R$ 25 milhões: autor de O Rei do Gado perdeu processo para o SBT
07/03/2023 às 17h15
Benedito Ruy Barbosa, autor de O Rei do Gado, desenvolveu a novela para a Globo enquanto travava batalhas com o SBT. O episódio, um dos mais peculiares da televisão brasileira na década de 1990, envolveu também dois colegas de ofício de Benedito: Gloria Perez e Walther Negrão.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Em 1996, empolgado com os resultados do departamento de Dramaturgia comandado pelo diretor Nilton Travesso, Silvio Santos correu atrás de novelistas da principal concorrente. Ele estabeleceu acordos com Ruy Barbosa, Gloria e Negrão. Os três, porém, voltaram atrás…
Vai e volta
O acerto do SBT com Benedito Ruy Barbosa e Walther Negrão (foto) foi anunciado pelo jornal O Globo, em 25 de fevereiro de 1996. A matéria também destacou o interesse do canal em Aguinaldo Silva, além de Alcides Nogueira, Ângela Carneiro, Elizabeth Jhin, Maria Adelaide Amaral e Vinícius Vianna, então colaboradores.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Posteriormente, Silvio Santos adquiriu o passe de Gloria Perez. Os compromissos propostos pelo empresário respeitavam os contratos dos autores com a Globo: eles só mudariam de empresa dentro de dois anos, caso não estivessem no ar.
Benedito então foi cuidar de O Rei do Gado, enquanto Negrão deu início às pesquisas de Anjo de Mim. Gloria, conforme estabelecido após concluir Explode Coração (1995), voltou-se para o julgamento dos assassinos de sua filha, Daniella Perez.
LEIA TAMBÉM:
● Após lutar contra câncer, ex-apresentadora do Jornal da Manchete morre aos 65 anos
● Artista de Toma Lá, Dá Cá se recusou a tratar câncer: “Estado terminal”
● Após ser resgatado pela Praça, humorista perdeu luta contra a Aids
Meses depois, a rede dos Marinho convenceu os novelistas a permanecerem na casa. Silvio reagiu! Ele acionou a Justiça para cobrar explicações de Ruy Barbosa, Gloria e Negrão. O caso de Benedito, em específico, gerou protestos de executivos da emissora, por conta da antecipação do pagamento.
Desacerto
Guilherme Stoliar, então vice-presidente do SBT, detalhou o negócio fechado com Benedito Ruy Barbosa e as expectativas sobre em entrevista ao Globo, em 2 de junho de 1996.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Ele assinou conosco para escrever duas novelas a partir de 1998, quando termina o contrato com a Rede Globo. […] Ele tem um contrato com a gente e já recebeu US$ 1 milhão. Queríamos explicação sobre as notícias divulgadas pela imprensa de que ele teria renovado o contrato com a Globo, mas não tenho dúvida de que ele honrará o compromisso e até 2001 já terá escrito as duas novelas”, afirmou.
Também para O Globo, em 22 de maio de 1996, Benedito se defendeu:
“Tudo isso é muito chato. Sou amigo do Silvio Santos e assinei com o SBT porque estava mesmo decidido a trocar de canal em janeiro de 1998, quando acaba o meu contrato com a Globo. Depois disso, no entanto, eles criaram tanta confusão, que eu só posso achar que o desejo de me ter não era tão grande assim”.
Peixe fora d’água?
Na mesma matéria, Ruy Barbosa salientou que sua preocupação, no momento, era o folhetim estrelado por Antonio Fagundes (foto), então às vésperas da estreia.
“Não quero desviar minha atenção de ‘O Rei do Gado’. O Luiz Fernando Carvalho (diretor) está começando a gravar a segunda fase da novela e este é mais um trabalho que estamos fazendo com todo o carinho”, enfatizou.
“Não tenho medo nenhum de sair da Globo. Sei que tenho condições de fazer sucesso em outras emissoras mas, sem sombra de dúvida, é ela quem dá a melhor retaguarda, os recursos necessários para se contar uma bela história”, completou o autor, de bem-sucedidas passagens pela Band e pela Manchete.
Roberto Talma, então parceiro do SBT graças à produtora JPO – responsável por tramas como Colégio Brasil (1996) e Dona Anja (1996) –, discordou do novelista.
“Ele é um autor de produção cara, um épico que repete o mesmo Rei Lear (peça de William Shakespeare) há anos. Suas novelas são caras até para a Globo e requerem uma cultura administrativa que o SBT ainda não desenvolveu”, lamentou em depoimento ao jornal O Estado de São Paulo, de 2 de junho de 1996.
Casos encerrados
Em 2007, o SBT obteve a primeira vitória no processo contra os “quase funcionários”. A Globo, que havia se comprometido a arcar com os custos dos distratos, pagou os R$ 17,8 milhões referentes à dívida de Walther Negrão com Silvio Santos.
O dono do Baú, aliás, aproveitou a ocasião para alfinetar Benedito Ruy Barbosa e Gloria Perez. Em nota redigida por ele, e publicada no site da emissora, Silvio afirmou que “contratos devem ser respeitados e, quando isso não acontece, os infratores pagarão na Justiça pelas irregularidades”.
O processo relacionado a Gloria chegou ao fim logo depois, com o ressarcimento ao SBT de R$ 24,4 milhões. Pelo desacordo com Benedito, a rede de TV recebeu R$ 25 milhões.