André Santana

Sucesso na faixa das 19 horas da Globo em 1982, Elas por Elas ganhou uma nova versão na emissora em 2023. Mas, ao contrário da primeira, a releitura da obra de Cassiano Gabus Mendes não vem registrando bons índices de audiência.

Valentina Herszage em Elas por Elas
Valentina Herszage em Elas por Elas (Divulgação / Globo)

Muita gente acha que o motivo do fracasso é o horário errado. A história escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson tem “cara de novela das sete” e não combina com a faixa das 18h. O tom de comédia parece mais adequado ao horário anterior ao Jornal Nacional.

Mas não é a primeira vez que a Globo erra no horário de uma novela. Relembre quatro produções que também pareciam inadequadas para a faixa em que foram ao ar.

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Champagne (1983)

Irving São Paulo, Lúcia Veríssimo e Tony Ramos em Champagne
Irving São Paulo, Lúcia Veríssimo e Tony Ramos em Champagne

Após inúmeros sucessos na faixa das 19 horas, Cassiano Gabus Mendes estreava no horário nobre da Globo com Champagne. O dramaturgo topou o desafio de estrear às 20h num momento em que a emissora dispunha de poucos autores para a faixa.

Cassiano vinha do sucesso de Elas por Elas e apostou numa história de estrutura semelhante em Champagne. A trama também era centrada no encontro de pessoas – desta vez eram homens que estavam numa festa onde acontecia um assassinato misterioso. O garçom Gastão (Sebastião Vasconcellos) foi condenado pelo crime e, 13 anos depois, tentava provar sua inocência com a ajuda do filho Nil (Tony Ramos).

Na época, Cassiano Gabus Mendes afirmou que apostaria em situações mais sérias na trama, já que se tratava de uma novela das oito, mas seguiria seu estilo. Porém, a novela não emplacou e ficou marcada por ter perdido a liderança da Globo para a TV Manchete durante o carnaval daquele ano. A Manchete exibiu os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro com exclusividade e se deu bem.

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Hipertensão (1986)

Hipertensão - Ary Fontoura, Cláudio Corrêa e Castro e Paulo Gracindo
Ary Fontoura, Cláudio Corrêa e Castro e Paulo Gracindo em Hipertensão (Divulgação / Globo)

Remake de Ivani Ribeiro de sua novela Nossa Filha Gabriela (Tupi, 1971), Hipertensão contava a história de Carina (Maria Zilda Bethlem), que conhece três simpáticos homens: Candinho (Paulo Gracindo), Romeu (Ary Fontoura) e Napoleão (Claudio Correa e Castro). O que ela não sabe é que um deles é seu pai, mistério que perdura toda a novela.

A trama não chegou a decepcionar nos índices de audiência, mas passou a impressão de que estava no horário errado. De acordo com o pesquisador Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, Hipertensão tinha todos os elementos típicos de uma novela das seis, mas era exibida às 19 horas.

 

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Rainha da Sucata (1990)

Rainha da Sucata
Rainha da Sucata (Divulgação / Globo)

Até então “rei das sete” da Globo, Silvio de Abreu estreava no horário nobre com Rainha da Sucata. No livro Crimes no Horário Nobre, de Raphael Scire, o autor contou que tinha a intenção de levar uma típica comédia das sete à faixa das oito da Globo.

No entanto, Abreu explicou que percebeu certa rejeição do público à proposta e tratou de aumentar o drama da história estrelada por Regina Duarte, Tony Ramos e Gloria Menezes. A estratégia deu certo e Rainha da Sucata converteu-se num grande sucesso.

Negócio da China (2008)

Negócio da China
Negócio da China (Reprodução / Globo)

Notando um cansaço do público em relação às tramas de época às 18h, a direção da Globo resolveu ousar e, em 2008, escalou Negócio da China, de Miguel Falabella, para o horário das seis – a trama havia sido concebida para a faixa das sete, onde Falabella havia emplacado Salsa e Merengue (1996) e A Lua me Disse (2005).

No novo horário, o autor deu ênfase nos romances, mas vários elementos típicos de suas novelas das sete estavam lá: personagens populares com nomes engraçados, diálogos afiados, humor satírico e ação. O público estranhou e a novela se tornou o maior fracasso da faixa até então. Falabella chegou a admitir que ficou “traumatizado” com a experiência.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor