O canal Viva anunciou as suas mais novas reprises para este ano. Tieta (1989-1990), obra de Aguinaldo Silva baseada no romance de Jorge Amado, entrará no lugar de A Gata Comeu (1985), na faixa das 15h30. Pai Heroi (1979), de Janete Clair, exibida às 23h30, será sucedida por Por Amor (1997-1998), de Manoel Carlos.

Esta chama a atenção por ser a primeira re-reprise de novelas do canal, já que a trama de Maneco foi uma das primeiras a ser exibida por lá, ainda em 2010. Com o anúncio, as reações se multiplicaram nas redes sociais, especialmente as desfavoráveis.

Os detratores da ideia alegam que o canal deveria dar espaço a obras mais antigas ou que não tinham ainda sido reprisadas. Entre os que aprovaram, além dos que desejam rever a novela, há os que não puderam assisti-la em outras ocasiões e agora têm esta chance. Fica o questionamento: a nova exibição é mesmo necessária? Ou o Viva deveria concentrar seus esforços em tramas antigas?

Em 2010, ano de sua entrada no ar, o Viva possuía, obviamente, uma base de assinantes menor, portanto, menos público. Em função disso, é natural que, após sete anos, o canal queira aproveitar a oportunidade de reapresentar a novela de Manoel Carlos para conquistar os novos espectadores que não puderam conferi-la em outras vezes.

Trata-se de uma das tramas mais aclamadas do autor, trazendo nomes inspirados em seu elenco, como Regina Duarte (sua segunda Helena, uma das melhores já criadas pelo autor), Gabriela Duarte (Maria Eduarda), Vivianne Pasmanter (Laura), Paulo José (Orestes), Cássia Kiss (Isabel) e Susana Vieira (Branca Letícia).

O sucesso da primeira exibição, que rendeu a quinta posição na lista das 10 maiores audiências da história do canal, pesa a favor de Por Amor. Além do mais, o Viva já recorreu ao expediente da re-reprise outras vezes, ainda que com séries e microsséries, como A Casa das Sete Mulheres (2003), Anos Dourados (1986), Anos Rebeldes (1992), As Cariocas (2010) e Amor em 4 Atos (2011).

Em compensação, por menor que seja sua possibilidade, abre-se um precedente perigoso. A parcela do público mais saudosista de tramas antigas também é importante para o canal. Não é fácil reprisar estas novelas, uma vez que elas dependem da negociação de direitos com os atores e autores (ou os herdeiros, no caso dos que já morreram).

Além disto, algumas não têm condições de ser reprisadas na íntegra em função do estado de conservação das mídias originais onde foram gravadas, havendo casos em que se perderam parcial ou mesmo totalmente. Ainda assim, já foram exibidos clássicos como Água Viva (1980), Dancin’Days (1978), Vale Tudo (1988) e Roque Santeiro (1985-86). E, de certa forma, a reprise de uma trama mais “recente” tira a chance de que venha uma mais antiga, o que torna compreensível a reação negativa deste público considerável.

Ainda assim, no cenário atual, o Viva está buscando ao máximo possível englobar todos os públicos. Prova disso são as reprises de Laços de Família (2000), do mesmo Manoel Carlos, e da citada A Gata Comeu.

Exibidas originalmente em épocas diferentes, as duas tramas renderam ao canal a liderança de audiência entre o público adulto. São exemplos que comprovam que o grande trunfo do Viva é priorizar programas e novelas marcantes e inesquecíveis, que despertem a nostalgia e a vontade de rever e se emocionar, não importando a época.

Nem sempre o canal consegue este objetivo, afinal, já exibiu programas esquecíveis, como as séries Batendo Ponto (cancelada por baixa audiência após poucos episódios na sua exibição original) e Guerra e Paz e as medianas novelas Fera Ferida e Tropicaliente.

Considerando os pontos positivos e negativos, a reprise de Por Amor é bem-vinda, pois dá uma chance aos que querem revê-la ou conferir pela primeira vez uma das histórias mais inesquecíveis de Manoel Carlos.

Ao mesmo tempo, o Viva mostra que também não se esqueceu da parcela mais saudosista das novelas dos anos 80 para trás, uma vez que, assim como já faz com Pai Heroi e A Gata Comeu, reprisará Tieta, igualmente um dos marcos da teledramaturgia. Com isto, o canal cumpre sua função de surpreender o público e priorizar histórias que deixaram saudade.


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