No ar em Terra e Paixão, Walcyr Carrasco é considerado um curinga na Globo. Tanto que o autor é sempre convocado para assumir horários que estão com audiência baixa, na incumbência de elevar os números. Além disso, o autor também já foi chamado para assumir uma novela que não era sua, o que quase lhe rendeu um problema sério.
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Isso aconteceu quando Carrasco foi convocado para substituir Benedito Ruy Barbosa à frente de Esperança (2002). Na época, a produção amargava baixos índices de audiência e sofria com pouca frente de gravações, já que Benedito estava atrasando a entrega dos capítulos.
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Mas a substituição não foi tão amigável quanto parecia a princípio. Tanto que Benedito chegou a ameaçar “dar uma porrada” em Carrasco.
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Atrasos
Esperança estreou em 17 de junho de 2002 e, apesar do início promissor (47 pontos e picos de 51) e de sobreviver ao horário político, a audiência passou a despencar a cada capítulo. Para agravar a situação, as gravações da novela se encontravam muito atrasadas. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, os atores estavam gravando as cenas apenas dois dias antes de irem ao ar.
Na época, Benedito Ruy Barbosa tentou explicar os motivos do atraso.
“É difícil, porque eu escrevo sozinho, mas estou conseguindo me adiantar outra vez. Eu achava que estava com 10 capítulos de frente e, de repente, descobri que estava atrasado, porque os capítulos vinham sendo reeditados e espichados todos os dias”, disse ele, em entrevista ao jornal O Globo em 22 de setembro de 2002.
Devido a esse atraso, o elenco acabou sendo obrigado a trabalhar exaustivamente. Ana Paula Arósio, a intérprete de Camilli, chegou a ser vista cochilando nos intervalos enquanto esperava a sua hora de entrar no estúdio.
Mau momento
Em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do projeto Memória Globo, Benedito Ruy Barbosa declarou que se encontrava vivendo um momento dramático em sua vida pessoal quando estava escrevendo Esperança.
“Eu não queria que a novela fosse ao ar junto com a Copa do Mundo (de 2002, da Coreia do Sul e do Japão) e o horário político. Achei que me prejudicaria. Mas teimaram e fizeram mesmo assim. Além disso, minha mãe estava doente. Eu deixava de escrever para ir ao hospital, voltava para casa chocado, tentava escrever. Foi ficando muito difícil para mim até que, um dia, resolvi parar”, contou.
Troca de autores
Quando chegou o mês de novembro, Benedito Ruy Barbosa deixou a autoria da trama, assim como suas filhas Edmara e Edilene, que eram as suas colaboradoras. Em seu lugar, a Globo chamou o experiente Walcyr Carrasco para dar continuidade à obra, a partir do capítulo 149. O novo autor contava com a colaboração de Thelma Guedes.
Carrasco chegou a dizer na imprensa que respeitaria ao máximo o texto que Benedito construiu, pois achava a novela magnífica. No entanto, não foi bem isso que aconteceu. Carrasco mudou totalmente a história que estava sendo apresentada até então: criou entrechos, incluiu novos personagens e alterou a personalidade de alguns. A audiência, claro, correspondeu, mas não o suficiente para Esperança deixar de receber o infame título de produção de mais baixa audiência do horário até então.
Benedito, que chegou a classificar o seu substituto como “um ótimo autor e de um belo caráter”, disse tempos depois, em entrevista ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes, que pensou em agredi-lo.
“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele”, disparou. ‘Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz (então diretor artístico da Globo) e disse ‘avisa o Walcyr que quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’ Ele simplesmente acabou com a minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! O sujeito andava ressabiado comigo. No fim, tudo terminou bem. Acendemos o charuto da paz”, completou.
Ninguém bota a mão
Em 2016, o veterano travou uma nova briga, desta vez contra o então diretor de Dramaturgia da Globo, o novelista Silvio de Abreu. Em entrevista ao jornalista Maurício Stycer do UOL, Benedito afirmou que só continuaria à frente dos roteiros de Velho Chico, caso Silvio não interferisse em seu trabalho.
“Na sequência, veio Velho Chico e eu falei para o (Carlos Henrique) Schroder (diretor-geral da Globo): ‘Lamento muito. Não tenho nada contra o Silvio de Abreu, é um autor reconhecido na Globo, mas eu não quero que ele leia sinopse minha. E não quero que ele palpite na minha novela. Não quero que ele leia e que ele ponha a mão na novela’. E o Schroder, que já conhecia a história todinha, concordou plenamente. E avisou o Silvio de Abreu: ‘Na novela do Benedito não mexa. Nem música, nem texto, nem nada’. O Schroder foi muito leal comigo”, disse o novelista.