Quatro novelas marcadas por brigas nos bastidores: “Virou uma guerra”

Deborah Secco e Camila Morgado em América

Deborah Secco e Camila Morgado em América

Na produção de novelas há várias etapas e nem sempre as coisas saem como o planejado. E quando algo sai dos trilhos, se instaura o maior caos nos bastidores. Importantes tramas da Globo já passaram por problemas terríveis, inclusive com briga entre autores, como América.

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Qualquer novela está sujeita a desentendimentos, mas isso se intensifica quando a produção em questão enfrenta rejeição e baixa audiência. Nesses casos, a insatisfação toma conta dos envolvidos e a briga é certa, com direito até a trocas no meio do caminho.

Confira abaixo quatro novelas marcadas por confusões:

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América

Deborah Secco e Camila Morgado em América

Novela das oito de Gloria Perez que está sendo exibida pelo Viva, América (2005) terminou como um sucesso.

No entanto, o início do percurso foi bastante difícil. Antes mesmo da estreia, os bastidores do folhetim foram marcados por divergência entre a autora e o diretor Jayme Monjardim.

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Enquanto ele queria Camila Morgado e Marcos Palmeira como os protagonistas Sol e Tião, a novelista desejava Deborah Secco e Murilo Benício – a vontade de Gloria prevaleceu.

Quando América entrou no ar, os problemas continuaram. Gloria Perez não gostou do que viu no ar e Monjardim acabou deixando a trama com apenas 38 capítulos gravados. Marcos Schechtman, que já integrava a equipe, assumiu o comando. Até mesmo a abertura foi mudada na nova fase.

Em depoimento para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, de Flávio Ricco e José Armando Vannucci, a autora desabafou.

“Na escrita, [a protagonista Sol] era uma mulher forte, cheia de gás, e na tela estava sempre chorando. O ajuste foi necessário para levar ao ar a história como ela estava sendo contada nos capítulos”, disse.

Cavalo de Aço

Em Cavalo de Aço (1973), seu único trabalho no horário das oito, Walther Negrão enfrentou diversos problemas. O primeiro entrave surgiu por conta da Censura Federal, que proibiu discussões sobre reforma agrária e uma campanha antitóxico.

Responsável pela dramaturgia da Globo na época, Daniel Filho chegou a “enganar” Negrão. Insatisfeito com a baixa audiência, ele contou em sua biografia “Antes Que Me Esqueçam” que chegou a dizer ao autor que a trama seria encurtada.

“A novela ia tão mal que, quando estava no capítulo 90, cheguei para o Negrão e disse que a novela ia acabar no capítulo 100. Então o que ele fez foi liquidar todas as histórias paralelas até chegar à história central. No dia em que ele matou o Sr. Max, chamei-o e disse que a novela ia ter mais 50 capítulos. No fim, Cavalo de Aço teve 170 capítulos, ficando 8 meses no ar. Mas Negrão teve que continuar a novela com o ‘quem matou quem’”, relatou.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, Walther Negrão reclamou – sem citar nomes – que o diretor fazia algo diferente do que ele queria. A direção de Cavalo de Aço foi assinada por Walter Avancini, com o auxílio de David Grimberg.

“Eu escrevia uma história, o diretor mostrava outra. Como ele tinha mais acesso aos atores, o elenco ia pela cabeça dele, ficando contra mim. Virou uma guerra. Isso me deixava desencantado. Muitas vezes, não era a história que eu havia escrito”, desabafou.

Esperança

Os bastidores de Esperança (2002) também foram bastante agitados. Em alta após o sucesso de Terra Nostra (1999), Benedito Ruy Barbosa voltou ao horário nobre com uma história protagonizada por italianos.

Mas, ao contrário do que aconteceu na antecessora, deu tudo errado. A novela enfrentou problemas de audiência e, para piorar, o autor começou a atrasar a entrega dos capítulos, o que agravou a crise.

Na época, Benedito passava por problemas pessoas com a internação da mãe, que estava doente. Diante disso, ele ficou deprimido e atrasou a entrega do material. A Globo, então, escalou Walcyr Carrasco para dar continuidade à história.

Carrasco entrou com a missão de colocar Esperança “nos trilhos”. O novelista, no entanto, deu novos rumos, criou personagens e mudou alguns outros. A intervenção serviu para dar sequência ao folhetim.

Só que as alterações promovidas por Walcyr Carrasco causaram outra crise nos bastidores. Benedito Ruy Barbosa não gostou nada dos rumos que a novela tomou e ficou bastante irritado.

Em entrevista ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, Benedito relatou um episódio em que chegou a ameaçar bater no colega.

“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo]: ‘Olha, Mário, avisa o Walcyr que, quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’. Ele simplesmente acabou com a minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! O sujeito andava ressabiado comigo. No fim, tudo terminou bem. Acendemos o charuto da paz”, disparou.

O Outro

Depois do sucesso como coautor de Roque Santeiro (1985), Aguinaldo Silva retornou ao horário nobre da Globo com O Outro (1987). E os bastidores da trama renderam uma novela à parte.

O folhetim foi parar na Justiça por acusação de plágio. Como se não bastasse, houve problemas na direção da obra. O então diretor de núcleo da faixa das 20h, Paulo Afonso Grisolli, reprovou as primeiras cenas gravadas por Marcos Paulo, que assinava a direção da novela, alegando falta de qualidade.

A partir daí, iniciou-se um troca-troca nos bastidores. Com a saída de Marcos Paulo, Gonzaga Blota assumiu a direção de O Outro e regravou todas as cenas feitas pelo antecessor.

Blota, no entanto, também deixou a produção antes do fim. Ele foi substituído por Ricardo Waddington, que após um período também saiu da novela para dirigir a substituta Mandala (1988).

O Outro passou a ser dirigida por Del Rangel. Também passaram pela direção da novela de Aguinaldo Silva nomes como Fred Confalonieri, Ignácio Coqueiro e o ator José de Abreu, que estava no elenco do folhetim.

Nunca reprisada, a trama está prevista para ser resgatada em breve pelo Globoplay.

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