Record queria prolongar sucesso de novela, mas acabou se dando mal

Rolando Boldrin

Após viver uma fase áurea na segunda metade dos anos 1960, com musicais e humorísticos, como Esta Noite se Improvisa, Família Trapo e O Fino da Bossa (1965), a Record resolveu investir pesado em novelas no início da década de 1970.

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E assim vieram alguns sucessos, tal qual As Pupilas do Senhor Reitor (1970) e Os Deuses Estão Mortos (1971), ambas de Lauro César Muniz.

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Esta última, inclusive, rendeu a primeira continuação da história da teledramaturgia brasileira, Quarenta Anos Depois, que estreava há exatamente 50 anos, em 15 de dezembro de 1971. Só que a trama pioneira foi minada por conflitos internos da emissora.

Os Deuses Estão Mortos estreou no dia 8 de março de 1971. A produção, que se passava em 1889, contava a história de duas famílias que disputavam a liderança política de uma cidade do interior de São Paulo: os monarquistas Almeida Santos e os republicanos Lobo Ferraz.

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No elenco, figuravam o casal de protagonistas Fúlvio Stefanini, que vivia Leonardo, e Márcia Maria, que interpretava Veridiana. Rolando Boldrin era o barão Leôncio Almeida Santos. Também participaram Lia de Aguiar, Jonas Mello, Maria Estela, Márcia Real e Laura Cardoso, entre outros.

Exibida às 20 horas, concorrendo com a principal novela da Globo na época, Irmãos Coragem, até julho, e, em seguida, O Homem que Deve Morrer, Os Deuses Estão Mortos fez muito sucesso em São Paulo. É considerada uma das tramas de maior êxito da Record até hoje.

Quarenta Anos Depois

A produção deu tão certo que a emissora decidiu investir pesado e produzir uma continuação, chamada Quarenta Anos Depois.

Como o título sugere, a história deu um salto de 40 anos, ganhou novos personagens, mas manteve boa parte do elenco principal.

Quarenta Anos Depois estreou um dia após o final de Os Deuses Estão Mortos. Dessa vez, a trama focava na família Almeida Santos, rica e poderosa no final do século 19, mas passando por maus bocados em 1928, com a crise do café e o avanço da industrialização.

Fúlvio Stefanini e Márcia Maria continuavam nos papéis principais, agora com função dupla: os originais Leonardo e Veridiana, quarenta anos mais velhos, e seus netos, também chamados Leonardo e Veridiana.

Rolando Boldrin voltava como o mesmo barão Leôncio Almeida Santos. Entre as novidades do elenco estavam Paulo Goulart, que se destacou como Santiago, Nathalia Timberg, que viveu Cândida, e Mauro Mendonça, como Salvador.

“Por enquanto vai caminhando perfeitamente a segunda parte da novela Os Deuses Estão Mortos, a que Lauro Cesar Muniz deu o nome de Quarenta Anos Depois. […] Marcia Maria, que deve fazer uma avó de 60 anos, marca uma velhice gaguejante demais, toda trêmula, já perto da caduquice, o que não se compreende. Já Fúlvio Stefanini pode sentir-se recompensado. O autor, que lhe dera um papel sem espinha dorsal em duas novelas consecutivas, redime-se desenhando para ele um tipo cheio de possibilidades”, ponderou a crítica Helena Silveira (1912-1984) na Folha de São Paulo de 17 de janeiro de 1972.

Conflitos internos atrapalharam

Apesar de todo o investimento da Record, Quarenta Anos Depois não obteve o mesmo êxito da trama original e durou apenas três meses. Ficou no ar somente até 5 de março de 1972, dando lugar a O Tempo Não Apaga.

Em 6 de março de 1972, na mesma Folha de São Paulo, Helena Silveira contou que Lauro César Muniz lhe enviou uma carta contando os motivos que levaram ao final precoce da novela.

Confira trechos da carta:

“Sinto-me na obrigação de comunicar-lhe que os últimos capítulos de Os Deuses Estão Mortos foram escritos obedecendo a uma intimação da direção artística da emissora. Tive que encerrar a novela em 12 capítulos, precipitando todos os conflitos armados. Alega a emissora que a novela não dava um ibope satisfatório, mas eu acho que é apenas um pretexto para que eles resolvessem um impasse surgido entre os principais atores e a direção. Pode a senhora observar que no elenco da novela que deve substituir não estão os principais nomes. Devo ainda informar que os capítulos finais foram gravados ‘no tapa’, cortando-se cenas importantes de conclusão. A razão dessa amputação do trabalho é a enorme falta de critério e discernimento dos elementos responsáveis pela direção artística.

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Novas continuações

Muitos anos depois, a mesma Record protagonizou a continuação de outra novela: Caminhos do Coração, exibida entre 28 de agosto de 2007 e 2 de junho de 2008, deu lugar a Os Mutantes – Caminhos do Coração, entre 3 de junho de 2008 e 23 de março de 2009, e, finalmente, Mutantes – Promessas de Amor, entre 24 de março e 3 de agosto de 2009.

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Em 2015, empolgada com o êxito de Os Dez Mandamentos, de 23 de março a 23 de novembro, a Record remanejou a substituta já pronta, Escrava Mãe, e apostou em reprises de minisséries bíblicas, enquanto aguardava a autora Vivian de Oliveira desenvolver novos capítulos para a produção. Em 4 de abril de 2016, estreou Os Dez Mandamentos – Nova Temporada.

Em 2021, a Globo está exibindo Nos Tempos do Imperador, que deveria ter ido ao ar em março de 2020, mas foi adiada em virtude da pandemia do novo coronavírus.

A trama é a continuação da história de Novo Mundo, apresentada em 2016 e reprisada no ano passado em edição especial.

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