrever muitas sequências pesadas para Drica, devido ao problema de saúde dela – ficou fragilizada após se curar do câncer. Ou seja, teoricamente, não foi possível fazer de Cora uma víbora digna de horário nobre. Só que independente da razão, a frustração se fez presente.

A saída de Drica Moraes resultou em uma grande perda para Império, que ficou sem uma de suas melhores atrizes. Mas a entrada da maravilhosa Marjorie Estiano foi uma substituição à altura, apesar do natural estranhamento que o contexto tosco desta chegada causa no telespectador. Aguinaldo Silva e Rogério Gomes precisaram lidar com um problema inesperado e tentaram resolvê-lo da melhor maneira possível.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor