A mais nova controvérsia envolvendo a Record foi a ordem para deixar de apresentar o Jornal da Record ao vivo, que partiu da direção do canal. O fato, divulgado pelo site TV Pop, escancara que uma espécie de censura interna poderá ser feita no jornalístico apresentado por Celso Freitas (foto abaixo) e Christina Lemos, especialmente na época das eleições. Mas essa é apenas uma das crises enfrentadas pela emissora.
Em julho, o SBT conseguiu uma “incrível” marca: recuperou a vice-liderança de audiência na TV aberta na Grande São Paulo, principal mercado publicitário do país. A emissora de Silvio Santos cravou 3,7 pontos no Kantar Ibope na média-dia, enquanto a Record ficou em terceiro, com 3,6.
A diferença de um décimo parece pouco, mas expõe a crise que está instalada na Record. Afinal, a crise do SBT é muito maior, pois a emissora perdeu fôlego nos últimos dois anos e registra os piores índices de audiência de sua história desde então. Se mesmo neste cenário, o canal ainda conseguiu passar a Record em São Paulo, é sinal de que os problemas na Barra Funda são muito maiores.
A pequena vitória do SBT não evidencia acertos da estação de Silvio Santos, mas sim a incompetência da própria Record, que vem perdendo fôlego mesmo diante de uma concorrência apática. A queda de audiência da emissora não está ligada a nenhum êxito das rivais, mas sim aos erros dela mesma.
Crise das novelas bíblicas
O grande problema da Record está em seu horário nobre. A emissora tem feito escolhas equivocadas e, agora, paga o preço por isso. A grande “culpada” pelo atual fiasco é a dramaturgia bíblica, que passa por uma crise sem precedentes.
Falta profissionalismo na dramaturgia da emissora. Falta um diretor que realmente entenda do riscado. Atualmente, o setor é comandado por Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo, que usa as novelas como meio de evangelização. Ou seja, não há um olhar profissional para o setor. As decisões são amadoras.
A aposta em Todas as Garotas em Mim é a maior evidência desse amadorismo. Nenhum diretor minimamente experiente em teledramaturgia aprovaria um projeto como este. O fiasco da série adolescente foi apenas o resultado da falta de um olhar técnico, que soubesse apontar as inúmeras falhas da produção.
Além disso, Reis também demonstra o desgaste das novelas bíblicas. A trama não tem o mesmo apelo popular de Os Dez Mandamentos e começa a repetir histórias bíblicas já contadas pela Record. Trata-se de uma produção nichada e, como tal, não tem potencial para elevar a audiência da emissora aos patamares da saga de Moisés (Guilherme Winter).
Para piorar, a emissora escalou uma reprise de Amor Sem Igual, novela contemporânea, mas que também carrega mensagens religiosas. A trama derrubou mais ainda o horário nobre da emissora, prejudicando seriamente o desempenho dos reality shows do canal.
Realities desgastados
Power Couple Brasil e Ilha Record registraram, em 2022, os seus piores desempenhos. O fracasso pode ser creditado ao fiasco das novelas que antecedem os realities da Record. Mas não só isso. Há também um claro sinal de desgaste destas produções.
A emissora, pelo segundo ano consecutivo, aposta num rodízio de realities todos muito parecidos uns com os outros. Power Couple, Ilha Record e A Fazenda confinam subcelebridades para os mais diferentes propósitos. Mas, na prática, são as mesmas crises de convivência que se repetem. Parece o mesmo programa, exibido em looping o ano inteiro.
No passado, a Record tinha um leque de realities mais variado. A emissora colheu bons frutos com O Aprendiz, Troca de Família, Troca de Esposas e até o Simple Life – Mudando de Vida. Cada reality tinha uma proposta diferente, e todos trouxeram bons resultados.
Mudar para não desabar
Em suma: a Record precisa de uma mudança de rumo urgente. A dramaturgia e a linha de shows vive uma crise que vai se agravando em razão da falta de profissionalismo e de criatividade. É hora de mudar para não desabar de vez.
A emissora precisa voltar a contar com profissionais para tocar sua dramaturgia, voltando a apostar em folhetins de apelo junto ao público. Além disso, a Record devia ir às compras e buscar formatos novos e mais atrativos para turbinar sua linha de shows. A fórmula atual está claramente falida, e a emissora ficará em maus lençóis se continuar insistindo nela.