Recém-inaugurado, SBT chocou o público ao mostrar morte de bebê ao vivo

05/08/2021 às 14h53

Por: Redação
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Com pouco mais de um ano de vida, o SBT – na época ainda chamado de TVS – exibiu uma tragédia em 1982. Um bebê de apenas nove meses morreu no estúdio do programa O Povo na TV enquanto sua mãe suplicava por atendimento médico para sua pequena filha, chocando o público que via tudo ao vivo pela televisão.

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Criado e dirigido por Wilton Franco (1930-2012) e apresentado por nomes como Wagner Montes (1954-2019), Christina Rocha, o hoje político Roberto Jefferson e Sérgio Mallandro, entre outros, O Povo na TV era derivado do Aqui e Agora, que estreou em 1979 na extinta TV Tupi, chegando a alcançar mais de 20 pontos de audiência.

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Em 1980, o programa estreou na TVS, quando essa ainda era apenas um canal de Silvio Santos no Rio de Janeiro, e passou a ser exibido pelo SBT a partir de sua entrada no ar, em agosto de 1981.

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A atração, com quatro horas de duração e exibição ao vivo, era conhecida pelo tom sensacionalista, mostrando reclamações do público, denúncias de crimes, como roubo e estupro, atendimentos ruins em hospitais, entre outros dramas, que, muitas vezes, acabavam em briga em pleno palco. Outro destaque era a reza da Ave Maria, comandada por Franco, que encerrava o programa.

No dia 14 de dezembro de 1982, Maria Erinalda da Silva foi ao estúdio do programa, no Rio de Janeiro (RJ), queixando-se da falta de atendimento médico para a filha Danubia, que sofria de câncer nos olhos.

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A menina passou por diversas instituições, como Hospital Pedro Ernesto, Hospital Infantil Ismélia da Silveira, Hospital Souza Aguiar, Casa de Saúde Santa Helena, Hospital Naval e Hospital do Câncer, entre outros, com Maria Erinalda ouvindo as mais variadas desculpas para a recusa pelo tratamento.

“A mãe procurou o apresentador Wilton Franco para dizer que há cinco meses percorria os hospitais, sem conseguir internar a filha. Danubia morreu diante das câmeras, sangrando pelos olhos, a principal característica da doença”, explicou matéria da Folha de S.Paulo de 16 de dezembro. “A produção do programa negou-se ontem a comentar o fato”, comentou.

De acordo com a reportagem, Maria Erinalda chegou na TVS às 11h, aguardando a entrada do programa no ar, às 13h. Às 13h40, saiu do canal levando o corpo da menina, em uma ambulância, para o Instituto Médico Legal. “O Wilton fez o que ninguém fez por minha filha”, declarou o pai da menina, Marcos Eugênio Garcia, à Folha.

No dia 17 de dezembro, em editorial, a Folha criticou a exibição do caso. “Estranha concepção de povo essa ostentada pela programação da TVS. Diariamente, O Povo na TV apresenta um desfile das mais variadas manifestações de miséria humana, que faria inveja ao Pátio dos Milagres”, destacou o jornal. “Queixas contra particulares ou autoridades, ao lado de sofrimentos terríveis e injustiças clamorosas, tudo isso amplificado por apresentadores e comparsas especializados em superlativos”, completou.

A publicação enfatizou que o fato exibido ultrapassou os limites. “A TV excedeu-se ao trazer aos lares, em horário vespertino, a agonia e a morte de um bebê, cuja mãe alegava recusa de atendimento em vários hospitais do Rio de Janeiro. Enquanto produziam a costumeira encenação, a criança morreu. Isto é demais”, finalizou.

Mesmo com a enxurrada de críticas, O Povo na TV continuou na programação do SBT até o ano seguinte, saindo do ar após um escândalo envolvendo Roberto Lengruber, curandeiro que participava da atração e foi preso acusado de charlatanismo.

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