Reprise mostrou que novela das seis deveria ter tido final bem diferente

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A primeira exibição de A Vida da Gente estreava exatamente há 11 anos, em 26 de setembro de 2011. A novela preciosa de Lícia Manzo sempre foi uma das mais elogiadas da Globo e se tornou a segunda mais vendida no mercado internacional.

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A reprise, 10 anos depois, por conta da pandemia, comprovou todas as qualidades já observadas na época. Foi um novelão inesquecível. Mas o olhar do público muda ao longo do tempo. É natural. E revendo a história é possível constatar que o final deveria ter sido outro.

A autora criou um enredo fascinante e envolvente, onde o vilão era a vida e todos os personagens tinham qualidades e defeitos. Era possível entender o lado de todos, dependendo da perspectiva de cada um. Por isso, o público se torna tão passional quando acompanha a história e sente uma intimidade com aquelas pessoas que parecem tão reais.

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Novela nunca foi sobre casais

O triângulo amoroso envolvendo Manu (Marjorie Estiano), Rodrigo (Rafael Cardoso) e Ana (Fernanda Vasconcellos) é o que mais desperta sentimentos no telespectador. Muito pela forma como tudo aconteceu. Mas a novela nunca foi sobre casais. A autora contou uma história de amor entre irmãs. O resto era consequência.

E observando com maior atenção todo o novelo tão bem criado por Lícia, já com alguns pensamentos diferentes dos de 10 anos atrás, não é absurdo achar que os três personagens deveriam ter terminado sozinhos. Um final infeliz, então? Um desfecho sofrido? Muito pelo contrário.

A chance de um término mais tranquilo, justo e sem situações inacabadas seria bem maior. Isso quer dizer que o encerramento do folhetim envelheceu mal, como ocorreu em várias obras de Manoel Carlos? Não.

A cena final de A Vida da Gente é um primor e merece elogios eternos. A simbólica imagem de Ana, Lúcio (Thiago Lacerda), Júlia (Jesuela Moro), Manu e Rodrigo caminhando é de uma sensibilidade ímpar.

Conduta dos personagens

Todavia, é necessário analisar melhor a conduta dos personagens. Ana e Manu sempre se amaram e eram melhores amigas, além de cúmplices, mesmo tendo uma mãe narcisista que tentava a todo momento colocar uma contra a outra.

Inevitavelmente, algumas mágoas foram guardadas com o tempo. Rodrigo era irmão de criação das duas durante a época em que Eva (Ana Beatriz Nogueira) estava casada com Jonas (Paulo Betti). Ele e Ana flertavam, mas nunca tiveram coragem de iniciar nada. Até que um dia houve uma transa, que resultou em uma gravidez e a partir dali a vida de todos sofreu uma avalanche.

Ana foi levada para longe, pela mãe, para dar a criança e assim seguir sua carreira como tenista. Após o parto, Ana desistiu do acordo e tentou fugir com Manuela. As duas acabaram sofrendo um acidente de carro e Ana entrou em coma. Manu se tornou a responsável pelo bebê e Rodrigo descobriu que era o pai, o que implicou em uma maior aproximação com Manuela.

Paixão e crise

Ao longo dos anos e com a falta de esperança dos médicos de um retorno de Ana, Manu e Rodrigo se envolveram e se apaixonaram. A relação só ocorreu quando Rodrigo tomou a iniciativa e convenceu Manu que não estavam fazendo nada de errado. O tempo novamente passou e os dois se casaram. A relação se tornou a mais linda de um casal na novela.

Após uma nova passagem de anos, Ana acordou do coma e o casamento entrou em crise. Manu e Ana acabaram rompendo porque Eva fez questão de contar pra filha favorita toda a história da forma mais venenosa possível. Só que Ana descobriu o blog que Manu fez para ela, contando sobre o crescimento de Júlia, e as duas reataram.

Entretanto, não demorou muito e a amizade das irmãs logo se desfez mais uma vez. Isso porque Manu sentiu um clima estranho entre os três e tentou arrancar de Ana e Rodrigo se eles ainda se amavam. Os dois negaram várias vezes, mas Manu flagrou um beijo e rompeu de vez, seguindo sua vida longe de todos.

Acerto de contas

Após todo esse conjunto irresistível de conflitos, houve a cena mais emblemática da novela: o acerto de contas entre as irmãs. Que na verdade se torna um rompimento ‘definitivo’ em virtude da avalanche de ataques que uma proferiu para a outra. E a discussão ocorreu em um momento da história onde Ana estava prestes a se casar com Lúcio e Manu iniciava um namoro com Gabriel (Eriberto Leão).

Após ter ouvido de Manu que ainda sente amor por Rodrigo – na verdade, por conta de um ato falho da própria -, Ana decidiu romper com médico pela segunda vez. Vale lembrar que na primeira Lúcio colocou um ponto final porque viu o sentimento que a então namorada tinha pelo ex. Foi um término bonito.

Já o segundo rompimento resultou em uma justificada indignação de Lúcio, que caiu novamente em um buraco de mágoas. Depois disso tudo, quem perdoaria? Difícil.

Já Rodrigo, quando descobriu que Ana e Manu brigaram, correu atrás de Ana para implorar uma nova chance. Aliás, vale um adendo. O personagem sempre se aproveitou dos momentos de fragilidade emocional de Ana para conseguir o que queria. Isso, dez anos após a primeira exibição, gera um grande incômodo.

Manuela é tratada por ele como segunda opção, assim como Ana trata Lúcio como válvula de escape para seus problemas e indecisões. E Manu nunca conseguiu amar Gabriel. Seu amor por Rodrigo era real, enquanto Rodrigo se portou inúmeras vezes como um egoísta, onde apenas a felicidade dele importava.

Nunca se preocupou com os sentimentos da filha diante daquelas idas e vindas amorosas e muito menos com a relação das irmãs Ana e Manu. Se Júlia se ferisse ou se as irmãs nunca mais se falassem, tanto fazia para ele. Na época, Rodrigo parecia uma espécie de ‘prêmio’ para qualquer uma das duas. Dez anos depois, virou estorvo.

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Como deveria ter sido o final

Manuela não deveria ter perdoado o ex depois de tudo o que aconteceu, assim como Lúcio não deveria ter voltado para Ana, após tantas feridas provocadas por ela, mesmo sem a intenção.

O final ideal seria Manu, Rodrigo e Ana sozinhos, reavaliando a vida. Rodrigo visitando a filha e ficando mais perto de seu irmão, Tiago (Kaic Crescente), e o médico reatando com Laura (Vanessa Lóes).

Já a cena linda e poética do último capítulo deveria ser Ana, Júlia e Manu juntas, felizes, se cuidando e se apoiando, após tanto sofrimento. Uma paz tão almejada por elas e com a possibilidade de novos amores no futuro.

A Vida da Gente foi uma novela irretocável e o desfecho emocionou, mas não custa idealizar algo diferente com a nova percepção que 10 anos de maturidade tem na vida de qualquer um.

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