Rebeca, de Um Lugar ao Sol, poderia ser uma Helena de Manoel Carlos

Andrea Beltrão

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A atual novela das nove da Globo está a poucos capítulos de seu fim e Lícia Manzo vem conduzindo seu enredo com competência. Um Lugar ao Sol é uma novela repleta de tipos reais, onde todos estão certos e errados ao mesmo tempo.

Todos os perfis cometem atitudes condenáveis o tempo inteiro. E uma das personagens que mais tem se destacado na trama, através de vários sentimentos e angústias, é Rebeca, interpretada com brilhantismo por Andréa Beltrão.

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A atriz estava afastada das novelas desde 2001, quando esteve em As Filhas da Mãe, trama das sete de Silvio de Abreu. Depois foram várias séries ao longo dos anos, onde fez mais sucesso no humor, como em A Grande Família e Tapas & Beijos.

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Após 20 anos longe dos folhetins, Andréa ganhou uma personagem cheia de camadas e bons conflitos. Fica difícil imaginar outra intérprete no papel, que parece escrito sob medida por Lícia. Embora seja um perfil coadjuvante, há muito destaque.

Peso da idade

Rebeca é uma ex-modelo que enfrenta o peso da idade. Aos 50 anos, a personagem já não recebe quase convites de trabalho e em vários momentos é reforçado como o mercado da moda costuma descartar mulheres mais velhas.

Para culminar, a filha de Santiago (José de Abreu) enfrenta a inveja velada das irmãs, Nicole (Ana Baird) e Bárbara (Alinne Moraes), que nunca aceitaram vê-la como a preferida do pai.

As três costumam conflitar em muitos momentos. É preciso ainda citar o casamento que vivia em crise, onde o marido Túlio (Daniel Dantas) fazia questão de desrespeitá-la a todo instante, além do fato de traí-la com a secretária. A morte daquele homem acabou sendo um livramento.

Síndrome de Peter Pan

Rebeca também não se aceita como é. Não admite sua idade e faz involuntariamente uma competição com sua filha, Cecília (Fernanda Marques), de 18 anos. Há uma espécie de ‘síndrome do Peter Pan’ em torno da personagem. Parece que há um temor em crescer.

É perceptível que o sonho de Rebeca é voltar para a adolescência. Há um embate constante com o tempo. Dilemas que muitas pessoas vivem, o que apenas reforça o peso do papel e como é um tipo de fácil identificação.

Andréa Beltrão domina a personagem desde a primeira cena e impressiona como toda sequência se agiganta quando Rebeca aparece. Não por acaso, a atriz recebeu vários elogios pelo seu desempenho ao longo da trama. Tem sido um prazer vê-la defendendo um tipo tão rico dramaticamente e proferindo um texto tão bem escrito quanto o de Lícia.

É muito difícil não torcer por Rebeca. Aliás, é necessário mencionar a construção de seu romance com Felipe (Gabriel Leone), rapaz bem mais jovem, ex-namorado da melhor amiga da filha da personagem. A sintonia entre Andréa e Gabriel foi um dos êxitos da produção, mesmo com o rompimento do casal nas última semanas.

Por sinal, é até injusto mencionar a boa dupla formada com Gabriel Leone e não mencionar a deliciosa parceria entre Andréa e Mariana Lima. A amizade de Rebeca e Ilana é a mais bonita e sólida da história. São primas que se relacionam como irmãs, cúmplices. As conversas em forma de desabafo são um presente para o público.

Helena de Manoel Carlos?

É até interessante observar o comportamento de Rebeca e não lembrar dos conflitos das Helenas, de Manoel Carlos.

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Ela é um tipo que lembra bastante as protagonistas de Maneco, mas sem o universo machista tão comum nos folhetins do escritor. Tem até uma filha irritante com quem discute constantemente.

Outra similaridade: uma volta com algum homem de seu passado. Agora, na penúltima semana de história, a personagem se reaproximou de Edgar, seu ex-marido, pai de Cecília, vivido pelo grande Du Moscovis. As cenas dos atores estão deliciosas.

Um Lugar ao Sol teve como um de seus maiores trunfos a presença de Andréa Beltrão defendendo um dos tipos mais bem desenvolvidos e escritos da história. O prazer da atriz em cena é perceptível. Voltou às novelas em grande estilo.

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