André Santana

A Globo está apostando alto em Elas por Elas, próxima novela das seis que será estrelada por Deborah Secco (abaixo) e grande elenco. A emissora joga suas fichas na memória afetiva do público ao clássico de Cassiano Gabus Mendes, tática que funcionou bem em Pantanal (2022). Além disso, o canal oportuniza que um novo público descubra o enredo, que está sendo reescrito por Alessandro Marson e Thereza Falcão.

Deborah Secco em Salve-se Quem Puder
Deborah Secco em Salve-se Quem Puder (divulgação/Globo)

No entanto, tamanha confiança pode se revelar um problema. Afinal, Elas por Elas foi, em 1982, uma típica novela das sete, bastante baseada no humor. Será que a história vai funcionar no horário das seis, que tem demandas diferentes?

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Seis x sete

Brega & Chique
Marco Nanini e Marília Pêra em Brega & Chique (divulgação/Globo)

A comédia sempre esteve presente na obra de Cassiano Gabus Mendes, considerado um dos “inventores” do formato de novela das sete que é seguido até os dias de hoje. Foi depois que o autor emplacou clássicos como Ti Ti Ti (1985), Brega & Chique (1987) e a própria Elas por Elas, a comédia passou a dominar o horário.

Além dele, Silvio de Abreu também aperfeiçoou a fórmula, com os sucessos de Guerra dos Sexos (1983) e Cambalacho (1986). Os novelistas tiveram “herdeiros” que deram sequência ao legado, como Carlos Lombardi, Antonio Calmon, Miguel Falabella e Maria Adelaide Amaral.

Enquanto isso, a faixa das seis sempre foi destinada às histórias de amor. O horário foi criado com adaptações de romances, e a tradição se manteve mesmo quando os livros deram espaço às histórias originais. O atual cartaz, Amor Perfeito, é um exemplo disso: um romance de época bem açucarado e maniqueísta – e inspirado numa obra literária, Marcelino Pão e Vinho.

Adaptação

Protagonistas do remake de Elas por Elas
Protagonistas do remake de Elas por Elas (divulgação/TV Globo)

Sendo assim, Elas por Elas precisará passar por uma adaptação para se adequar ao horário das seis. Segundo informações da imprensa, os novos autores pretendem aumentar a dose do romance e deixar a comédia em segundo plano, o que já indica uma nova perspectiva.

No entanto, a atriz Monica Iozzi – que viveria a personagem Natália, mas acabou deixando a produção – deu uma entrevista recente ao canal UOL e ressaltou o bom humor do texto. Ou seja, Alessandro Marson e Thereza Falcão não devem se furtar a fazer graça no folhetim.

Aliás, a própria presença de Iozzi indicava isso, já que se trata de uma atriz bastante vinculada ao humor. Sua substituta será Mariana Santos, também conhecida como atriz cômica. No entanto, cabe ressaltar que a personagem Natália, que foi vivida por Joana Fomm em 1982, é a mais soturna das sete mulheres que lideram o enredo.

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Experiência malsucedida

Negócio da China - Fábio Assunção e Grazi Massafera
Grazi Massafera e Fabio Assunção em Negócio da China (Divulgação / Globo)

Quando se fala numa novela das sete adaptada ao horário das seis, logo vem à mente Negócio da China (2008), um dos maiores fiascos da faixa. Escrita por Miguel Falabella para às 19h, a trama traria o conhecido humor nonsense do dramaturgo em mais uma de suas incursões no horário – onde foi bem-sucedido com Salsa e Merengue (1996) e A Lua me Disse (2005).

No entanto, em 2008, a Globo vinha enfrentando uma queda de audiência na faixa das seis e constatou a saturação das novelas de época, que dominavam o horário. Com isso, o canal ousou e trouxe Negócio da China para a faixa das 18 horas. Falabella prometeu realizar a mesma adaptação prometida agora com Elas por Elas: reduzir o humor e aumentar o romance.

Não deu certo. Sem o conhecido humor corrosivo do autor, Negócio da China ficou insossa. E os romances não eram lá muito envolventes, o que deixou tudo bastante morno. Resultado: a novela afugentou o público e foi um desastre, registrando os piores índices de audiência do horário até aquele momento.

“Tentei uma sutileza no perfil dos personagens, mas descobri que o público não quer sutileza. As pessoas querem um galã evidente, um vilão segurando uma tabuleta onde está escrito ‘vilão’. E por aí vai”, explicou Falabella à Patrícia Kogut na época. “Novela das seis nunca mais, não é meu perfil”, cravou.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor