Entre 1990 e 1991, a Globo produziu Lua Cheia de Amor em conjunto com a emissora com a espanhola Radio Televisión Española (RTVE) e a suíça Radiotelevisione Svizzera Italiana (RSI).

Espécie de remake disfarçado de Dona Xepa (1977), a trama de Ricardo Linhares, Ana Maria Moretzsohn e Maria Carmem Barbosa acabou não empolgando o público.

Antes mesmo da estreia, ocorreram algumas mudanças: após o fiasco Mico Preto, a trama a ser produzida pela Globo era Perigosas Peruas, de Carlos Lombardi, que acabou sendo preterida pela emissora na ocasião; o título original da novela era Coração, mas a Globo acabou optando por Lua Cheia de Amor; e Joana Fomm seria a protagonista, mas acabou perdendo o papel para Marília Pêra, que tinha projeção internacional.

Na história, a ambulante Genu (Marília Pêra) se esforçou para dar boa vida aos filhos, Mercedes (Isabela Garcia) e Rodrigo (Roberto Bataglin), após ser abandonada na miséria pelo marido, Diego (Francisco Cuoco).

A ambiciosa Mercedes casa-se com Douglas (Rodolfo Bottino), mesmo apaixonada por Augusto (Maurício Mattar), que ela julga ser tão pobre quanto ela. O publicitário, na verdade, é filho do milionário casal Conrado (Cláudio Cavalcanti) e Laís Souto Maia (Susana Vieira), musa inspiradora da emergente Kika Jordão (Arlete Salles).

Enquanto isso, Genu luta para reaver a loja de louças que o marido perdeu no jogo, enfrenta a maldosa Emília (Bete Mendes) e se apaixona por Túlio (Geraldo Del Rey), até que Diego ressurge.

Apesar dos esforços e investimentos, a trama não empolgou o público e passou praticamente batida, apesar de manter os índices da faixa das sete. “A novela demorou um pouco para engrenar. Por inexperiência, abrimos tramas paralelas demais no início. A partir da entrada de Francisco Cuoco, que fazia o marido malandrão da Genu, que havia a abandonado, a trama deslanchou”, declarou Ricardo Linhares em entrevista.

A obra acabou sendo muito criticada, o que deixou os autores chateados. “A novela destacou o lado mais pobre do padrão Globo de produção: um texto pífio, onde personagens unidimensionais se movem sobre um fundo moralista. O México não fica tão longe, afinal de contas”, escreveu Ricardo Anderáos na Folha de S.Paulo de 14 de julho de 1991, um dia após a exibição do desfecho.

Antes disso, em 9 de dezembro de 1990, Fernando de Barros e Silva também havia detonado a produção na Folha. “Lua Cheia de Amor abusa dos diálogos longos, das imagens semi-estáticas e das músicas intragáveis. Cria assim o clima “pobre-romântico” estilizado. A novela está empacotada para ser exportada e apreciada como um produto subcultural de um país idem. (…) A oposição entre pobreza e riqueza volta à cena novamente. Dessa vez, o óbvio ficou ululante demais”, disparou.

Ao jornal O Dia de 23 de julho de 1991, Ana Maria Moretzsohn disse que a novela alcançou seu objetivo e agradou ao público, mas reclamou das críticas da imprensa, consideradas injustas por ela.

“O público não gostou do jeito de falar da Genuína e sentimos a necessidade de desviar-nos da trama original”, afirma, explicando que tal mudança rendeu cerca de 10 pontos no Ibope de Lua Cheia. “Depois, mantivemos uma boa audiência. A intenção era fazer uma boa e agradável novela das sete, e acredito que tenhamos cumprido esta finalidade com sucesso”, enfatizou.

A autora concluiu dizendo que a novela foi simplesmente ignorada pela imprensa especializada. “Foi absurda a falta de prestígio, principalmente o gelo que resolveram dar na Marília Pêra, talvez por conta de sua posição política. Até hoje não consegui entender”, completou.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor