A reapresentação de Senhora do Destino em Vale a Pena Ver de Novo foi interpretada como uma resposta da Globo às novas normas da classificação indicativa, que não mais restringe a exibição de produtos direcionados para determinadas faixas etárias a certos horários – ao menos que haja excessos no conteúdo, como sexo e violência, podendo implicar em desagravos às emissoras.

Parecia que, diante deste novo cenário, a Globo apostaria numa versão mais pesada de ‘Senhora’, mutilada diante de uma ameaçadora troca de horário em sua primeira reexibição, em 2009. Ledo engano. A saga de Maria do Carmo (Susana Vieira) está “mais suave” agora do que antes. Conflitos de personagens secundários são mantidos na íntegra, enquanto a tesoura da edição age sobre o que o folhetim de Aguinaldo Silva tem de mais forte, em todos os sentidos: a vilã Nazaré Tedesco (Renata Sorrah).

A empreitada se revelou bem-sucedida, até o momento: Senhora do Destino já acumula 17,54 pontos, superando a exitosa O Rei do Gado (1996), outra velhinha, reexibida pela segunda vez em 2015 – além de um repeteco no VIVA em 2011 – com 17,4 pontos de média final. Com 156 capítulos (e caminhando para bater o recorde de Caminho das Índias (2009) em 2014, com 180 episódios), Senhora do Destino será substituída por Celebridade, trama que a antecedeu no horário original, 20h.

Sabemos que a obra de Gilberto Braga passará pelos mesmos “perrengues” que a saga de Aguinaldo Silva: cortam os excessos dos vilões Laura (Cláudia Abreu), Marcos (Márcio Garcia) e Renato (Fábio Assunção); mantém os dilemas do alcoólatra Cristiano (Alexandre Borges), do depressivo Inácio (Bruno Gagliasso) e da virginal Sandra (Juliana Knust). A receita é eficaz: com um título forte em exibição, não há edição que aplaque o sucesso do ‘Vale a Pena’.

Mais uma vez, aposta-se na figura da vilã – ironia do destino, sempre a mais prejudicada: vai Nazaré e vem Laura, como ressalta a nota que anuncia a reapresentação no GShow, portal de entretenimento da Globo. Se Celebridade, que sequer estreou e já ocupou (por horas) os TrendingTopics do Twitter, emplacar, podemos esperar por outra maléfica na sequência. Virá Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita (2008), ou Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil?

Fato é que títulos até então impensáveis para a faixa de reprises vespertinas agora ocupam o radar da emissora e do público. Após anos de tramas amenas – inclui-se aí as sucessivas “re-reprises” e a “febre” Walcyr Carrasco, que trouxe até a enfadonha Sete Pecados (2007 / 2011) – agora já nos permitimos pensar em rever América (2005), de Gloria Perez, da incrível A Força do Querer (2016). Ou Paraíso Tropical (2007) e Insensato Coração (2011), do mesmo Gilberto Braga (com Ricardo Linhares).

Talvez agora tenhamos a chance de curtir Porto dos Milagres (2001), barrada pelo Ministério da Justiça em fevereiro de 2006; ainda, Belíssima (2005), preterida em 2009; e Páginas da Vida (2006), vetada em 2012 após a Globo ter se recusado a editá-la por completo para avaliação do MJ. Evidente que ansiamos pelas tramas da 20h – num movimento similar ao que trouxe várias novelas do horário, veiculadas na década de 1990, entre 1994 e 1996 -, mas há de se incluir aí a possibilidade do canal reexibir Uga-Uga (2000) ou Kubanacan (2003), ambas de Carlos Lombardi, das 19h.

É esperar para ver. E sabemos que todos, apesar das críticas a uma edição que ainda não vimos (mas que já conhecemos de outros folhetins), ficarão ligadinhos nas emoções de Celebridade, tal e qual acontece agora com Senhora do Destino. E já ansiosos pelo que vem adiante… É o Vale a Pena Ver de Novo renascendo!


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.