Para suceder o grande sucesso de Cheias de Charme, fenômeno do horário das 19h em sua exibição original em 2012 e que repetiu o bom desempenho no Vale a Pena Ver de Novo, a Globo escalou Senhora do Destino (2004), grande sucesso de Aguinaldo Silva, já reprisada em 2009.
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A escolha da novela veio facilitada pela queda da vinculação horária da classificação indicativa – restrição que determinava que programas classificados em algumas faixas fossem exibidos apenas a partir de determinado horário: 12 anos às 20h, 14 anos às 21h e assim por diante. Ainda assim, a nova reprise pode ser uma boa prova do quanto a novela resistiu (ou não) ao tempo.
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A saga de Maria do Carmo (Carolina Dieckmann/Susana Vieira) e seus filhos em busca de uma vida melhor no Rio de Janeiro, marcada pelo sequestro da filha mais nova, Lindalva, emocionou o público na época. As maldades de Nazaré (Adriana Esteves/Renata Sorrah) credenciaram a personagem a figurar na galeria das grandes vilãs da história – e, mais recentemente, renderam até memes conhecidos mundialmente. O jeitão cafona de Giovanni Improtta (José Wilker), um antigo personagem de Aguinaldo, garantiu gargalhadas com suas pérolas.
Ainda assim, a trama não deixou de apresentar pontos negativos que ficaram mais evidentes na nova reprise. Um deles é o romance cansativo entre Políbio/Shao Lin (Leonardo Miggiorin) e Lady Daiane (Jéssica Sodré). A rebeldia da garota e sua desobediência à mãe, a sofrida Rita (Adriana Lessa), chegam a irritar. Tanto que ela passa a ter uma função importante apenas quando fica grávida do rapaz, abordando os perigos da gravidez adolescente.
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Outro ponto negativo é Plínio (Dado Dolabella), o mais desinteressante dos filhos de Do Carmo. Um rapaz pegador que não gosta de ter responsabilidades na vida, mas precisou mudar de atitude após conhecer Angélica (Carol Castro) – uma moça apresentada como suposta filha de Do Carmo – e engravidar uma empresária (Yara, personagem de Helena Ranaldi). A personalidade irresponsável de Plínio era cansativa e a fraca atuação de Dolabella também contribuiu para isso.
Ainda deve-se destacar a edição arrastada e a quantidade de cortes ainda maior do que em 2009, o que dá a impressão de que os capítulos têm pouco a mostrar e tira o impacto de sequências inesquecíveis, como aquela em que Zé Carlos (Tarcísio Meira), marido de Nazaré, rola da escada antes de morrer – cena que chegou a ser divulgada nas chamadas, mas foi apagada na exibição. O formato de edição de imagem também desagrada, pois dá a impressão que foi cortado da imagem original SD (4:3) para caber no padrão HD (16:9) sem precisar se utilizar das barras laterais verticais ou esticar a imagem, como normalmente faz o Viva.
Apesar destes defeitos, o conjunto da trama no geral ainda é bastante atraente. Maria do Carmo foi o último grande personagem de Susana Vieira e foi uma protagonista cativante: uma mulher de fibra, coragem e força. Mesmo em meio ao fenômeno Nazaré, Do Carmo conseguiu impor sua presença e protagonizou grandes embates com a colega Renata Sorrah.
José Mayer, por sua vez, chamou a atenção ao viver o jornalista Dirceu, um tipo sério e contido, diferente dos “machos alfa” a que normalmente é associado. Eduardo Moscovis, em uma de suas últimas novelas na carreira, retratou perfeitamente o cinismo e a canalhice de Reginaldo, o primogênito de Do Carmo, político populista que é capaz de prejudicar até sua própria família para se dar bem. E Letícia Spiller também viveu seu último grande personagem, a maquiavélica e sedutora Viviane, assessora e amante de Naldo.
O saudosismo também está presente através de vários grandes talentos que nos deixaram: Raul Cortez, cujo último papel da carreira foi o divertido Barão de Bonsucesso; José Wilker, que conquistou o público (e o coração de Do Carmo) com seu “felomenal” Giovanni Improtta; Yoná Magalhães, que interpretou Flaviana, sogra do bicheiro, que vive às turras com ele; Nelson Xavier, como o motorista Sebastião, irmão de Do Carmo e pai conservador, um tipo facilmente encontrado em muitas famílias; Mara Manzan, que viveu Janice, esposa de Sebastião; e Miriam Pires (como Clementina, empregada de longa data e amiga conselheira de Do Carmo).
Senhora do Destino é um clássico da obra de Aguinaldo Silva e mereceu muito o sucesso que fez em sua exibição original, assim como a boa audiência que mantém atualmente. Ainda assim, a novela é uma prova de que, com o passar do tempo, um olhar mais apurado pode revelar que alguns elementos que na época agradavam hoje não funcionam. Mesmo com alguns defeitos mais evidentes e uma edição lenta, a novela tem resistido bem ao tempo.