Cartaz às 18h entre maio e dezembro de 1994, Tropicaliente foi reprisada de 20 de março a 7 de julho de 2000 na sessão Vale a Pena Ver de Novo – substituindo A Indomada (1997).

O repeteco, que estreou prometendo deixar a tarde “muito mais quente”, ficou marcado pela fraca repercussão. A reapresentação, contudo, acompanhou grandes estreias e sensíveis mudanças na grade da Globo. Confira!

Se hoje temos a Sessão da Tarde entre o Vídeo Show e o Vale a Pena Ver de Novo, em 2000, tínhamos Ana Maria Braga. O Mais Você havia estreado em outubro de 1999, ocupando a faixa das tardes. Devido à instabilidade na audiência, prejudicada pelo seriado Chaves, do SBT, a atração foi transferida para 11h, em agosto de 2000, aproveitando-se dos reajustes na grade para a entrada do horário eleitoral. Em março do ano seguinte, o Mais Você se instalaria às 8h. A fraca identificação do público com o programa e o fato de não estar mais colado ao Vídeo Show, que na época era uma boa alavanca para o ‘Vale a Pena’, podem ter prejudicado o desempenho de Tropicaliente nesta reexibição.

No dia 31 de março, enquanto ia ao ar o décimo capítulo da reprise de Tropicaliente, chegava ao fim a minissérie A Muralha. Concebida por Maria Adelaide Amaral, tendo como base o romance de Dinah Silveira de Queiróz, A Muralha abriu as comemorações da Globo para os 500 anos de descobrimento do Brasil, celebrados em 22 de abril daquele ano. A minissérie marcou época por sua produção grandiosa, pela perfeita reconstituição de época, e também por seu elenco: Vera Holtz (Mãe Cândida), Alessandra Negrini (Isabel), Leonardo Brício (Tiago), Leandra Leal (Beatriz), Alexandre Borges (Dom Guilherme), Letícia Sabatella (Ana), Caco Ciocler (Bento Coutinho), Regiane Alves (Rosália), Matheus Nachtergaele (Padre Miguel), Maria Maya (Moatira), e em especial, Mauro Mendonça (Dom Braz Olinto) e Tarcísio Meira (Dom Jerônimo).

Na segunda, 3 de abril, estreava a nova programação da Globo, que comemorava seus 35 anos de existência. Além de uma série de especiais que celebraram a data (e também os 50 anos da TV brasileira), várias estreias ocorreram. Dentre elas, o Programa do Jô. Para levar o passe do apresentador do talk-show mais conhecido da TV brasileira – ‘Onze e Meia’, no SBT -, a Globo prometeu uma série de regalias; dentre elas, a contratação de toda a sua equipe de produção e do sexteto que o acompanhava na apresentação. Até mesmo o mordomo Alex migrou da TV de Silvio Santos para a da família Marinho. De todas as contratações realizadas pela emissora na época foi, sem dúvida, a que se deu melhor, ao menos em seu início. Talvez pela familiaridade do público com o apresentador e o horário.

Na linha de shows, a Tela Quente fora mantida; às terças, logo após o Casseta & Planeta, Urgente!, vinha o Muvuca, com Regina Casé. Marcado pelo insucesso, a atração foi rifada da grade durante o período eleitoral e não retornou mais. Assim como o Você Decide, que em 2000 já estava em decadência. O programa, além de padecer com temas de pouca relevância, havia sido empurrado para a segunda linha de shows, logo após o Linha Direta, policialesco que alcançava bons índices.

O Garotas do Programa também integrava o pacote de estreias. Unindo apenas mulheres em seu elenco e também no roteiro, a atração sempre trazia um ator convidado, tratado como “prato do dia”. Apesar do bom desempenho das atrizes (Betty Gofman, Camila Pitanga, Drica Moraes, Mariana Hein, Marília Pêra e Zezé Polessa), o humorístico não deu certo, talvez por conta do horário em que foi veiculado, de difícil penetração entre o público. Assim como o Muvuca e o Você Decide, deixou a grade da emissora em agosto.

No sábado, 8 de abril, no mesmo horário em que a reprise de Tropicaliente era veiculada durante a semana, estreou o Caldeirão do Huck. O apresentador havia deixado a Band no ano anterior. Lá, deixou também as musas Tiazinha (Suzana Alves) e Feiticeira (Joana Prado), que contribuíram para a repercussão de sua atração no canal paulista (o H), mas não condiziam com o horário que lhe fora oferecido pela Globo. O ‘Caldeirão’, em seus primeiros anos, penou com a concorrência do Programa Raul Gil, e passou por diversos ajustes até se estabilizar na grade.

Malhação estreava sua nova temporada no dia 10 de abril. O romance de Joana (Ludmila Dayer) e Marcelo (Fábio Azevedo), ameaçado pelas intrigas da prima dela, Bia (Fernanda Nobre), despertou o interesse da garotada que acompanhava a novelinha. Era o início também da saga do personagem Cabeção (Sérgio Hondjakoff), que peregrinou por um longo também na novelinha.

No dia 12 de abril, quarta, a Globo exibia o primeiro especial TV Ano 50. A série de programas que uniam os mais diferentes setores da emissora promoveu o encontro de contratados da Globo com artistas de outros canais, convidados a participarem dos especiais que celebravam também os 35 anos da emissora. Assim, pudemos ver Hebe Camargo, Gugu Liberato e Carlos Alberto de Nóbrega, dentre outros, na tela do canal. A Globo veiculou também cenas de atrações das concorrentes, como do infantil Castelo Rá-Tim-Bum (1994), da TV Cultura, e Pantanal (1990), da Rede Manchete. O primeiro programa recuperava diversos momentos da TV brasileira, e dentre eles, trazia cenas de Tropicaliente. Os especiais reverenciaram os infantis, o jornalismo, o humor, os programas de auditório, a publicidade e se encerraram com a dramaturgia, em dezembro de 2000.

Em 19 de abril, logo após a novela Terra Nostra, a Globo levava ao ar o primeiro dos três capítulos de A Invenção do Brasil, minissérie do núcleo de Guel Arraes, que integrava a comemoração dos 500 anos do Brasil. Em tom cômico, acompanhamos a saga de Diogo (Selton Mello), o Caramuru, envolvido com duas irmãs índias, Paraguaçu (Camila Pitanga), por quem se apaixona, e Moema (Deborah Secco), que se apaixona por ele. Logo após sua exibição, a obra foi condensada e deu origem ao filme ‘Caramuru: a invenção do Brasil’.

Uma importante inovação no principal telejornal da TV brasileira veio a somar a todas essas comemorações. O Jornal Nacional deixava o estúdio e migrava para a redação. De lá para cá, muitos ajustes foram feitos no mezanino de onde Willian Bonner e Fátima Bernardes passaram a ancorar o telejornal, naquela noite de 26 de abril. Hoje, o noticiário ocupa o centro da redação de jornalismo no Rio de Janeiro.

Em 8 de maio, Tropicaliente chegava ao seu capítulo 36. E no horário das sete, estreava uma das mais divertidas e controversas novelas dos anos 2000. Uga-Uga, de Carlos Lombardi, tornou-se um sucesso retumbante, recuperando e elevando a audiência perdida com Vila Madalena, também de Walther Negrão. A saga do índio Tatuapu (Cláudio Heinrich), herdeiro de um milionário do ramo dos brinquedos criado como um selvagem por índios, mesclava ação, humor e uma boa dose de erotismo. E aí se deu o seu maior conflito: Uga-Uga estreou na época em que a Classificação Indicativa entrava em vigência, o que implicou em diversos problemas para a Globo, já que a novela desnudou boa parte do seu elenco masculino e contou com cenas de violência, fortes demais para o horário.

Outro sucesso que padeceu com a Classificação Indicativa estrearia em 05 de junho. Laços de Família, no entanto, não fora prejudicada pelas ações do Ministério Público que, em determinado momento, chegou a retirar as crianças do elenco do ar. A novela ficará para sempre lembrada pela campanha a favor da doação de medula óssea, promovida através de Camila (Carolina Dieckmann). Até chegar ao ponto da trama em que sofria com a leucemia, no entanto, Camila foi rechaçada por boa parte do público, que chegou a apoiar os ataques de Íris (Deborah Secco, em ótimo momento) contra a moça. Só mesmo a habilidade de Manoel Carlos para contornar a rejeição e fazer com que o público torcesse para que Camila se recuperasse e tivesse um final feliz com Edu (Reynaldo Gianecchini), que havia sido namorado de sua mãe, Helena (Vera Fischer).

No dia 26 de junho, faltando nove capítulos para Tropicaliente chegar ao fim, a Globo estreou O Cravo e a Rosa, completando o trio de novelas que turbinou o horário nobre da emissora naquele ano. O horário das 18h já estava estabilizado com Esplendor, obra de Ana Maria Moretzsohn ambientada na década de 50, e O Cravo e a Rosa elevou ainda mais os números. Adriana Esteves e Eduardo Moscovis, como Catarina Batista e Julião Petruchio, estavam à frente do elenco de feras que fez de O Cravo e a Rosa uma obra inesquecível.

Nos intervalos de todas essas novelas eram constantemente veiculadas chamadas de A Próxima Vítima, que ocuparia o Vale a Pena Ver de Novo a partir de 10 de julho.

A última novidade que a Globo estreou durante a reprise de Tropicaliente foi a TV Globinho. Usando as férias da garotada como pretexto, a emissora retirou o Angel Mix, de Angélica, do ar, na intenção de reformulá-lo, e passou a investir no mesmo modelo adotado por seu principal concorrente no horário, o Bom Dia & Cia., do SBT: crianças em estúdio, promovendo esquetes, e chamando os desenhos animados.

A Globo também investia na reprise de Os Trapalhões, que era exibida às tardes em 1994. O repeteco passaria por uma nova mudança de horário, migrando das 8h para 11h30, provavelmente para turbinar a audiência dos jornais locais, que padeciam com a fraca repercussão do Angel Mix, em sua fase final.

Enquanto Tropicaliente esteve no ar, a Sessão da Tarde exibiu muitos dos seus clássicos. Começando por O Peste, em 20 de março – na mesma de semana de A Família Buscapé (dia 21), As Patricinhas de Beverly Hills (dia 23) e Esqueceram de Mim (dia 24). Também O Rapto do Menino Dourado (dia 27) e Um Morto Muito Louco (dia 30). Já em abril, A Chave Mágica (dia 7), Mudança de Hábito (dia 19), Babe – O Porquinho Atrapalhado (dia 20), K9 – Um Policial Bom Pra Cachorro (dia 21) e Querida, Estiquei o Bebê! (dia 25). Aqui, a reprise de Tropicaliente começava a perder espaço na grade. Os capítulos que começavam às 14h50 se encerravam às 15h35, com apenas 45 minutos de duração, incluindo intervalos comerciais. Provavelmente, reflexo da baixa audiência que a trama atingia. Em meio, O Guarda-Costas; em junho, A Lagoa Azul, Ghost – Do Outro Lado da Vida, ET: O Extraterreste, Olha Quem Está Falando Também, Ninguém Segura Este Bebê, Um Príncipe em Nova York, Twister e Uma Babá Quase Perfeita.

Em 02 de junho, Tropicaliente não foi exibida. Logo após o Mais Você, a Globo transmitiu a disputa entre Brasil e Espanha, na Liga Mundial de Vôlei Masculino. Por conta disso, a reprise chegou ao seu final com 79 capítulos.

De 3 a 7 de julho, a Sessão da Tarde foi “substituída” pelo Festival de Férias. Em cartaz, o brazuca O Noviço Rebelde; ainda, Power Rangers – O Filme, A Malandrinha, Abracadabra e Bingo – Esperto pra Cachorro.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.