Em 24 de fevereiro de 1986, a Globo estreava o remake de Selva de Pedra na faixa das oito. A controversa novela, que já foi exibida pelo Viva, será resgatada pela Globo em outubro, sendo disponibilizada no Globoplay ao lado da primeira versão de Anjo Mau.

A trama, baseada na obra de Janete Clair, que chegou a alcançar 100% de audiência em 1972, reserva algumas curiosidades de bastidores.

O TV História lista 10 delas pra você:

Sucessão

Roque Santeiro

Em 1985, a Globo vivia seu melhor momento em audiência às 20h, com Roque Santeiro, trama de Dias Gomes censurada em 1975, então atualizada por ele e por Aguinaldo Silva. O folhetim se aproximava do último capítulo, sem que a novela substituta tivesse sido escolhida: a princípio, cogitou-se Barriga de Aluguel, a mesma sinopse que Glória Perez levou ao ar às 18h em 1990, com Lucélia Santos como protagonista.

Depois, Cambalacho, de Silvio de Abreu, que recusou a “promoção”, ciente de que no horário pós-Jornal Nacional não poderia lançar mão do humor para contar sua história, concebida para a cômica faixa das 19h. Por fim, a opção pelo clássico de Janete Clair, adaptado por Eloy Araújo e Regina Braga.

A princípio, a opção por Lucélia Santos como protagonista foi mantida. Mas logo a atriz foi remanejada para a próxima trama das 18h, Sinhá Moça. A produção sondou Glória Pires, mas acabou escalando Fernanda Torres para o posto que fora de Regina Duarte em 1972 – amparada no prêmio que a atriz recebera em Cannes por Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor.

Christiane Torloni foi escalada para viver a antagonista Fernanda (antes Dina Sfat), inicialmente oferecida a Sônia Braga, por conta de seu desempenho como Jô Penteado, de A Gata Comeu (1985). Escolhida por Walter Avancini, também responsável pela versão original, Sylvia Bandeira já gravava como Laura quando foi substituída por Maria Zilda Bethlem, preferida de Daniel Filho.

Tempo recorde

Para implantar Selva de Pedra em tempo recorde, a Globo realocou a equipe de De Quina Pra Lua, então em exibição às 18h, nos estúdios Herbert Richers, disponibilizando grande parte da estrutura de sua sede no Jardim Botânico para a nova novela das 20h.

Ainda assim, a produção padeceu com atrasos – talvez motivados pela troca de diretor, de Walter Avancini para Dennis Carvalho. Inicialmente previsto para 20 de janeiro, o remake estreou um mês depois, em 24 de fevereiro.

Responsável pelos primeiros 20 capítulos, Walter Avancini declarou ao jornal O Globo, às vésperas da estreia, que buscava “certa ousadia no comportamento feminino, que em 1972 não era tão explícita”, sem a interferência da Censura do governo militar.

Esta opção do diretor induziu o público a acreditar num relacionamento homoafetivo entre as cunhadas Cíntia (Beth Goulart) e Fernanda, o que assustou os mais conservadores. Também em O Globo, o crítico Artur da Távola salientou a opção do remake pelos aspectos mais cruéis dos personagens, abdicando da porção romântica de Janete, o que acabou por tornar a narrativa “sombria”.

Susto na audiência

Evidentemente, Selva de Pedra não manteve a audiência de sua antecessora. Os últimos 11 capítulos de Ti-Ti-Ti, no ar às 19h, superaram os 11 primeiros da trama das 20h. Logo em sua primeira semana, Cambalacho arrancou um empate. Na semana seguinte, venceu ‘Selva’ na média geral, com 50% a 49% de participação nos índices.

Parecia que a produção do horário “menos nobre” novamente superaria a “prata da casa” – uma constante nas novelas desta década.

Apesar do susto inicial, os números se equipararam até que o acidente de Simone, que leva o anti-herói Cristiano (Tony Ramos) a acreditar que matou a esposa e refutar a ideia de se unir a Fernanda, impulsionou a produção, rompendo a barreira dos 60% de audiência na Grande São Paulo.

Mudanças

A suposta morte de Simone, que “renasce” como Rosana Reis, marca a virada da protagonista. Na primeira versão, Regina Duarte lançou mão de uma peruca para se disfarçar e voltar ao convívio dos envolvidos na tragédia da artista plástica; na segunda, Fernanda Torres mudou o penteado e passou a usar lentes de contato azuis, uma novidade – que se popularizaria no ano seguinte com Marília Pera, em Brega & Chique.

Outras mudanças do original para o remake: Sérgio (Eliano de Souza) passou a ser César (Roberto Bataglin); Sales (Francisco Milani) “virou” Horácio (Henri Pagnocelli) e Dr. Feliciano D’Ávila (Urbano Lóes) foi “convertido” em Dr. Ana (Suzana Faini).

Miguel Falabella criou um novo bordão para Miro, personagem de Carlos Vereza em 1972. Saiu o “amizadinha”, veio o “nhé-nhé”. Apesar do mau-caratismo, Miro caiu nas graças do público, em parte por conta das contribuições de Falabella – que inseriu cacos no texto, a exemplo do que costumava fazer no Sai de Baixo (1996) com Aracy Balabanian, atribuindo, por exemplo, o apelido de “macaco” para Cristiano (a cargo de um peludo Tony Ramos).

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Trilha sonora e abertura

A trilha nacional de Selva de Pedra popularizou hits como ‘Perigo’, de Zizi Possi; ‘Demais’, com Verônica Sabino; e ‘Tudo Bem’, de Lulu Santos. Mas foi a seleção internacional que explodiu em todo o país. Com 949.632 cópias vendidas, ocupa a sexta colocação entre as trilhas internacionais mais vendidas da década de 80.

No repertório, Elton John, Sade, Billy Ocean, Mr. Mister, Pet Shop Boys, The Cure, Mike & The Mechanics. E a clássica ‘Rock and Roll Lullaby’, que embalou o casal protagonista na primeira versão, voltava aqui na mesmíssima gravação de B. J. Thomas e em versão instrumental, na abertura, com Freesounds – tradução literal de Som Livre, braço fonográfico da Globo, cujos músicos responderam pela gravação.

A abertura, aliás, foi um show à parte! Hans Donner ensaiava mostrar o surgimento de uma cidade, a tal selva de pedra do título. Para tal, confeccionou maquetes cobertas por espelhos, remetendo à edifícios envidraçados – que ganharam projeções de fotos do elenco na finalização e uma ação de merchandising dos relógios Champion.

Toda feita em estúdio, a vinheta se encerra com um amontoado de arranha-céus que, vistos de cima, formam o rosto de Tony Ramos; na verdade, prédios de plásticos em três tonalidades.

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Nunca reprisada pela Globo

Muito se falou numa possível reprise de Selva de Pedra em Vale a Pena Ver de Novo, como substituta de Despedida de Solteiro, em agosto de 1996 – Meu Bem, Meu Mal (1990) ocupou a vaga.

O TV História não encontrou registros a respeito de um eventual repeteco do remake. Da mesma forma, dizem que em 2006 a Globo novamente pensou na trama, desta vez para o posto de A Viagem (1994); Chocolate com Pimenta (2003) assumiu o horário.

Uma das novelas mais pedidas pelos assinantes do Viva, Selva de Pedra acabou sendo exibida pelo canal entre 2019 e 2020, com bons resultados na audiência.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.