O primeiro turno das eleições será realizado neste domingo e a Copa do Mundo vem aí… Neste 2022, a Globo não pretende abordar tais eventos em suas novelas. Diferente do que ocorreu em 1970, quando Janete Clair levou a política e o futebol para o horário nobre.
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Resultado: Irmãos Coragem deu mais audiência que o torneio de futebol e o público, para fortalecer uma campanha pelo voto nulo, “elegeu” o candidato da ficção Jerônimo (Cláudio Cavalcanti, na foto acima em Lua Cheia de Amor).
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O Brasil do regime militar
Exibida durante o tricampeonato da Seleção Brasileira, conquistado no México, Irmãos Coragem fez a alegria do telespectador que vivia a fase mais nefasta do regime militar: o governo do general Médici intensificou, além da censura, atos de tortura e morte de presos políticos.
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O “pulo do gato” de Janete Clair foi estabelecer analogia entre a realidade do país e o autoritarismo do coronel Pedro Barros (Gilberto Martinho), que, usando de violência, dominava a fictícia cidade de Coroado. O público reconheceu as autoridades políticas da “vida real” na fantasia – enquanto os censores interpretavam a trama como um “faroeste tupiniquim”.
Situada entre Minas Gerais e Goiás, Coroado tinha o garimpo como principal atividade econômica. Os irmãos Coragem, João (Tarcísio Meira) e Jerônimo (Cláudio Cavalcanti), dedicavam-se à atividade, enquanto o caçula Duda (Cláudio Marzo) despontava como ídolo do Flamengo.
Pontos de virada
Uma reviravolta acontece quando João Coragem encontra um diamante. O roubo da pedra deflagra a virada do protagonista, que, desacreditado das ações da polícia e dos políticos locais, cúmplices de Pedro Barros, decide pegar em armas. Jerônimo, por sua vez, resolve lutar contra os desmandos dos poderosos da região através do voto.
Duda, então famoso, retorna à cidade natal e acaba ferido numa emboscada contra João. A batalha dele para voltar aos gramados revelou os bastidores do futebol, como o oportunismo de empresários e a venda de jogadores para clubes – o craque passou do Flamengo para o Corinthians.
Revolta popular
A novela explorou a campanha política de Jerônimo, que ingressou num partido de esquerda, defendendo ideias em prol do povo. O rapaz, contudo, não saiu ileso da investida: o casamento com Lídia (Sônia Braga), filha do deputado Siqueira (Felipe Wagner), foi por mero interesse eleitoreiro. Os métodos de Pedro Barros, contudo, eram muito mais sórdidos, indo da compra de votos às ameaças.
Em plena ditadura militar, o povo não tinha o direito de escolher presidente, governador e prefeito. Naquele 1970, o voto direto foi apenas para senador e vereador. Partidos de esquerda então levantaram a bandeira do voto nulo. Quem foi às urnas, apostou em Jerônimo Coragem; o voto no candidato da ficção, obviamente, era invalidado.
Desfecho trágico
Nos capítulos finais, Jerônimo abandonou Lídia, ingressou na luta armada ao lado do irmão João e se entregou ao amor de Potira (Lúcia Alves) – descendente de índios que fora criada em sua casa.
A morte do casal em uma emboscada atiçou a fúria de João, que estraçalhou o diamante, considerado por ele o responsável pela destruição de sua família.
Pedro Barros, ensandecido com a disputa pelo domínio de Coroado, ateia fogo às casas da cidade. Após este episódio, João se une à esposa Lara (Glória Menezes), filha do coronel, para reconstruir a comunidade, livre da ganância e da exploração.