André Santana

O anúncio da volta de Mulheres Apaixonadas (2003) no Vale a Pena Ver de Novo não chegou a ser uma surpresa entre os noveleiros. Afinal, o clássico de Manoel Carlos está cotado para voltar ao ar desde o final do ano passado, quando foi preterido por O Rei do Gado (1996).

José Mayer e Christiane Torloni
Reprodução / Globo

Mas não só isso. A Globo dá preferência à obra de Maneco como uma maneira de driblar a armadilha que criou para si mesma. Isso porque o canal, agora, tem duas faixas de reprises de novelas, o que acaba por reduzir as opções em cada uma delas.

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Clássicos que valem a pena

O Clone

A Globo vem mudando o critério de seleção das obras que reprisa no Vale a Pena Ver de Novo. Num passado não muito distante, a faixa de reprises sempre privilegiava novelas não muito antigas. Normalmente, voltavam ao ar tramas que haviam sido exibidas entre dois e cinco anos.

Mas isso mudou. O Rei do Gado foi ao ar pela primeira vez há 26 anos. Sua antecessora, A Favorita, foi produzida há 15. Antes, foram ao ar tramas como O Clone (2001, foto acima), Ti Ti Ti (2010) e Laços de Família (2000). A mais recente foi Ti Ti Ti, que nem é tão recente assim, pois foi feita há mais de dez anos. As demais já têm mais de 20 anos.

Ou seja, a Globo tem priorizado clássicos dos anos 1990 e 2000. Com isso, reprises de reprises têm se tornado constantes, tendo em vista que todos os grandes sucessos deste período já haviam sido exibidos anteriormente.

É uma mudança de critério importante. O canal não leva mais em consideração se um título está desgastado ou não, mas sim seu sucesso original e o potencial que determinada obra possui para repetir o êxito. Mulheres Apaixonadas, assim como O Rei do Gado, se enquadra nestes novos critérios.

Armadilha

Tititi - Alexandre Borges, Luís Gustavo e Murilo Benício
Divulgação / Globo

Além disso, o fato de a Globo ter reservado a faixa das 14h40 para exibir edições especiais de novelas também ajuda a esvaziar o Vale a Pena Ver de Novo. No início da tarde, o canal vem dando preferências a clássicos das seis ou das sete, fazendo com que a faixa das 17h fique reservada aos sucessos do horário nobre.

Ti Ti Ti (foto acima), portanto, foi uma exceção recente no Vale a Pena Ver de Novo, que se especializou em repetecos de tramas das oito/nove. Esse é mais um motivo pelo qual a Globo tem dado preferência a novelas mais antigas, já que não são muitos os sucessos recentes da faixa nobre.

Quem “imperou” no horário das nove nos últimos anos foi Walcyr Carrasco, com Amor à Vida (2013), O Outro Lado do Paraíso (2017) e A Dona do Pedaço (2019). No entanto, o autor já está no ar com Terra e Paixão e a reprise de Chocolate com Pimenta (2003).

Maneco “salvador”

Mulheres Apaixonadas - Christiane Torloni, Giulia Gam e Maria Padilha
Renato Rocha Miranda / Globo

Das novelas das nove relativamente antigas, as tramas assinadas por Manoel Carlos figuram entre as opções mais “seguras” que a Globo possui para uma reprise no fim de tarde. Isso porque os folhetins do autor costumam funcionar muito bem no horário.

As reprises recentes de Por Amor (1997) e Laços de Família (2000) indicam isso. O estilo “bossa nova” de Maneco, com histórias que narram conflitos familiares em tom de crônica cotidiana, casam perfeitamente com o horário do Vale a Pena Ver de Novo.

Sendo assim, Mulheres Apaixonadas (foto acima) surge como uma opção até óbvia para dar sequência ao sucesso de O Rei do Gado no Vale a Pena Ver de Novo. Mesmo aposentado, Manoel Carlos segue sendo uma figura importante na programação da Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor