Uma única temporada. Seis episódios. 57 minutos cada um. Produzida em 2015, River – série da BBC disponível na plataforma da Netflix – é completa. Tem suspense, tem mistério, tem reviravoltas inesperadas… Tem romance.

No ano passado, ouvi um tio dizer: “Netflix é excelente, tô assistindo um seriado chamado River, o detetive vê gente morta, é muito bom”. Fiquei pensando na época: “Ah, mas o que isso tem de tão atrativo? Não é a primeira história de ‘gente morta’ que vira série ou filme”.

Mas resolvi começar a assistir a série – sem esperar muita coisa, confesso – apenas para ver no que dava. Sou daqueles que não fica pesquisando muito sobre o que vai assistir, leio uma breve sinopse e começo – às vezes nem sinopse leio. Acho que, como escrevo sobre séries às vezes, isso torna o meu texto ‘mais meu’, sem impressões de críticas de outras pessoas, análises aprofundadas, etc.

E o resultado foi dos melhores. A série é completa, com uma história surpreendente e bem delimitada, atores muito bons e personagens excelentes. Vou tentar sintetizá-la sem revelar surpresas da atração, mas mesmo eu cometa algum deslize, vale assistir de qualquer forma.

O detetive John River (Stellan Skarsgard) tem um dom – mentira, é uma maldição -, ele vê pessoas mortas (como meu tio me disse) e conversa com elas. Para os outros, ele é um louco que fala sozinho. Sem o seu ponto de equilíbrio (ele perde sua parceira), ele começa a se perder cada vez mais, tendo que lidar com seu dom/maldição, seus outros conflitos ‘normais’ do dia a dia e a busca pela pessoa responsável pela morte da sua parceira – e amiga, Stevie.

Não encontrei um trailer satisfatório e com legenda, mas segue um teaser abaixo:

Voltando ao assunto, basicamente é essa a história. Simples? Nada de mais? Até pode parecer, mas não é. Skarsgard está excelente no seu papel de detetive perturbado e desencaixado da sociedade. Ele vive bem o personagem e todos seus conflitos, suas emoções, suas loucuras, seus sentimentos mais profundos.

Ele é solitário, esquisitão, atormentado – não apenas por fantasmas – e extremamente competente. Por isso – não só por isso, mas não digo mais -, sua superior, Chrissie Read (Lesley Manville), tenta acobertar seus rompantes e tê-lo em sua equipe. A taxa de crimes solucionados por River é excelente (mais de 80%, se não me engano.)

River é uma série compassada, a história vai evoluindo, novas tramas adicionadas, os personagens vão se desenvolvendo. Tudo num ritmo natural, sem pressa, que é para você vivenciar cada segundo da história, cada detalhe, cada momento, cada conflito humano. Acho que é exatamente isso, apesar de suas loucuras, John River é humano e seu sofrimento é despertador de compaixão e compreensão.

Confesso que sabia quem era a pessoa responsável pela morte de Stevie no segundo episódio. Minha taxa de desvendar criminosos em série é menor que a do River, mas ainda é boa. Mas isso nada atrapalhou em acompanhar a série, pelo contrário, fiquei mais apreensivo em saber o que de fato aconteceu, quem assassinou Stevie, como terminaria o seriado e como John River ficaria ao final.

Terminei de assistir os dois episódios finais na manhã desta quinta-feira, 27/07 (acordei às 5h para terminar de ver e escrever minha coluna) e, sobre o final, devo dizer: UAU. É emocionante. É triste, mas é bonito ao mesmo tempo. É um ‘encerramento’ grandioso digno do personagem grandioso que River é.

O final de River deixa em todos aquela sensação de “não deixe nada para amanhã”. Nada mesmo. Eu sou daqueles que dizem o que sentem, mesmo parecendo louco, que vivem o que de fato sentem (e dizem!). Como dizia o Renato Russo, ‘… é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã…’. É verdade, se você parar para pensar, na verdade não há.

Então, fica minha dica da quinzena (atrasada, eu sei!), mas assistam River, vivenciem cada detalhe da série, reflitam junto com os bons personagens (só citei dois, mas tem outros, Ira, por exemplo, novo parceiro de John). E, mais do que tudo, pensem nisso, de dizer, de viver o que se sente, de valorizar quem faz seu mundo sorrir. Encare as coisas como se não fosse dar tempo de dizer ‘eu te amo’ amanhã, porque nunca sabemos quando o fio da vida pode se romper para sempre.

Detalhe para um desabafo emocionante do River:

“- O que você queria ter dito?
– Tudo que queremos dizer a alguém que some de repente. Que sente saudade. Que o ar sai dos nossos pulmões assim que ela se vai. Que eu nunca mais vou inalar totalmente do mesmo jeito. Que eu tenho saudade. Que meus dentes doem de tanta saudade.”

Ah, já ia me esquecendo, a série tem uma música muito legal que eu não conhecia, de 1976. Fica na cabeça, tenho cantado ela sozinho esses dias. I love to Love, de Tina Charles. Ouça:


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Inquieto e ansioso desde 1987, Jônatas Mesquita é jornalista e viu o TV História dar os primeiros passos, das viagens regadas a tubaínas e FIFA à audiência europeia. Vive em Lisboa e não precisa de dublagem para assistir às novelas portuguesas Leia todos os textos do autor