Reprise comprovou que casal azarão carregou novela fraca nas costas

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Haja Coração teve um ótimo início em 2016, mas foi perdendo o rumo ao longo das semanas e a reprise, que terminou em março desse ano, comprovou isso.

Essa queda de qualidade pôde ser observada principalmente através do desenvolvimento de vários casais da história – muitos deles começaram promissores e tiveram o enredo estagnado.

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Já o par protagonista, composto por Tancinha (Mariana Ximenes) e Apolo (Malvino Salvador), cansou pela repetição desde o começo do folhetim. Porém, em contraponto a tudo o que foi mencionado, Daniel Ortiz criou um casal que caiu nas graças do público assim que surgiu e roubou o protagonismo: Shirlei e Felipe.

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Os personagens, interpretados com competência por Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo, protagonizaram um dos enredos mais clássicos dos contos de fadas: o da gata borralheira em busca do seu príncipe encantado.

É uma situação que transborda clichê, mas sempre funciona quando bem construída. E foi o caso da novela. Aliás, embora seja um remake de Sassaricando (1987), Shirlei não pertencia ao folhetim das sete de Silvio de Abreu.

História repetida

Mas fazia parte de outra novela do autor, do horário das nove: Torre de Babel (1998). A menina ingênua que tinha um problema na perna foi vivida na época por Karina Barum, fazendo um grande sucesso – a música Corazón Patío, de Alejandro Sanz (tema da personagem), estourou.

Ao inserir Shirlei no contexto de Haja Coração, o autor se viu obrigado a criar uma trama e não simplesmente seguir com a obra original. E foi algo bem positivo, ainda mais levando em consideração os erros que Daniel Ortiz cometeu com vários perfis e enredos da sua história, muitas vezes tentando repetir situações de 1987 que não funcionaram – vide o sumiço de Teodora (Grace Gianoukas) e toda a trajetória de Aparício (Alexandre Borges).

E todo o contexto que cerca a personagem é, propositalmente ou não, digno de uma mocinha de novela. Portanto, não demorou para a menina assumir esse posto com louvor. Ela e Felipe, que se comportou como o verdadeiro mocinho do enredo.

O rapaz estava sempre com um sorriso no rosto, solícito, transbordando integridade e trabalhava na empresa de Beto (João Baldasserini). Vale mencionar que o personagem demorou para entrar na novela, juntamente com a sua até então namorada, a patricinha Jéssica (Karen Junqueira).

Trama deslanchou

Foi só com a chegada dele que a trama da Shirlei deslanchou, pois a situação em torno da paixão platônica por Adônis (José Loreto) já estava cansativa. E o primeiro encontro do casal representou o clássico Cinderela, da Disney. Isso porque o bom moço quase atropelou a menina, que acabou perdendo sua bota ortopédica em um bueiro, durante uma forte chuva. Felipe pegou o sapato e passou a procurar a moça para devolvê-lo.

Após muita procura e vários desentendimentos (a garota chegou a achar que estava debochando de sua deficiência), os dois finalmente se ‘entenderam’ e o rapaz devolveu a famigerada bota. O encontro se deu por uma ‘coincidência’ digna de folhetins: ela passou a trabalhar na casa dele como empregada.

E não demorou para o interesse mútuo se manifestar, despertando o ciúme de Jéssica. Foi a partir de então que começou o calvário da mocinha, encarnando de vez a gata borralheira. A patricinha fazia de tudo para diminuir a funcionária e até a obrigou a subir vários andares de escada, carregando compras pesadas, ignorando seu problema na perna. A vilã encarnou de vez a madrasta da Cinderela, fazendo jus ao contexto da trama de Shirlei.

Para culminar, a filha de Francesca (Marisa Orth) era constantemente alvo da irmã Carmela (Chandelly Braz), que sempre fazia questão de humilhar a caçula.

Ainda havia a presença do já citado Adônis, sujeito aproveitador que nunca retribuiu os sentimentos de Shirlei – mas depois passou a enxergá-la com outros olhos, virando mais um obstáculo para o casal. Outro ponto foi a chegada da mãe de Felipe, interpretada por Betty Gofman.

A nova personagem não admitia o romance, pois sabia que a menina era filha de seu marido, Guido (Wernner Schunemann) – o desaparecimento dele era um dos mistérios da história. Portanto, ficou claro que Shirlei tinha um enredo próprio muito mais atrativo do que todo o restante da novela, que se mostrou bastante equivocada.

Ironia do destino

E uma ironia do ‘destino’ foi ver o casal Shirlipe ofuscando o par protagonista, exatamente como ocorreu em Sassaricando. Porém, curiosamente, na época, era o triângulo formado por Tancinha, Apolo e Beto que apagou o protagonismo de Aparício.

Dessa vez, o trio amoroso virou protagonista, mas de nada adiantou, pois foi ofuscado pelo casal de coadjuvantes. Ou seja, os personagens cresceram na obra original e no remake (por razões óbvias) entraram para o núcleo principal. O imponderável novamente se fez presente.

Os atores são ótimos juntos e a sintonia da dupla se evidencia em todos os momentos. A troca de olhares é outro ponto que enriquece o relacionamento que demorou bastante para finalmente acontecer. Ainda assim, valeu a espera. O aguardado beijo foi bonito e valeu ter visto atores não tão ‘conhecidos’ em destaque.

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Artistas mereceram o destaque

Afinal, a atriz estreou no SBT em 2010, quando viveu a Terezinha em Uma Rosa com Amor. Foi para a Globo no mesmo ano, onde teve uma pequena participação em Passione. Também fez uma ponta em Flor do Caribe (2013), até ganhar a personagem Itália em Alto Astral (2014), estreia de Daniel Ortiz como autor solo. Ela brilhou e acabou conquistando a ótima personagem posteriormente.

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Já Marcos Pitombo é mais experiente, pois é revelação da temporada de 2006 da Malhação. Depois do sucesso no seriado adolescente, foi para a Record, onde esteve em seis novelas: Os Mutantes (2008), Os Mutantes: promessas de amor (2009), A História de Ester (2010), Vidas em Jogo (2011), Pecado Mortal (2013) e Vitória (2014).

Porém, é inegável que atuar fora da líder não dá a mesma visibilidade. O ator voltou para a Globo em 2015, onde fez uma breve participação na fracassada Babilônia, e aproveitou a chance como o carismático Felipe. Não é por acaso que o personagem, mesmo não aparecendo tanto, ofuscou a figura de ‘galã’ de Apolo.

Aliás, o casal se sobressaiu com grande facilidade, virando o melhor par do enredo com larga vantagem. Tanto no quesito química, quando na questão do desenvolvimento do romance.

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Shirlei e Felipe (Shirlipe para os ‘shippers’) representaram o amor puro dos contos de fadas e o imenso sucesso do casal apenas comprovou que o clássico, quando bem feito, funciona sempre.

Os dois viraram os verdadeiros mocinhos de Haja Coração, protagonizando a melhor história da novela, com direito a cenas românticas, maldades de vilões e questões envolvendo a baixa autoestima de uma menina com deficiência.

Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo fizeram por merecer todo o êxito do par, que foi o único drama da novela que valeu a pena rever.

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