Na última sexta-feira (27), a Globo oficializou a saída de Silvio de Abreu (foto abaixo) da Direção de Dramaturgia. Ele ocupava o cargo desde 2014 e deve deixar a emissora em março, quando vence o seu contrato.

Diante dessa mudança, o TV História faz agora uma análise dos seis anos em que Silvio de Abreu foi o manda-chuva da Globo. Como suas principais funções, estavam a análise de sinopses e a definição da fila de novelas em todos os horários.

Abaixo, um resumo dos principais acontecimentos que marcaram a teledramaturgia da Globo nesse período. Vamos a eles?

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Renovação de autores

Um dos legados da gestão de Silvio de Abreu – para muitos, o principal deles – foi a renovação de autores. Ele deu a oportunidade para roteiristas que nunca haviam assinado uma novela e apostou em outros para a faixa das 21h, a principal da dramaturgia Global.

Casos, por exemplo, de Manuela Dias – responsável pela paralisada Amor de Mãe (foto acima) – Rosane Svartman e Paulo Halm (Totalmente Demais), Maria Helena Nascimento (Rock Story), Ângela Chaves (Os Dias Eram Assim), entre tantos outros.

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Mudanças na fila: ordem de exibição das novelas

Silvio de Abreu conseguiu estruturar a fila de novelas da Globo a longo prazo. De qualquer forma, nem sempre o planejamento original foi seguido à risca. Por algumas vezes, o público foi pego de surpresa com alterações na ordem de exibição.

Caso tivesse se mantido fiel ao cronograma inicial, Amor de Mãe já teria acabado faz tempo. E nem estamos nos referindo a paralisação forçada provocada pela pandemia.

Então conhecida como Troia, a novela de Manuela Dias estava programada para substituir O Sétimo Guardião, em 2019. Mas Walcyr Carrasco foi convocado às pressas e apresentou a história de A Dona do Pedaço. (foto acima).

A justificativa oficial foi um descanso de imagem para Taís Araújo e Adriana Esteves, mas há quem diga que Silvio encomendou ajustes no texto de Manuela, considerado cult demais.

Às 19h, Silvio também postergou a estreia de Verão 90 por duas vezes. Uma das possíveis explicações para os adiamentos está na liberação dos direitos autorais de clipes exibidos na trama.

A trama, inicialmente prevista para janeiro de 2018, só estreou exatamente um ano depois. Nesse período, a medieval Deus Salve o Rei e a inovadora – ao menos no argumento – O Tempo Não Para ocuparam a faixa.

Alguns leitores também podem lembrar do caso de A Lei do Amor, mas a inclusão de Velho Chico às 21h foi uma determinação da cúpula da Globo, que ficou empolgada com o sucesso de O Rei do Gado em Vale a Pena Ver de Novo. Havia também o desejo de mudar a ambientação da faixa, marcada por tramas urbanas.

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Cancelamento de tramas: Jogo da Memória e O Homem Errado

Se alguns autores tiveram a sua estreia “apenas adiada”, outros não contaram com a mesma sorte. Na gestão de Silvio de Abreu, dois casos de cancelamentos de novelas – que já haviam tido suas respectivas sinopses aprovadas e a produção / escalação iniciadas – ficaram famosos.

Na faixa das 21h, O Homem Errado, escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, chegou a ser confirmada como a substituta de A Força do Querer – atualmente em reexibição – em 2017.

Sem muitas explicações, a trama, que seria protagonizada por Cauã Reymond, foi cancelada. E nunca mais se falou a respeito. Para ocupar a vaga, Walcyr Carrasco escreveu O Outro Lado do Paraíso (foto acima).

Já na faixa das 23h, Lícia Manzo – que assina Um Lugar ao Sol – escreveria Jogo da Memória. Inicialmente, a previsão era de que a trama fosse ao ar com 88 capítulos, mas chegou-se à conclusão de que a história não tinha fôlego para uma duração tão longa. Cogitou-se produzi-la como minissérie, mas, ao menos até agora, o projeto não saiu do papel.

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A intervenção em tramas problemáticas

Se a gestão de Silvio de Abreu foi marcada por alguns sucessos – como Totalmente Demais e A Força do Querer – também houve tramas que prometiam muito, mas acabaram afugentando o público. Neste quesito, as mais problemáticas foram Babilônia (2015), A Lei do Amor (2016) e O Sétimo Guardião (2018).

E, diante do desastre iminente, a direção de Dramaturgia interviu, tentando conter a rejeição, mas acabou desconfigurando as tramas. No caso da trama de Gilberto Braga, histórias foram suavizadas, para evitar reações acaloradas da ala conservadora.

A colunista Patrícia Kogut também noticiou que Silvio reeditou Babilônia (foto acima), compactando doze capítulos originais em seis. A intenção foi acelerar alguns acontecimentos, antecipando a exibição de momentos-chave.

No caso de O Sétimo Guardião, ele “aconselhou” o titular a recorrer a um velho chavão das novelas – o quem matou? – para turbinar a audiência. A ideia foi acatada.

“A sugestão de matar os guardiães e criar uma situação de mistério e suspense em torno dos crimes foi do mestre Silvio de Abreu, durante uma reunião que tivemos para falar sobre os rumos da novela. Ele sugeriu e eu embarquei na hora. A decisão de ‘escalar’ Judith para assassina foi minha”, contou Aguinaldo Silva para o Gshow.

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As brigas e desavenças: os “inimigos” de Silvio de Abreu

Para fechar esse raio X sobre a gestão de Silvio de Abreu na Teledramaturgia, falemos dos “inimigos” que ele colecionou. Um deles é Benedito Ruy Barbosa (foto acima), que não teve medo de tornar pública sua desaprovação ao então diretor.

Na reta final de Velho Chico, ele revelou ao colunista Mauricio Stycer, que condicionou a realização da novela a total autonomia de sua equipe. Em outras palavras, ele rejeitava qualquer potencial intervenção de Silvio.

“Não tenho nada contra o Silvio de Abreu, é um autor reconhecido na Globo, mas eu não quero que ele leia sinopse minha. E não quero que ele palpite na minha novela. Não quero que ele leia e que ele ponha a mão na novela. E o Schroder, que já conhecia a história todinha, concordou plenamente. E avisou o Silvio de Abreu: “Na novela do Benedito não mexa. Nem música, nem texto, nem nada”.

A bronca começou depois que Silvio rejeitou a sinopse de “E Se Ele Voltar”, para a faixa das 18h. Depois, outros projetos da família Barbosa, como O Arroz da Palma, acabaram sendo protelados na fila das novelas.

Outro potencial desafeto de Silvio de Abreu é Miguel Falabella (foto acima). Depois que assumiu o núcleo de séries, Abreu barrou a segunda temporada de “Eu, A Avó e a Boi”, produção que havia sido encomendada a Falabella por Glória Perez. A época, os dois teriam tido uma discussão acalorada, mas o ex-apresentador do Vídeo Show negou o episódio.

Finalmente, embora não haja nenhuma comprovação oficial, há indícios de que ele também “não fala a mesma língua” que Ricardo Waddington, novo todo-poderosos da emissora.

Em 2019, os dois teriam divergido quanto a escolha da substituta de Por Amor, no Vale a Pena Ver de Novo. Enquanto Abreu fazia campanha por Êta Mundo Bom, de Walcyr Carrrasco, Waddington defendia Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro. E venceu a queda de braço.

Recentemente, quando o remake de Pantanal foi confirmado às 21h com toda pompa e circunstância em reportagem do Fantástico, apenas Waddington deu depoimento, fortalecendo a teoria de que Silvio de Abreu não teve qualquer envolvimento na decisão.

E você, o que achou da gestão de Silvio de Abreu?

Lembra de algum outro fato que marcou a gestão de Silvio de Abreu como diretor de Teledramaturgia? Compartilhe conosco sua avaliação e impressões sobre esse período nas redes sociais do TV História. Até a próxima!

Sobre o autor

Piero Vergílio é jornalista profissional desde 2006. Já escreveu sobre diversos temas, mas há algum tempo, tem se dedicado ao que realmente gosta: trazer notícias sobre o universo da televisão. No Twitter, interage com outros fãs do veículo no perfil @jornalistavetv. Agora, sua história se cruza com a do TV História.

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