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Pantanal vive uma fase mais branda, com poucos acontecimentos relevantes (ou nenhum). A adaptação de Bruno Luperi do texto original de Benedito Ruy Barbosa não se dispôs a agilizar esta fase, que também foi muito criticada em 1990 pela falta de ação.
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Chama-se de “barriga” este período das novelas em que nada acontece e a história parece apenas estar “enchendo linguiça”. Isso acontece, em maior ou menor grau, na maioria dos folhetins. No entanto, de uns tempos para cá, o público tem ficado cada vez menos paciente diante do recurso. Está sempre cobrando agilidade…
No entanto, se qualquer trama está sujeita a ostentar uma voluptuosa barriga, numa de Benedito Ruy Barbosa isso parece ser ainda mais certo. O autor assinou grandes sucessos, mas todos eles receberam muitas críticas quando começaram a andar em círculos.
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Renascer
Renascer (1993) marcou o retorno de Benedito à Globo após o êxito de Pantanal. Foi uma volta por cima, já que o novelista finalmente emplacou um projeto seu no horário nobre da líder de audiência. Antes disso, Ruy Barbosa só escrevia novela na faixa das seis da Globo.
A trama foi um grande êxito, com uma narrativa bem estruturada e uma direção elogiada de Luiz Fernando Carvalho. Aliás, a saga de José Inocêncio (Antonio Fagundes) guarda várias semelhanças com a de José Leôncio (Cláudio Marzo), de Pantanal.
As particularidades entre as duas obras também passam pela “barriga”. Renascer foi criticada por ter alguns conflitos encerrados antes da hora. Em agosto de 1993, uma matéria da Folha de S. Paulo expunha a fase modorrenta da produção.
“É uma pena ver tanto curso desperdiçado. ‘Renascer’ se arrasta por falta de história — mesmo depois de alguns assassinatos indispensáveis. Sobram personagens e faltam papéis definidos. Fazer o que com essa turma do cacau? Sem solução melhor, a ação foi substituída pelos discursos educativos e políticos”, dizia o texto assinado por Julio Rodrigues.
“No caso de Renascer, a discurseira se soma à falta de trama e de carpintaria. A história carece de conflitos. Parece que não tem bandido”, analisou.
O Rei do Gado
Outro enorme sucesso que não escapou de uma boa “pancinha”. O Brasil parou para acompanhar a saga de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes), sua história de amor com a boia fria Luana (Patrícia Pillar) e sua eterna rivalidade com o tio, Geremias Berdinazzi (Raul Cortez).
No entanto, não faltaram reclamações quanto à falta de ação no meio da novela. De repente, os capítulos foram preenchidos por inúmeros discursos do senador Caxias (Carlos Vereza) ou cenas de Liliana (Mariana Lima) alisando sua barriga ao som de À Primeira Vista, de Daniela Mercury. Ficou chato.
Terra Nostra
Se mesmo quando uma trama já estreia toda estruturada a barriga acontece, imagina quando os planos são alterados em pleno voo? A mudança no projeto de Terra Nostra (1999) prejudicou bastante a saga de Giuliana (Ana Paula Arósio) e Matteo (Thiago Lacerda).
Inicialmente, Terra Nostra seria uma grande saga de imigrantes dividida em três fases. No entanto, com o sucesso dos personagens da primeira fase, somado ao alto custo da renovação de elenco e cenários a cada passagem de tempo, os planos iniciais foram abortados.
Assim, Matteo e Giuliana, que protagonizariam “apenas” 90 capítulos, ficaram no ar por mais de 200. Com isso, o folhetim passou vários e vários momentos em banho-maria, além de apelar para recursos sem muito sentido – como a “morte” e o retorno mal explicado de Juanito, o filho dos protagonistas.
Esperança
Problemática do início ao fim, Esperança (2002) já começou estranha. Quando o protagonista Toni (Reynaldo Gianecchini) deixa a Itália e chega ao Brasil, começa a ser auxiliado por vários personagens. Mas, conforme Toni vai caminhando, os tipos que o ajudam vão ficando para trás, formando núcleos que se tornaram desnecessários.
O maior exemplo disso é a família de espanhóis, formada por Otávio Augusto, Denise Del Vecchio e Giselle Itié. Eles acolheram Toni e participaram ativamente do início da trama, mas ficaram completamente sem função depois que o italiano deixou a casa deles.
Para piorar, Benedito Ruy Barbosa enfrentava problemas de saúde e atrasava a entrega dos capítulos. A solução, então, foi espichar os episódios na edição, com um excesso de flashbacks que fez a novela ficar ainda mais parada.
Na reta final, Benedito foi afastado da produção e Walcyr Carrasco acabou acionado para concluir Esperança. Carrasco, então, injetou ação no enredo, com várias viradas mirabolantes, bem ao seu estilo. Isso gerou uma rusga entre os autores e Ruy Barbosa ameaçou até bater no colega por ter “estragado” sua obra.