16 anos atrás a Record ensaiava o plano, hoje em ação com Belaventura e O Rico e Lázaro, de ter duas novelas em sua grade. A investida esbarrou no insucesso de Roda da Vida, que chegou ao fim em 31 de agosto de 2001, após aproximadamente 120 capítulos de audiência aquém das expectativas e indefinições acerca de uma possível substituta – que acabou não vindo.

Números à parte, ‘Roda’ trazia uma trama folhetinesca, carregada de temas fortes e com bons nomes egressos de sucessos então recentes da Globo – Juan Alba, de Terra Nostra (1999); Adriana Garambone, de Esplendor (2000); Eliete Cigarini, Henri Pagnocelli e Paulo Figueiredo, de Laços de Família (2000); além do diretor Del Rangel, parceiro de Luiz Fernando Carvalho na minissérie Os Maias (2001).

No passado, os pais da então menina Sofia (Helena Fernandes), grileiros, foram expulsos da fazenda Sonho Dourado, propriedade da família Almeida Alencar. Se alocaram numa favela, devastada num incêndio que lhe deixou órfã, passando a contar apenas com o auxílio de Malaquias (Tony Tornado). Anos depois, Sofia usa seu charme para seduzir Marcelo (Henri Pagnocelli), herdeiro do clã que abomina.

Mas uma tragédia frustra os planos da vingadora: Marcelo morre, baleado pelo próprio filho! Alex (Emílio Orciollo Netto) planejava dar cabo de Caio (Carlos Casagrande), após descobrir que este engravidara sua irmã, Tamires (Cássia Linhares). Caio era filho de Daniel (Paulo Figueiredo), irmão de Marcelo, com Cibele (Cléo Ventura), irmã de Camila (Eliete Cigarini), a mãe de Alex e Tamires.

No enterro do amante, Sofia conhece Alex e decide fazer dele o seu novo elo com os Almeida Alencar. Mas a paixão por Caio – também alvo das investidas da caipirona Cidinha (Adriana Garambone), filha de Joaquim (Altair Lima) – demove a moça de seus intentos criminosos. Entretanto, logo o telespectador descobre a existência de Eloá (Cláudia Liz), irmã de Sofia, que planeja levar a vingança adiante.

O ódio de Eloá cresceu quando seu chefe Alan Lee (Juan Alba), proprietário da indústria de cosméticos Erks e que já havia sido amante de Sofia, se apaixonou por Tamires. Já Alex, em crise existencial, enveredou para as drogas. O Professor Vidal (Cláudio Cavalcanti), responsável por um cursinho pré-vestibular, tentava impedir seus alunos de serem rendidos pelo traficante Rafa (Rodrigo Veronese). Quase conseguiu.

A jovem Kika (excelente desempenho de Samantha Monteiro) protagonizou cenas fortes – de injetar drogas a ser amarrada pela mãe, Heloísa (Nicole Puzzi, também ótima), em casa. Destaque também para Elza (Selma Egrei, em grande papel), que sofria com o marido violento, Geraldo (Clemente Viscaíno), ao mesmo tempo em que se revelava uma fortaleza, no apoio ao filho homossexual Ronaldo (Ernando Tiago).

Com capítulos estimados em R$ 80 mil, e gravações em cidades do interior de São Paulo (como Valinhos e Cotia), Roda da Vida já estreou com problemas nos bastidores: a autora Solange Castro Neves – que atualizou Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994) com Ivani Ribeiro – teria de deixar a produção a cargo dos colaboradores, Enéas Carlos e Maria Duboc, para cuidar da novela substituta.

Solange chegou a desenvolver a sinopse da trama seguinte, Silêncio da Mata, ambientada na Mata Atlântica ou em Amazonas. Sabe-se lá por quê o projeto não foi adiante. A Record ainda ensaiou uma parceria com uma produtora independente, intentando adaptar Norte das Águas, livro de contos de José Sarney; um projeto ousado, que previa gravações no Maranhão, curral eleitoral do político aposentado.

Na mesma época, a Record ensaiava abrir um segundo horário, às 19h ou às 21h – este testado com a novela Samantha, importada da Venezuela. Cogitaram para a faixa uma sinopse de Vivian de Oliveira, Cafezais, sobre o ciclo do café em São Paulo no início do século XX; e Felizes Para Sempre, ambientada em Fortaleza, sobre o dono de um parque temático que contrata um dublê para encontrar uma mulher para ele.

Todos os planos acabaram frustrados, em parte, pela mexidas da emissora em sua programação. Tendo estreado às 20h20, Roda da Vida foi remanejada em seu último mês para 20h45, concorrendo com a exitosa Porto dos Milagres, em razão da estreia da infanto-juvenil Acampamento Legal, produzida pela Casa de Vídeo. E assim a Record “enterrou” seu departamento de teledramaturgia, reavivado em 2004.

E a última curiosidade: a abertura de Roda da Vida era exibida no final do capítulo.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.