Reencontro entre Renato e Alice não melhora enredo de Os Dias Eram Assim

12/07/2017 às 10h00

Por: Thallys Bruno
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A atual novela das 23h (ou supersérie), Os Dias Eram Assim, exibiu há algumas semanas o seu entrecho mais esperado. Durante uma manifestação em favor das Diretas Já, em 1984, Alice (Sophie Charlotte) reencontrou o amor de sua vida, Renato (Renato Góes), que ela pensava estar morto.

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A cena rendeu o recorde de audiência da história de Ângela Chaves e Alessandra Poggi, marcando 30 pontos. Ainda assim, o que se viu nos capítulos posteriores reforçou a impressão de que o enredo da novela continua deixando a desejar.

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Como se sabe, o casal foi separado ainda nos anos 70 por uma armação de Vitor (Daniel de Oliveira) e Arnaldo (Antônio Calloni), respectivamente marido e pai da mocinha. Acusado de subversão por causa de atos cometidos pelo irmão Gustavo (Gabriel Leone), o médico foi obrigado a fugir para o Chile, onde conheceu Rimena (Maria Casadevall), com quem se envolveu e teve um filho, mas sem deixar de amar Alice. Esta, por sua vez, casou-se com o vilão estando grávida do mocinho, além de ter uma filha com Vitor.

Com a promulgação da Lei da Anistia em 1979, Renato voltou ao Brasil com a nova mulher e o herdeiro. Uma nova passagem de tempo ocorre até chegar a 1984, auge da campanha em favor das eleições diretas para presidente. Em uma manifestação, enquanto fotografava a população, Alice viu seu antigo amor e desmaiou.

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Apesar de toda a expectativa, a cena deixou a desejar porque a garota acordou rapidamente e voltou a cobrir o protesto como se nada tivesse acontecido. Ficou estranho para quem teve uma descoberta de tamanho impacto.

Logo depois, mesmo com as tentativas de Gustavo e da mãe de Renato, Vera (Cássia Kis Magro), de evitar ao máximo a retomada do romance, o casal se encontra após a mocinha receber uma antiga carta do médico e ambos se entregam à paixão guardada durante anos, para desespero de Rimena, que se revolta ao ouvir o marido confessar que a traiu.

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Todo o desenvolvimento do reencontro de Renato e Alice mostra que o casal é o único conflito que dá alguma sustentação à novela das onze. E, ainda assim, é explorado de forma muito arrastada e cansativa. As histórias paralelas não têm fôlego, nem apresentam dramas que causem interesse. Nem mesmo o espírito rebelde de Nanda (Julia Dalavia), que sofrerá com o vírus da AIDS, consegue atrair.

A morte de Arnaldo durante uma das passagens de tempo (misteriosamente assassinado no hospital em que estava após sofrer um infarto) foi outro ponto negativo, desperdiçando o talento de Antônio Calloni em um dos melhores personagens de sua carreira e da novela. Além disso, nada mais foi falado até agora sobre a morte do empreiteiro.

Gustavo, teoricamente um representante da luta pela democracia, é o personagem mais insuportável do folhetim. Irresponsável e egoísta, foi o principal culpado pela confusão que levou à fuga de Renato para o Chile. Agora, comporta-se como um militante político fanático e continua arrumando problemas, como quando invadiu uma condecoração ao delegado Amaral (Marco Ricca) e quase foi preso.

Se a intenção das autoras era fazer do rapaz um heroi da resistência na luta contra o regime traumatizado pelas torturas, conseguiram apenas criar um sujeito intragável. Gabriel Leone é um ator promissor da nova geração e não merecia um papel tão fraco.

Para piorar, as autoras parecem deixar clara a intenção de transformar Rimena em uma mulher obsessiva e surtada, a ponto de ela engravidar e se envolver com Gustavo para tentar justificar a traição de Renato e, com isso, a retomada de seu relacionamento com Alice. Um recurso fraco e batido, utilizado em novelas como Império e Babilônia: desconstruir uma personagem humana para transformá-la em uma insuportável a ponto de fazer qualquer coisa para manter seu casamento.

Considerando-se todo este quadro, é praticamente impossível Os Dias Eram Assim se sustentar desta forma até meados de setembro. A sensação de barriga fica evidente com a fraca condução do núcleo principal e mais ainda dos paralelos. O contexto histórico da ditadura militar também foi parcialmente abandonado. Um enredo muito frágil para o horário de maior ousadia e liberdade artística da emissora.

Apesar disto, as cenas do reencontro de Renato e Alice renderam bons momentos para os principais atores envolvidos, como Renato Góes, Sophie Charlotte, Daniel de Oliveira, Cássia Kiss e Maria Casadevall. O quinteto aproveita cada chance de brilhar e a ótima química apresentada por Renato e Sophie no começo da novela permanece intacta. Por outro lado, é de se lamentar o desperdício de talentos como Mariana Lima, Bárbara Reis, Júlia Dalavia, Letícia Spiller, Carla Salle e Marcos Palmeira.

Ironicamente, mesmo com os evidentes defeitos, Os Dias Eram Assim conseguiu se recuperar no ibope. Três fatores propiciaram este crescimento: as mudanças que tornaram a história mais didática, após os grupos de discussão revelarem que o brasileiro conhece pouco sobre a ditadura; o sucesso de A Força do Querer, atual novela das 21h; e a troca de horário às quintas-feiras com a série Vade Retro, aproveitando o bom ibope da trama de Glória Perez. Sua média geral (19,4 pontos até agora) se aproxima de Verdades Secretas (2015), o maior sucesso do horário das onze, com média total de 19,8 pontos.

Contudo, mesmo com o alto ibope, Os Dias Eram Assim é uma prova de que boa audiência e boa qualidade nem sempre andam juntas. O elenco é talentoso e a trilha sonora, uma das melhores já apresentadas. Em compensação, o enredo é lento e se sustenta apenas por um conflito. A caracterização dos figurinos e ambientes não é fiel à época. O maniqueísmo raso determina o tom dos personagens, onde os apoiadores do regime são quase sempre os mais velhos, conservadores e hipócritas, enquanto os opositores são os jovens bonzinhos românticos.

Devido a isto, a trama de Ângela Chaves e Alessandra Poggi não provoca, nem de longe, a mesma repercussão de antecessoras como O Astro (2011), Gabriela (2012) e a já citada Verdades Secretas. E tem tudo para ser esquecida quando sua trajetória se encerrar.


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