Saiba o que aconteceu com a atriz que fez Maria Bruaca na primeira versão de Pantanal
28/05/2022 às 8h00
Conhecida por interpretar mulheres de personalidade forte na TV, teatro e cinema, Ângela Leal nasceu no Rio de Janeiro, em 8 de dezembro de 1947.
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Filha de Américo Leal, que foi o dono do Teatro Rival, a atriz cresceu praticamente com o teatro dentro de casa. Ela acompanhou de perto o auge e a decadência do teatro de revista.
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Formada em Direito pela UFRJ, chegou a exercer a profissão, mas logo decidiu atuar. Teve aulas com o ator Sérgio Britto e estreou nos palcos com o espetáculo Freud Explica!(Explica?).
Seu primeiro trabalho na TV foi na novela Irmãos Coragem, sucesso de Janete Clair, em 1970. Esteve em outros sucessos da mesma autora, como O Homem que Deve Morrer (1971), Selva de Pedra (1972) e O Semideus (1973). Fez parte também da clássica adaptação para a telinha de Gabriela (1975). No ano seguinte, atuou em duas produções seguidas no horário das 18 horas: Vejo a Lua No Céu e Escrava Isaura.
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Depois vieram Dona Xepa (1977), O Astro (1977), Água Viva (1980), O Bem – Amado (a série, em 1980), a minissérie Quem Ama Não Mata (1982), Roque Santeiro (1985), Tenda dos Milagres (1985) e o Sítio do Picapau Amarelo (1986).
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Sucesso como Maria Bruaca em Pantanal
Em 1986, a artista teve uma passagem pela Bandeirantes, na minissérie Carne de Sol. Foi contratada pela Rede Manchete num momento em que o canal estava investindo fortemente na teledramaturgia. Lá, participou de Novo Amor (1986) e A Rainha da Vida (1987). No mesmo ano, retornou à Globo, onde participou da segunda fase de Mandala.
De volta à Manchete, a atriz interpretaria um dos papéis mais importantes da sua carreira, a Maria Bruaca, uma mulher oprimida e submissa ao marido Tenório (Antônio Petrin), na primeira versão de Pantanal (1990).
“Para viver a Bruaca, eu me despi de qualquer cuidado com a beleza. Mesmo sabendo que não vou fotografar bem em certos momentos, vou fundo. O que me importa não são os seus ângulos ou facetas, e sim a personagem inteira. Enfim, ela é como se fosse a vitória da minha experiência, de um talento trabalhado, exercitado, batalhado”, relatou a atriz ao O Globo, em julho de 1990.
Ângela seguiu na Manchete, onde participou de A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991), Guerra Sem Fim (1993), O Marajá (1993), Tocaia Grande (1995), Xica da Silva (1996) e Mandacaru (1997).
Esteve na minissérie Chiquinha Gonzaga, na Globo, em 1999. No ano seguinte, foi para a Record e atuou na trama Vidas Cruzadas. Entre 2006 e 2007, fez parte de mais três produções da Globo: A Diarista, Páginas da Vida e Sete Pecados.
Ainda em 2007, a veterana atriz foi contratada pela Record e atuou em Amor e Intrigas. Nos anos seguintes, vieram Bela, a Feia (2009), Rei Davi (2012), Balacobaco (2012) e o remake de Dona Xepa, em que interpretou a famosa feirante, 36 anos depois de sua participação na versão exibida pela Globo. Seu último papel na televisão, até o momento, foi na série Sob Pressão, da Globo.
Infarto, câncer e aposentadoria
Ângela Leal resolveu se aposentar e passou a cuidar do Teatro Rival, que estava passando por um momento bastante delicado.
Sem o patrocínio da Petrobrás, o espaço estava prestes a ser fechado. A atriz sentiu esse baque e acabou sofrendo um infarto, em 30 de dezembro de 2019, após uma apresentação do cantor Ivan Lins.
“Acabei passando o dia 3 na UTI, acho que foi acúmulo. Eu já tinha tido um câncer, estava muito fragilizada e, quando veio o fim do patrocínio, vi que não ia dar mais”, contou a atriz ao jornal O Globo, em janeiro de 2021.
Entretanto, o Rival conseguiu um novo patrocínio.
“Começaram os telefonemas em solidariedade e um deles foi de uma pessoa que se dizia da Refinaria de Manguinhos, perguntando se a gente estava precisando de patrocínio. O mundo dá respostas. Se o pensamento desse governo que foi eleito legitimamente por um pedaço da sociedade é outro, o que resta agora é encarar e exigir que a cultura seja respeitada”, afirmou a artista, que se aposentou da cena artística após a descoberta de um câncer no fígado.
“Naquela época, tive um câncer no fígado, raríssimo, que não era metástase. Depois de nove horas de cirurgia, com direito a parada cardíaca, passei três dias entubada, mas sobrevivi. Depois da operação, fiquei com esse tremor (mostrando as mãos, trêmulas). Pensa: velha hoje só faz empregada doméstica. Imagine eu servindo um chá”, relatou Ângela ao O Globo.
Por onde anda Ângela Leal
Mãe da também atriz Leandra Leal, ela protagonizou, ao lado da filha, o filme Nada a Fazer, dirigido pela garota durante o período do isolamento social.
“Minha mãe teve câncer em 2018, e, desde então, eu queria fazer algo com ela. Ela falava que não ia mais atuar e eu ficava ‘não acredito que a pessoa que me formou atriz não vai me conhecer em cena!”, explicou Leandra em entrevista ao programa Conversa com Bial, exibido em abril de 2022.
Numa entrevista recente, a consagrada atriz fez uma reflexão sobre o preconceito que atrizes e atores mais velhos sofrem na mídia.
“A sociedade não enxerga os mais velhos como pessoas sábias, que cresceram na vida. A maioria das pessoas trata os idosos com paciência e caridade. Acho muito estranho. Existe um distanciamento, da mesma forma que fazem com as crianças. Isso se reflete nas obras teatrais e nas novelas”, criticou ela ao portal de Heloísa Tolipan, em maio de 2020.
Hoje, aos 72 anos e avó de Julia, ela se diz otimista com a atual situação que a cultura atravessa em nosso país.
”Eterna é a cultura. Sem ela, o povo não existe, não tem ritmo, não tem cara, não tem nada, é um povo perdido. Acho que, por mais terrível que seja o momento, e é terrível, a cultura vai superar, como sempre superou. Ninguém conseguiu acabar com a cultura. Tivemos momentos terríveis, como agora. Mas eles passarão, e nós, passarinho”, finalizou.