CONFUSÃO

Quatro novelas que ficaram marcadas por brigas nos bastidores: “Queria bater nele”

26/11/2024 às 17h17

Por: Vitor Peccoli
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Priscila Fantin em Esperança

Na produção de novelas há várias etapas e nem sempre as coisas saem como o planejado. E quando algo sai dos trilhos, se instaura o maior caos nos bastidores. Importantes tramas da Globo já passaram por problemas terríveis, inclusive com briga entre autores, como Esperança, que tinha entre suas estrelas Priscila Fantin.

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Qualquer novela está sujeita a desentendimentos, mas isso se intensifica quando a produção em questão enfrenta rejeição e baixa audiência.

Nesses casos, a insatisfação toma conta dos envolvidos e a briga é certa, com direito até a trocas no meio do caminho.

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Confira abaixo quatro novelas marcadas por confusões:

América

Deborah Secco e Camila Morgado em América
Deborah Secco e Camila Morgado em América

Novela de Gloria Perez recentemente exibida pelo Viva, América (2005) terminou como um sucesso.

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No entanto, o início do percurso foi bastante difícil. Antes mesmo da estreia, os bastidores do folhetim foram marcados por divergência entre a autora e o diretor Jayme Monjardim.

Enquanto ele queria Camila Morgado e Marcos Palmeira como os protagonistas Sol e Tião, a novelista desejava Deborah Secco e Murilo Benício – a vontade de Gloria prevaleceu.

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Quando América entrou no ar, os problemas continuaram. Gloria Perez não gostou do que viu no ar e Monjardim acabou deixando a trama com apenas 38 capítulos gravados. Marcos Schechtman, que já integrava a equipe, assumiu o comando. Até mesmo a abertura foi mudada na nova fase.

Em depoimento para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, de Flávio Ricco e José Armando Vannucci, a autora desabafou.

“Na escrita, [a protagonista Sol] era uma mulher forte, cheia de gás, e na tela estava sempre chorando. O ajuste foi necessário para levar ao ar a história como ela estava sendo contada nos capítulos”, disse.

Cavalo de Aço

Tarcisio Meira em Cavalo de Aço
Tarcisio Meira em Cavalo de Aço

Em Cavalo de Aço (1973), seu único trabalho no horário das oito, Walther Negrão enfrentou diversos problemas. O primeiro entrave surgiu por conta da Censura Federal, que proibiu discussões sobre reforma agrária e uma campanha antitóxico.

Responsável pela dramaturgia da Globo na época, Daniel Filho chegou a “enganar” Negrão. Insatisfeito com a baixa audiência, ele contou em sua biografia “Antes Que Me Esqueçam” que chegou a dizer ao autor que a trama seria encurtada.

“A novela ia tão mal que, quando estava no capítulo 90, cheguei para o Negrão e disse que a novela ia acabar no capítulo 100. Então o que ele fez foi liquidar todas as histórias paralelas até chegar à história central. No dia em que ele matou o Sr. Max, chamei-o e disse que a novela ia ter mais 50 capítulos. No fim, Cavalo de Aço teve 170 capítulos, ficando 8 meses no ar. Mas Negrão teve que continuar a novela com o ‘quem matou quem’”, relatou.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, Walther Negrão reclamou – sem citar nomes – que o diretor fazia algo diferente do que ele queria. A direção de Cavalo de Aço foi assinada por Walter Avancini, com o auxílio de David Grimberg.

“Eu escrevia uma história, o diretor mostrava outra. Como ele tinha mais acesso aos atores, o elenco ia pela cabeça dele, ficando contra mim. Virou uma guerra. Isso me deixava desencantado. Muitas vezes, não era a história que eu havia escrito”, desabafou.

A novela foi perdida para sempre e nunca mais será vista pelo público.

Esperança

Benedito Ruy Barbosa
Benedito Ruy Barbosa

Os bastidores de Esperança (2002) também foram bastante agitados. Em alta após o sucesso de Terra Nostra (1999), Benedito Ruy Barbosa voltou ao horário nobre com uma história protagonizada por italianos.

Mas, ao contrário do que aconteceu na antecessora, deu tudo errado. A novela enfrentou problemas de audiência e, para piorar, o autor começou a atrasar a entrega dos capítulos, o que agravou a crise.

Na época, Benedito passava por problemas pessoas com a internação da mãe, que estava doente. Diante disso, ele ficou deprimido e atrasou a entrega do material. A Globo, então, escalou Walcyr Carrasco para dar continuidade à história.

Carrasco entrou com a missão de colocar Esperança “nos trilhos”. O novelista, no entanto, deu novos rumos, criou personagens e mudou alguns outros. A intervenção serviu para dar sequência ao folhetim.

Só que as alterações promovidas por Walcyr Carrasco causaram outra crise nos bastidores. Benedito Ruy Barbosa não gostou nada dos rumos que a novela tomou e ficou bastante irritado.

Em entrevista ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, Benedito relatou um episódio em que chegou a ameaçar bater no colega.

“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo]: ‘Olha, Mário, avisa o Walcyr que, quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’. Ele simplesmente acabou com a minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! O sujeito andava ressabiado comigo. No fim, tudo terminou bem. Acendemos o charuto da paz”, disparou.

O Outro

Malu Mader em O Outro
Malu Mader em O Outro

Depois do sucesso como coautor de Roque Santeiro (1985), Aguinaldo Silva retornou ao horário nobre da Globo com O Outro (1987). E os bastidores da trama renderam uma novela à parte.

O folhetim foi parar na Justiça por acusação de plágio. Como se não bastasse, houve problemas na direção da obra. O então diretor de núcleo da faixa das 20h, Paulo Afonso Grisolli, reprovou as primeiras cenas gravadas por Marcos Paulo, que assinava a direção da novela, alegando falta de qualidade.

A partir daí, iniciou-se um troca-troca nos bastidores. Com a saída de Marcos Paulo, Gonzaga Blota assumiu a direção de O Outro e regravou todas as cenas feitas pelo antecessor.

Blota, no entanto, também deixou a produção antes do fim. Ele foi substituído por Ricardo Waddington, que após um período também saiu da novela para dirigir a substituta Mandala (1988).

O Outro passou a ser dirigida por Del Rangel. Também passaram pela direção da novela de Aguinaldo Silva nomes como Fred Confalonieri, Ignácio Coqueiro e o ator José de Abreu, que estava no elenco do folhetim.

Nunca reprisada, a trama está prevista para ser resgatada pelo Globoplay.

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