No ano passado, Mulheres Apaixonadas (2003) bateu na trave do Vale a Pena Ver de Novo. Diante do êxito de Pantanal às nove, a Globo optou pela terceira reapresentação de O Rei do Gado (1996) – do mesmo Benedito Ruy Barbosa que concebeu a saga dos Leôncio e dos Marruá.

Mulheres Apaixonadas - Lavínia Vlasak e Nicola Siri
Gianne Carvalho / Globo

Contudo, a novela de Manoel Carlos, encabeçada pela Helena de Christiane Torloni, segue entre as apostas da web para a sessão de reprises, sendo a principal cotada.

A primeira passagem de Mulheres Apaixonadas pelo ‘Vale a Pena’ foi marcada pelo temor com relação à Classificação Indicativa, que condicionava a recomendação etária à faixa de exibição. Se a trama fosse considerada imprópria para menores de 12 anos, por exemplo, a Globo teria de transmiti-la após às oito.

Os cortes necessários para a adequação do folhetim incomodaram o autor, que, de acordo com matérias de jornais da época, não acompanhou o repeteco.

Manobra

Mulheres Apaixonadas - Christiane Torloni, Giulia Gam e Maria Padilha
Renato Rocha Miranda / Globo

Em 2005, enquanto o Vale a Pena Ver de Novo reapresentava Laços de Família (2000), também de Manoel Carlos, o Ministério Público Federal (MPF) determinou que novelas reclassificadas durante a exibição original só poderiam ser liberadas para a faixa vespertina após a reedição completa – todas cortadas antes de irem ao ar.

A Globo então passou a apostar apenas em tramas das seis e das sete, evitando gastar tempo (e dinheiro) com a edição de um folhetim sem a certeza de que o mesmo seria liberado para o ‘Vale a Pena’.

Em 2008, a emissora recorreu a uma mudança na Classificação Indicativa, que previa a liberação de uma obra mediante assinatura de um termo de compromisso. Assim, a história de Helena e companhia pode voltar ao vídeo. Contudo, a alteração previa apenas liberação de produções classificadas por sinopse e não “reclassificadas”, como ‘Mulheres’.

Olho aberto

Mulheres Apaixonadas - Vanessa Gerbelli
Renato Rocha Miranda / Globo

Enquanto veiculada às nove, Mulheres Apaixonadas passou de não recomendada para menores de 12 anos para imprópria para menores de 14 anos. O MPF considerou cenas de “erotismo, violência e temática complexa”.

A narrativa acompanhava, além de Helena e sua crise conjugal, as investidas de Estela (Lavínia Vlasak) sobre um padre, o caso extraconjugal de Sílvia (Natália do Vale) com um taxista, a violência doméstica a qual Raquel (Helena Ranaldi) era submetida, a dependência de álcool de Santana (Vera Holtz), as agressões de Dóris (Regiane Alves) contra os avós e a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), vítima de bala perdida.

Diante deste quadro, a procuradora da República Márcia Morgado solicitou o monitoramento integral da reprise, conforme noticiado pelo jornal Folha de São Paulo, de 4 de setembro de 2008.

Incômodo

Manoel Carlos
João Miguel Júnior / Globo

Mulheres Apaixonadas passou pelo Vale a Pena Ver de Novo sem maiores problemas. Os 203 capítulos originais foram condensados em 130. Entre os espectadores, porém, uma ausência sentida: a de Manoel Carlos.

De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, de 10 de setembro de 2008, o autor se recusava a acompanhar a novela por conta da edição. A colunista Keila Jimenez afirmou que ele estava chateado com a Globo por não ter sido consultado sobre os cortes.

O temor de Maneco quanto à reedição vinha de experiências anteriores. Felicidade (1991), mesmo sendo exibida originalmente às seis, foi mutilada durante a reapresentação, com 203 capítulos comprimidos em apenas 55.

Durante o repeteco de Laços de Família, o novelista expôs, ao Estadão, o incômodo com a tesoura do ‘Vale a Pena’.

“Isso me incomoda, e muito, mas todas elas passam por essa edição, não tem escapatória. Não pude ainda ver nenhum capítulo da reprise, mas me contaram que está tudo correndo bem, que nem se nota qualquer alteração. Mas é claro que, se assistir, vou perceber mudanças, por mínimas que sejam”, lamentou.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.