Reciclagem: Amor de Mãe “persegue” outras novelas da Globo

“Toda semelhança é mera coincidência”. Essa frase é comum em filmes e novelas. No entanto, quando se trata de cenários das novelas da Globo, nada é por acaso…

Em Amor de Mãe (2019), escrita por Manuela Dias, Lurdes (Regina Casé) conheceu Thelma (Adriana Esteves) em um viaduto. Esse cenário ficou marcado em muitas cenas da novela.

A produção fez um ótimo trabalho ao reproduzir nos Estúdios Globo uma réplica fiel desse tipo de “obra” que se vê, inevitavelmente, em cada canto de uma metrópole.

Construção histórica

Em entrevista ao Gshow, em 26 de novembro de 2019, o cenógrafo Pedro Equi descreveu a criação do viaduto bastante próximo da realidade.

“O principal desafio foi como viabilizar o viaduto de forma cenográfica. A nossa cidade tem em torno de nove mil metros quadrados e tem interior e exterior. A grande vantagem disso é poder ter todo o acontecimento presente na cena”, contou o profissional.

Três anos depois da estreia de Amor de Mãe, o público teve uma grande surpresa ao assistir Cara e Coragem, novela das sete que ainda está no ar: o mesmo viaduto continua lá, e intacto.

Nova novela, mesmo ambiente

Durante uma cena em que Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado) estão atrás de Andréa Pratini (Maria Eduarda de Carvalho), eles passam por muitas ruas e pelo viaduto da novela das oito. Os telespectadores foram às redes sociais para comentar o fato da emissora utilizar o mesmo cenário da trama de Manuela Dias.

Essa não foi a primeira vez que a famosa obra “reapareceu” em uma novela. Em Um Lugar ao Sol (2021), Lara (Andréia Horta), ao ver o “falecido” Christian (Cauã Reymond), saiu correndo pelas mesmas ruas de Amor de Mãe.

Naquele ano, o Brasil ainda sofria com os efeitos da pandemia, e gravar em externas era muito arriscado. A Globo deu prioridade à segurança e também à preservação de cenários grandiosos.

A reciclagem de cenários

Um Lugar ao Sol reaproveitou outros cenários de Amor de Mãe. A casa de Thelma acabou se tornando a moradia de Mateus (Danton Mello), esposo de Lara. Já a residência da personagem de Regina Casé ficou para Ravi (Juan Paiva), amigo de Christian. Outro local reutilizado foi o quarto de Ryan (Thiago Martins) e Sandro (Humberto Carrão), que serviu, por uns dias, de refúgio para Ravi.

O viaduto também foi destaque em Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), que colocou no entorno da estrutura todo o núcleo da Tijuca, da boate Pulp Fiction à casa do ex-craque Neném (Vladimir Brichta).

Outra reformulação ficou pelo caminho… Selton Mello ganhou o sinal verde do Globoplay para tocar um novo projeto – O Alienista, obra originalmente escrita por Machado de Assis, convertida série. Erick Brêtas, diretor-geral do Globoplay, afirmou que a produção faria uso dos cenários feitos para a novela Nos Tempos do Imperador (2021).

As fachadas, os prédios e os palacetes da época do Brasil Império – que se passa entre 1822 e 1889 – seriam mantidos na série, ambientada no mesmo período da novela escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson. O Alienista, porém, não foi pra frente.

Duas produções em um mesmo lugar

Não é de agora que a Globo fecha a carteira e busca economizar nas construções de cenários. Em 1988, nos 100 anos do fim da escravidão no Brasil, a emissora criou a minissérie Abolição, totalmente ambientada em 1888. No ano seguinte, outro centenário foi comemorado, o da Proclamação da República, e outra minissérie foi feita: República (1989).

A Globo decidiu realizar essas duas obras no mesmo cenário, e até repetiu os personagens, pois a diferença de tempo era mínima, e não teria sentido produzir dois ambientes para as minisséries.