Após quatro anos na geladeira, remake de dramalhão estreava no SBT em 2001
21/05/2021 às 17h30
Há 20 anos, o SBT exibia o primeiro capítulo de O Direito de Nascer. Terceira adaptação no Brasil do texto do cubano Félix Caignet, a novela passou aproximadamente quatro anos na gaveta do canal até que Silvio Santos – que arrematou o roteiro em abril de 1995, por US$ 50 mil – se decidisse pela estreia. Desta forma, o folhetim marcou dois momentos díspares da teledramaturgia da emissora: o fim da “era de ouro” coordenada por Nilton Travesso, no ano em que foi produzida; e a retomada das adaptações de tramas mexicanas, quando enfim foi exibida.
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As gravações de O Direito de Nascer foram iniciadas em julho de 1997, tendo como locações a cidade de Campinas e a estação ferroviária de Anhumas, interior de São Paulo, e a bucólica Paraty, litoral do Rio de Janeiro. Reescrita por Aziz Bajur e Jaime Camargo, com supervisão de Crayton Sarzy, a novela esteve a cargo da produtora JPO, mantida pelo empresário José Paulo Vallone em parceria com o diretor, ex-Globo, Roberto Talma. Vallone e Talma foram integrados ao SBT em 1996, através da juvenil Colégio Brasil, também exibida às 18h.
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Na época, Silvio Santos se permitiu ousar: lançou três novelas num mesmo dia, numa grade similar à Globo. O canal, após o bom desempenho de Éramos Seis (1994) e de As Pupilas do Senhor (1994), não foi propriamente “feliz” com Sangue do meu Sangue 1995), que registrou índices aquém das antecessoras e enfrentou problemas de bastidores – como a substituição dos adaptadores Paulo Figueiredo e Rita Buzzar pelo autor do texto original, Vicente Sesso, insatisfeito com as mudanças no roteiro.
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Optou-se então por substitui-la pela “terceirizada” Antônio Alves, Taxista, contemporânea, inaugurando outros dois horários, também com folhetins urbanos e “moderninhos”: Colégio Brasil às 18h e Razão de Viver às 21h – esta de responsabilidade da casa.
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Nenhuma das produções conquistou o efeito desejado, mas a parceria com a JPO foi mantida. Em dezembro de 1996, estreou Dona Anja, estrelada por Lucélia Santos. Concorrente direta dos capítulos finais de O Rei do Gado e das primeiras emoções de A Indomada- ambas da Globo, às 20h – ‘Anja’ derrubou ainda mais os números do SBT. Viu a mexicana Marimar, segundo título da “franquia de Marias” que inclui ainda ‘Mercedes’ e ‘do Bairro’, ultrapassar seus índices e tornar-se o segundo programa mais assistido da emissora, atrás apenas do dominical de Silvio Santos.
Claro que o “homem do Baú” tomou-se de amores pelas mexicanas, mais baratas e mais eficazes. Sobrou para Os Ossos do Barão, remake da obra de Jorge Andrade, cujas gravações iniciadas em outubro de 1996 já estavam próximas do fim quando o folhetim entrou no ar, em abril de 1997. A produção própria seguiu apanhando da novela das oito da emissora-líder, enquanto Maria do Bairro, fazendo frente ao Jornal Nacional, tornou-se coqueluche em todo o país, preparando terreno para a infantojuvenil Chiquititas, gravada na Argentina com atores brasileiros.
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Eis que a substituta de ‘Os Ossos’, A Pantera, acabou cancelada. Com Marília Pêra contratada a peso de ouro especialmente para protagonizar esta sinopse de Vicente Sesso, o SBT se viu obrigado a correr atrás de um novo texto. Recorreu-se outra vez aos “hermanos”: Pérola Negra, estrelada por Patrícia de Sabrit e Dalton Vigh foi produzida a toque de caixa – e sem Marília, que se recusou a integrar o elenco. Ainda assim, se aventava a possibilidade de emplacar O Direito de Nascer no horário. Por fim, nenhuma, nem outra: reapresentação de Maria Mercedes, seguida de Maria do Bairro.
Silvio Santos determinou o início imediato das gravações do Teleteatro, série de adaptações da dramaturga Marisa Garrido. O banco de elenco da emissora, que contava com 16 profissionais, se revoltou com a imposição: queixavam-se da má qualidade dos roteiros e da produção. Não tardou para que o SBT perdesse os valorosos remanescentes: Ana Paula Arósio, Bete Coelho, Bia Seidl, Cássio Scapin, Delano Avelar, Denise Fraga, Irene Ravache, Jandira Martini, Joana Fomm, Jussara Freire, Lucélia Santos, Marcos Caruso, Osmar Prado, Suzy Rego, Tarcísio Filho e Tônia Carrero. Encerrou-se assim, melancolicamente, a era Nilton Travesso, então responsável pelo setor.
Pérola Negra acabou exibida entre 1998 e 1999, na sequência de Fascinação (1998), de Walcyr Carrasco. O público foi quem se decidiu pela veiculação de ‘Pérola’, em detrimento a ‘Direito de Nascer’: Silvio Santos exibiu trechos das duas tramas para suas “colegas de auditório”, que preferiram o romance argentino ao dramalhão cubano. A retomada das produções nacionais, contudo, foi interrompida logo em seguida com a estreia da “cucaracha” A Usurpadora. Aqui, ‘Direito’ foi preterida outra vez, em razão da concorrência com a Record – então próxima dos dígitos com outra produção da JPO, Louca Paixão (1999): “‘O Direito’ tem um tom muito pesado. O público acostumado com Pérola Negra acabaria migrando para a Record”, afirmou à Folha o então diretor de programação, Eduardo Lafon.
Em 2001, sabe-se lá porquê, Silvio Santos decidiu retomar o investimento em teledramaturgia. Lançou o repeteco de Éramos Seis às 18h, preparando terreno para a estreia de O Direito de Nascer, enfim “desengavetada” em maio daquele ano. Em julho, deu início às gravações de Pícara Sonhadora, folhetim que reabriu o ciclo de adaptações de textos mexicanos, que marcou os primórdios da emissora na década de 1980.
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Nesta época, os principais nomes do elenco de O Direito de Nascer estavam em evidência na Globo: o galã João Vitti havia acabado de concluir sua participação em O Cravo e a Rosa, às 18h; o mocinho Jorge Pontual e o vilão Luiz Guilherme participaram Uga-Uga, trama das 19h; a antagonista Cynthia Benini, que estreou como atriz na trama do SBT, já havia se tornado conhecida do público por seu trabalho em Laços de Família, às 20h. E Dhu Moraes se preparava para reencarnar Tia Nastácia, na nova adaptação do canal para o Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.
Em 2015, o canal fechado Fox Life adquiriu os direitos de exibição de O Direito de Nascer, que substituiu A Escrava Isaura (2004), da Record, em sua faixa de novelas. Depois, a novela, nunca reapresentada pelo SBT, foi exibida pela TV Aparecida, em 2018.