Romance do Comendador com Ísis foi um dos maiores equívocos de Império

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Há reprises que envelhecem mal ou então despertam um novo olhar do público após anos da primeira exibição. O caso de Império, novela de Aguinaldo Silva atualmente reprisada no horário nobre, não chega a ser um caso de enredo que tenha envelhecido mal. Porém, a relação entre José Alfredo (Alexandre Nero) e Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) provoca uma percepção que em 2014 muitos não tiveram ou ignoraram.

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O casal sempre foi tratado pelo autor como uma espécie de ‘mocinhos’, ainda que o Comendador tenha passado longe do tipo heroico. Aliás, uma das qualidades da novela foi o protagonismo de um personagem com tantas camadas e com sérios desvios de caráter. Uma atitude ousada e válida, que fez muito sucesso. Mas o par formado por Zé Alfredo e Isis é problemático em vários aspectos.

E vale ressaltar que o romance não teve uma grande aceitação na época, por mais que Aguinaldo tenha se esforçado. Grande parte do público ficou do lado de Maria Marta (Lília Cabral). Ou seja, a situação não envelheceu mal porque na época já não tinha obtido o êxito desejado. Mas os motivos da relação do personagem central com sua amante ter sido um erro não foram muito comentados.

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O fato é que o contexto peca logo no início quando apresenta Maria Ísis como uma garota que não faz nada da vida e vive em um apartamento de luxo bancado por um homem que tinha idade para ser seu pai. Nada contra relações com diferenças de idade, mas a situação desperta incômodo a partir do momento em que o Comendador chama a amada de sweet child (doce criança).

Até porque a personagem realmente parecia uma menina na adolescência. Com direito até a brinquedos de pelúcia. E estava sempre de lingerie esperando o ‘seu amor’ chegar. Detalhe: o protagonista só ia lá quando queria transar.

Para culminar, Maria Ísis era proibida de trabalhar ou estudar. Vivia trancada em casa. Portanto, analisando friamente, a garota parecia uma prostituta de luxo. Mas tudo era romantizado ao extremo, mesmo o relacionamento sendo um caso extraconjugal do Comendador. Até cena fofa de ‘casamento’ em um lugar paradisíaco teve.

Vale criticar também a forma rasa como Aguinaldo expôs o casamento conturbado entre Zé e Maria Marta. Na primeira fase, os dois construíram uma ótima relação. Já na segunda começam brigando e depois é mostrado que a razão foi uma tentativa de golpe de Marta na empresa. Seria bem mais interessante uma melhor construção no relacionamento do personagem com sua esposa, o que só foi feito na última semana, e expôs a torcida do público pelo par, ao contrário do que aconteceu com Isis.

Ao longo da novela, Zé Alfredo até permite que Isis trabalhe em um restaurante, mas nada ameniza a situação do casal. A ‘objetificação’ da personagem segue durante toda a história. O autor ainda a coloca como uma sonsa, por mais que não tenha a intenção. Isso porque Isis não contou a Maria Marta que o Comendador estava vivo, após a armação do protagonista, que fingiu sua morte para escapar da polícia federal. Era uma obrigação da amante. Afinal, a esposa do ‘então falecido’ colocou o orgulho de lado e deixou a rival se despedir no ‘velório’ e ainda a tratou com respeito.

Outro erro da narrativa é colocar Isis como um poço de virtudes a ponto de se achar no direito de dar lição de moral nos demais. Vide a recente cena em que a personagem esbofeteia Cora (Marjorie Estiano) e a chama de vadia por dar em cima de ‘seu homem’. Ela é a amante de Zé Alfredo. Qual o sentido?

Império é uma novela com vários problemas visíveis e um deles é a forçação em cima do casal formado pelo Comendador e Maria Isis. Alexandre Nero e Marina Ruy Barbosa não tiveram nada a ver com a narrativa equivocada, mas Aguinaldo Silva errou feio.

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