Nilson Xavier

Semana #17

Lícia Manzo criou um protagonista que é o antagonista de sua história. Impossível torcer por Christian/Renato.

Um Lugar ao Sol

A trajetória do personagem iniciou-se com motivações promissoras e pretensões de crítica social: até onde vão o caráter, a moral, a ética e os princípios quando a pessoa já nasce sem oportunidades, ou quando as oportunidades lhe são negadas.

É uma ideia que rendeu livros, filmes e outras novelas. A autora citou, nessa semana, Jean Valjean, de “Os Miseráveis“, praticamente comparando a trajetória de Christian/Renato à do personagem de Victor Hugo.

Um Lugar ao Sol

Anti-herói ou vilão?

Um Lugar ao Sol

Ao longo de quatro meses de novela, a ânsia de Renato pelo poder tornou-o o grande vilão da história.

De nada adianta uma música bonita (“Outra Vez“) para embalar cenas românticas com Lara. Não combina, não orna, não fecha. Porque espera-se exatamente o contrário, que Lara afaste-se desse “boy lixo“.

Também falta ao personagem o carisma de todo herói e anti-herói, personagem dúbio ou perfeito de caráter. Até para ser vilão é necessário um mínimo de carisma. É o que gera a empatia, a simbiose e a torcida do público.

Um Lugar ao Sol

Por extensão, atribuo ao “protagonista sem torcida” uma das causas da baixa aceitação da novela. Isso é muito mais uma escolha da autora do que uma incompatibilidade do ator com o personagem.

Culpa e castigo

Um Lugar ao Sol

Na comparação com Jean Valjean, talvez a autora pretendesse atribuir ao público o papel de Javert, o contraponto moral do herói de Victor Hugo.

Independentemente de qualquer boa ação que Renato possa ter, estamos nós, tal qual o antagonista de Valjean, julgando e condenando, culpando e atribuindo punição ao personagem de Cauã Reymond.

A virada de Renato (motivada pela morte de Túlio) marca mais um ponto de inflexão na trama de Lícia Manzo. A três semanas do término da novela, não se vislumbra redenção para o protagonista. Será que Ravi – o seu Grilo Falante – ainda tem alguma chance de salvar sua alma atormentada?

Se ao menos Christian/Renato parasse de atormentar Lara, Bárbara e o próprio Ravi, já seria um bom desfecho.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor